18 agosto, 2014

Elas, as imagens










por Denise Queiroz

Durante um curso de especialização em jornalismo que fiz nos 90, uma das disciplinas que gerou ensaio era sobre literatura e jornalismo. Analisava-se o uso, benefícios e prejuízos para o profissional e para o leitor, dos recursos da literatura no jornalismo. Comecei o trabalho usando o exemplo da frase:  ‘o presidente fechou o guarda-chuvas’ e colocava algumas situações em que ela poderia estar. Se numa legenda de foto na capa de um jornal uma conotação, factual, por necessidade do ofício. Se no início de uma novela ou romance, a que o escritor quisesse, conseguisse.

Lembrei dela agora porque não param de pipocar nas redes, desde ontem, posts onde uma foto – e o tempo de uma foto quase todos sabem que é um tempo ínfimo na vida de qualquer pessoa, mais ínfimo ainda torna-se no das pessoas públicas – é usada para tentar passar aos incautos a ideia de que a possível candidata Marina Silva não é digna de dirigir a república, pois a flagraram sorrindo durante o velório  do Eduardo Campos.

Tenho várias razões para não votar na Marina, muito semelhantes às que tenho para não votar em outros e outras, mas obviamente a decisão não se baseia numa fração de segundo da vida de nenhuma delas.

Nestes tempos em que a famosa frase de Glauber Rocha “uma câmera na mão, uma ideia na cabeça” deixou de ser uma possibilidade sonhada, quando cada um é capaz de produzir seu conteúdo e passar sua mensagem através de um aparelho que cabe na palma da mão, a distinção a ser feita entre os bons e maus comunicadores é a mesma de sempre: quem contextualiza e procura abordar os vários sempre existentes ângulos de qualquer fato e os que agem movidos pela tentativa de disseminar e impor seu ponto de vista. 


Aos últimos minha lástima. Estão mal utilizando seu tempo, seu conhecimento, sua auto-função como propositores do ‘fazer diferença’ neste vasto e cada vez mais aberto, mundo da comunicação. E um recado: as palavras e conteúdos de seus posts, se eles não pretendem ser um romance, podem fazer mais estragos na sua imagem do que a foto de uma pessoa pública. O momento da foto, aliás, foi explicado ontem, por um dos clicados

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