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16 fevereiro, 2012

O que fazer?


A agitação social na Rússia e os desafios da Esquerda Democrática










O que fazer? 
Subsídio à discussão sobre a pauta da esquerda russa neste momento de agitação social


Por Kirill Buketoff

Nos últimos meses, todos os grupos políticos da esquerda russa se esforçam para encontrar o seu lugar na conjuntura política atual, ao mesmo tempo que notam que o regime vigente se tornou obsoleto. Tentar se encontrar nele é um esforço em vão, pois em termos de curto prazo, a esquerda não possui nenhuma chance de vencer. Qualquer que seja o resultado da votação de 4 de março de 2012, a esquerda leva desvantagem. Este dia pode se tornar uma comemoração da oligarquia autoritária, dos nacionalistas desvairados, dos liberais extremistas, dos esquerdistas totalitaristas ortodoxos. O único grupo que antecipadamente está em desvantagem e, portanto, é obrigado a procurar o melhor caminho, é o grupo de Esquerda Democrática que não possui nem unidade organizacional, nem um programa único e nem líderes populares. Ao invés desta procura sem perspectiva e sem sentido, precisaríamos iniciar a construção de um novo sistema, no qual teríamos o nosso lugar.

Esta construção deve levar em consideração a nova realidade onde os partidos políticos perderam seu papel tradicional. A própria agitação social que estamos vivendo não está ligada de forma alguma à atividade partidária. Tanto os grupos parlamentares como não parlamentares assim como os seus líderes ficaram à margem deste grande movimento social, demonstrando que a influência de todos os grupos políticos sobre as massas populares é totalmente limitada. Portanto, tentar agir dentro desta lógica política significa condenar a si mesmos a ficar à beira da estrada da vida política nacional.

A agitação política que estamos vivendo não foi preparada pelos partidos políticos. Foi resultado de uma série de iniciativas civis surpreendentes, diferentes entre si pelo seu caráter, porém ligadas, como pode ser observado agora, por um sustentáculo – cada uma delas expressa uma determinada demanda social. Apenas alguns anos atrás o país estava numa depressão. Abolição dos últimos elementos das políticas públicas, da liberdade de expressão; assassinatos de jornalistas e advogados famosos; prisão de líderes sindicais e de defensores de direitos humanos; bandidos desvairados, fascistas, acobertados pela polícia; tudo isso criou um clima de tristeza profunda e medo de um novo super Estado monolítico que estava para vir. Surgiu uma sensação de que somente os mais corajosos, porém condenados e solitários, poderiam desafiá-lo. À esquerda restava fazer suas apostas e apoiar as iniciativas sociais e os sindicatos livres, os últimos bastiões que lutavam pelo direito de organização. De repente (como se fosse no mundo paralelo) surgiram alguns projetos que rapidamente ganharam a popularidade graças a um apelo claro ao sociedade e também a cada cidadão em particular, ao seu sentimento de auto estima.

A luta em defesa do bosque do Khimki (nos arredores de Moscou) reuniu todos aqueles que já estavam cansados de destruição da ecologia e de seu habitat. Sem pensar muito nas causas deste processo, as pessoas simplesmente foram defender seu direito de respirar o ar puro e não gás carbônico. O projeto RosPil (que luta contra a corrupção e o enriquecimento ilícito dos burocratas estatais) surpreendeu inicialmente por sua coragem e logo em seguida por envolver a todos com a ideia de fazer uma oposição aberta à corrupção. Grajdaninpoet (cidadão poeta, assim mesmo, uma só palavra com letras minúsculas) fez ressurgir a capacidade o povo em ridicularizar os tiranos. Os Baldes azuis e o grupo Guerra demonstraram que é possível e necessário lutar pelo seu espaço tanto na estrada, como na arte.

Podemos compartilhar ou não os motivos políticos (ou sua falta) que levaram seus autores e organizadores a realizar tais projetos. Porém, temos que aceitar que cada um deles foi apresentado de uma forma simples e clara à população. Por isso, tiveram retorno, despertando em uma grande quantidade de pessoas, se não o apoio explícito, ao menos a simpatia a seus objetivos. Foi por isso que foram eles, os movimentos, e não os líderes dos partidos desacreditados, que estavam no palanque dos comícios em dezembro de 2011 e em fevereiro de 2012.

Menos conhecidos do grande público, mas extremamente importantes são os movimentos 19 de Janeiro, que desafiou a mais nojenta de todas as crias do Estado, a escória fascista, e o MPRA – Sindicato Interregional dos Trabalhadores na Indústria Automobilística, que deu exemplo de auto-organização e se opôs, nas fábricas de empresas transnacionais, aos empresários apoiados pelos serviços secretos.

Foram estas as iniciativas civis e similares, e não os partidos políticos, que prepararam o agitação social. O clima de protesto foi bem estimulado por eles, mas esquentou mesmo e saiu das redes sociais na internet para as ruas depois do dia 4 de dezembro. Por trás da palavra de ordem “Eleições honestas” está não apenas a mágoa pela fraude na contagem de votos. Estão os desejos de qualquer pessoa normal: viver num país onde o ser humano possa se sentir seguro, protegido contra a violência das ruas, da extorsão e do abuso policial e burocrático, da onipotência dos serviços secretos, onde ela e seus filhos sejam respeitados e tratados como seres humanos, terem acesso à saúde de qualidade, à educação gratuita e respeito ao seu trabalho. Foram estes valores, tradicionais para a social-democracia, que fez a sociedade civil se conscientizar sobre a reivindicações pela quais se deve lutar. Foi isso que, em primeiro lugar, empurrou centenas de milhares de pessoas às ruas.

As pesquisas de opinião pública e a análise dos dados pessoais dos participantes das ações de protesto nas redes sociais demonstram que aproximadamente 10% deles definem suas posições políticas como sendo de esquerda não-totalitária . Isso significa que os socialistas democráticos (finalmente) acharam sua base social! Porém, é cedo para comemorar o fato. Temos pela frente a luta contra os nacionais-populistas e os stalinistas-populistas, a luta pelas almas e pelas mentes da parte ativa da sociedade. Nesta luta estamos em condições pouco favoráveis, sem um programa político claro e nem organização para tanto.

Portanto, a tarefa número um da Esquerda Democrática é iniciar a elaboração de um programa que possa atender às mais amplas expectativas sociais, juntando todas as iniciativas da sociedade civil interessadas nesse trabalho, dando aos Sindicatos Democráticos e Livres o papel principal no processo de formação de um amplo movimento dos trabalhadores. Esta deve ser prioridade fundamental dosEsquedistas Democráticos.

Isto representará o passo inicial de construção coletiva de uma nova conjuntura política dentro da qual a classe operária e todos os trabalhadores terão a oportunidade de ter voz e serem ouvidos.

15 outubro, 2011

A transição dependerá das escolhas de agora


Dica do @Cidoli
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O tempo em que podemos mudar o mundo

Immanuel Wallerstein, provocador: capitalismo está condenado: resta saber quê irá substituí-lo. Transição não será apocalíptica: dependerá das escolhas que fizermos agora

Entrevista a Sophie Shevardnadze | Tradução: Daniela Frabasile

A entrevista durou pouco mais de onze minutos, mas alimentará horas de debates em todo o mundo e certamente ajudará a enxergar melhor o período tormentoso que vivemos. Aos 81 anos, o sociólogo estadunidense Immanuel Wallerstein, acredita que o capitalismo chegou ao fim da linha: já não pode mais sobreviver como sistema. Mas – e aqui começam as provocações – o que surgirá em seu lugar pode ser melhor (mais igualitário e democrático) ou pior (mais polarizado e explorador) do que temos hoje em dia.

Estamos, pensa este professor da Universidade de Yale e personagem assíduo dos Fóruns Sociais Mundiais, em meio a uma bifurcação, um momento histórico único nos últimos 500 anos. Ao contrário do que pensava Karl Marx, o sistema não sucumbirá num ato heróico. Desabará sobre suas próprias contradições. Mas atenção: diferente de certos críticos do filósofo alemão, Wallerstein não está sugerindo que as ações humanas são irrelevantes.

Ao contrário: para ele, vivemos o momento preciso em que as ações coletivas, e mesmo individuais, podem causar impactos decisivos sobre o destino comum da humanidade e do planeta. Ou seja, nossas escolhas realmente importam. “Quando o sistema está estável, é relativamente determinista. Mas, quando passa por crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante.”


Maio de 68
É no emblemático 1968, referência e inspiração de tantas iniciativas contemporâneas, que Wallerstein situa o início da bifurcação. Lá teria se quebrado “a ilusão liberal que governava o sistema-mundo”. Abertura de um período em que o sistema hegemônico começa a declinar e o futuro abre-se a rumos muito distintos, as revoltas daquele ano seriam, na opinião do sociólogo, o fato mais potente do século passado – superiores, por exemplo, à revolução soviética de 1917 ou a 1945, quando os EUA emergiram com grande poder mundial. 

As declarações foram colhidas no dia 4 de outubro pela jornalista Sophie Shevardnadze, que conduz o programa Interview na emissora de televisão russa RT.  
A transcrição e a tradução para o português são iniciativas de Outras Palavras 






Há exatamente dois anos, você disse ao RT que o colapso real da economia ainda demoraria alguns anos. Esse colapso está acontecendo agora? 

Não, ainda vai demorar um ano ou dois, mas está claro que essa quebra está chegando.

Quem está em maiores apuros: Os Estados Unidos, a União Europeia ou o mundo todo?

Na verdade, o mundo todo vive problemas. Os Estados Unidos e União Europeia, claramente. Mas também acredito que os chamados países emergentes, ou em desenvolvimento – Brasil, Índia, China – também enfrentarão dificuldades. Não vejo ninguém em situação tranquila.

Você está dizendo que o sistema financeiro está claramente quebrado. O que há de errado com o capitalismo contemporâneo?

Essa é uma história muito longa. Na minha visão, o capitalismo chegou ao fim da linha e já não pode sobreviver como sistema. A crise estrutural que atravessamos começou há bastante tempo. Segundo meu ponto de vista, por volta dos anos 1970 – e ainda vai durar mais uns vinte, trinta ou quarenta anos. Não é uma crise de um ano, ou de curta duração: é o grande desabamento de um sistema. Estamos num momento de transição. Na verdade, na luta política que acontece no mundo — que a maioria das pessoas se recusa a reconhecer — não está em questão se o capitalismo sobreviverá ou não, mas o que irá sucedê-lo. E é claro: podem existir dois pontos de vista extremamente diferentes sobre o que deve tomar o lugar do capitalismo.

Qual a sua visão?

Eu gostaria de um sistema relativamente mais democrático, mais relativamente igualitário e moral. Essa é uma visão, nós nunca tivemos isso na história do mundo – mas é possível. A outra visão é de um sistema desigual, polarizado e explorador. O capitalismo já é assim, mas pode advir um sistema muito pior que ele. É como vejo a luta política que vivemos. Tecnicamente, significa é uma bifurcação de um sistema.


Desconstrução

Então, a bifurcação do sistema capitalista está diretamente ligada aos caos econômico?



Sim, as raízes da crise são, de muitas maneiras, a incapacidade de reproduzir o princípio básico do capitalismo, que é a acumulação sistemática de capital. Esse é o ponto central do capitalismo como um sistema, e funcionou perfeitamente bem por 500 anos. Foi um sistema muito bem sucedido no que se propõe a fazer. Mas se desfez, como acontece com todos os sistemas.

Esses tremores econômicos, políticos e sociais são perigosos? Quais são os prós e contras?

Se você pergunta se os tremores são perigosos para você e para mim, então a resposta é sim, eles são extremamente perigosos para nós. Na verdade, num dos livros que escrevi, chamei-os de “inferno na terra”. É um período no qual quase tudo é relativamente imprevisível a curto prazo – e as pessoas não podem conviver com o imprevisível a curto prazo. Podemos nos ajustar ao imprevisível no longo prazo, mas não com a incerteza sobre o que vai acontecer no dia seguinte ou no ano seguinte. Você não sabe o que fazer, e é basicamente o que estamos vendo no mundo da economia hoje. É uma paralisia, pois ninguém está investindo, já que ninguém sabe se daqui a um ano ou dois vai ter esse dinheiro de volta. Quem não tem certeza de que em três anos vai receber seu dinheiro, não investe – mas não investir torna a situação ainda pior. As pessoas não sentem que têm muitas opções, e estão certas, as opções são escassas.

Então, estamos nesse processo de abalos, e não existem prós ou contras, não temos opção, a não ser estar nesse processo. Você vê uma saída?

Sim! O que acontece numa bifurcação é que, em algum momento, pendemos para um dos lados, e voltamos a uma situação relativamente estável. Quando a crise acabar, estaremos em um novo sistema, que não sabemos qual será. É uma situação muito otimista no sentido de que, na situação em que nos encontramos, o que eu e você fizermos realmente importa. Isso não acontece quando vivemos num sistema que funciona perfeitamente bem. Nesse caso, investimos uma quantidade imensa de energia e, no fim, tudo volta a ser o que era antes. Um pequeno exemplo. Estamos na Rússia. Aqui aconteceu uma coisa chamada Revolução Russa, em 1917. Foi um enorme esforço social, um número incrível de pessoas colocou muita energia nisso. Fizeram coisas incríveis, mas no final, onde está a Rússia, em relação ao lugar que ocupava em 1917? Em muitos aspectos, está de volta ao mesmo lugar, ou mudou muito pouco. A mesma coisa poderia ser dita sobre a Revolução Francesa. 

O que isso diz sobre a importância das escolhas pessoais?

A situação muda quando você está em uma crise estrutural. Se, normalmente, muito esforço se traduz em pouca mudança, nessas situações raras um pequeno esforço traz um conjunto enorme de mudanças – porque o sistema, agora, está muito instável e volátil. Qualquer esforço leva a uma ou outra direção. Às vezes, digo que essa é a “historização” da velha distinção filosófica entre determinismo e livre-arbítrio. Quando o sistema está relativamente estável, é relativamente determinista, com pouco espaço para o livre-arbítrio. Mas, quando está instável, passando por uma crise estrutural, o livre-arbítrio torna-se importante. As ações de cada um realmente importam, de uma maneira que não se viu nos últimos 500 anos. Esse é meu argumento básico.



Karl Marx
Você sempre apontou Karl Marx como uma de suas maiores influências. Você acredita que ele ainda seja tão relevante no século 21?

Bem, Karl Marx foi um grande pensador no século 19. Ele teve todas as virtudes, com suas ideias e percepções, e todas as limitações, por ser um homem do século 19. Uma de suas grandes limitações é que ele era um economista clássico demais, e era determinista demais. Ele viu que os sistemas tinham um fim, mas achou que esse fim se dava como resultado de um processo de revolução. Eu estou sugerindo que o fim é reflexo de contradições internas. Todos somos prisioneiros de nosso tempo, disso não há dúvidas. Marx foi um prisioneiro do fato de ter sido um pensador do século 19; eu sou prisioneiro do fato de ser um pensador do século 20.

Do século 21, agora.


É, mas eu nasci em 1930, eu vivi 70 anos no século 20, eu sinto que sou um produto do século 20. Isso provavelmente se revela como limitação no meu próprio pensamento.

Quanto – e de que maneiras – esses dois séculos se diferem? Eles são realmente tão diferentes?

Eu acredito que sim. Acredito que o ponto de virada deu-se por volta de 1970. Primeiro, pela revolução mundial de 1968, que não foi um evento sem importância. Na verdade, eu o considero o evento mais significantes do século 20. Mais importante que a Revolução Russa e mais importante que os Estados Unidos terem se tornado o poder hegemônico, em 1945. Porque 1968 quebrou a ilusão liberal que governava o sistema mundial e anunciou a bifurcação que viria. Vivemos, desde então, na esteira de 1968, em todo o mundo.

Você disse que vivemos a retomada de 68 desde que a revolução aconteceu. As pessoas às vezes dizem que o mundo ficou mais valente nas últimas duas décadas. O mundo ficou mais violento?

Eu acho que as pessoas sentem um desconforto, embora ele talvez não corresponda à realidade. Não há dúvidas de que as pessoas estavam relativamente tranquilas quanto à violência em 1950 ou 1960. Hoje, elas têm medo e, em muitos sentidos, têm o direito de sentir medo.

Você acredita que, com todo o progresso tecnológico, e com o fato de gostarmos de pensar que somos mais civilizados, não haverá mais guerras? O que isso diz sobre a natureza humana?

Significa que as pessoas estão prontas para serem violentas em muitas circunstâncias. Somos mais civilizados? Eu não sei. Esse é um conceito dúbio, primeiro porque o civilizado causa mais problemas que o não civilizado; os civilizados tentam destruir os bárbaros, não são os bárbaros que tentam destruir os civilizados. Os civilizados definem os bárbaros: os outros são bárbaros; nós, os civilizados.

É isso que vemos hoje? O Ocidente tentando ensinar os bárbaros de todo o mundo? 

É o que vemos há 500 anos.


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