08 outubro, 2014

A possibilidade real de retrocesso

por Denise Queiroz

No primeiro turno a grande vedete foi a propaganda (a meu ver uma das peças mais falaciosas que o marketing político já produziu) de que a independência do Banco Central tiraria a comida dos pratos das crianças. O efeito disso foi trágico para a política brasileira. Perdeu-se a enorme oportunidade de discutir e ajudar a formar consciência crítica sobre questões relevantes para o país. O bom é que essa pólvora já foi gasta pelo ‘gênio’ estrategista da coligação PT-PMDB-PP-PRB (e um sem fim de partidos que elegeram seus representantes retrógrados para o congresso) e agora seremos poupados de tal ignomínia. Mas o estrago feito, avaliam estudiosos da política, levará muito tempo para ser revertido.

“Agora a campanha será propositiva", declarou algum dos cartolões petistas. O que se proporá? Lembremos muito que a vedete falaciosa atribuía a um presidente o poder para acabar, de uma canetaço (risos), com as conquistas sociais destes últimos anos. Como se tal poder estivesse, num país que vive regido por uma Constituição e com poderes definidos, nas mãos de uma única autoridade eleita. Agora vão esclarecer que o presidente sozinho faz quase nada? Seria bom! Pelo menos parte do enorme erro do primeiro turno poderia ser parcialmente mitigado.

A questão é: a despolitização da campanha do primeiro turno elegeu um congresso absolutamente na contramão para o aperfeiçoamento necessário de nossa democracia. Diante dessa realidade incontestável, que tipo de proposta qualquer um dos candidatos pode fazer que signifique avanço e mínimo atendimento do enorme cardápio de demandas? Podem fazer todas as que quiserem, quando chegar ao congresso, não passarão.


Nos próximos quatro anos as possibilidades dos necessários avanços, em todas as áreas que não digam respeito ao capital e patrocinadores de campanhas, estarão no freezer. Temos uma crise econômica para enfrentar e resolver. Os dois postulantes são economistas, logo supõe-se que alguma fórmula adotarão. E politicamente sabem dos riscos, para si próprios e seus partidos, caso essa fórmula signifique sacrifícios que aprendemos a rejeitar. Quando os depoimentos do ex-diretor da Petrobrás e dos doleiros, presos na operação lava-jato e que fizeram acordo, vierem à público, haverá sim crise institucional. A coisa vai ficar muito feia para figuras que desde sempre e até hoje exercem cargos importantes nas instituições.  A justiça vai na contramão das políticas que buscam diminuição das desigualdades - a auto concessão de um auxílio moradia mensal de R$ 4.300,00, valor que significa a compra e quitação de um apartamento do minha casa minha vida em um ano e meio - evidencia isso mais que tudo. 

Diante desse quadro nada entusiasmante, o mais apropriado me parece ser começar a fortalecer as pernas, comprar um par de tênis confortável, fazer estoque de vinagre, cartolina e pilot. O único caminho que nos resta para aperfeiçoar a democracia e evitar cada uma das ameaças de retrocessos - e desculpem os crédulos nesse sistema eleitoral - será estar nas ruas.    

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