30 setembro, 2011

Bolívia: suspensão da obra será suficiente?


O governo boliviano decidiu suspender temporariamente a construção da rodovia que gerou os conflitos de domingo, quando cerca de 100 policiais reprimiram com violência o povo Tipni, que protestava contra o traçado da estrada que, originalmente, dividiria o seu território o Parque Nacional Isiboro Sécure. A promessa de Evo Morales é de negociaçar com os povos dos territórios que seriam afetados pela obra e de um referendo para definir a nova rota.

Também foi confirmado o convite à Corte Interamericana de Direitos Humanos e a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) para integrar a comissão que vai investigar a violência contra aproximadamente mil e quinhentos manifestantes, que caminham desde 15 de Agosto rumo a La Paz.

A violenta repressão ocorreu depois que o chanceler boliviano, David Choquehuanca, teria sido obrigado a caminhar, no sábado, por mais de uma hora com os índios. O episodio causou uma onda de manifestações contra o presidente Evo Morales e desatou uma crise em seu gabinete.  A ministra da Defesa Cecilia Chacón pediu demissão segunda-feira e criticou o uso da violência. Na terça, foi a vez do ministro do Interior, Sacha Llorenti, que, ao anunciar a demissão, responsabilizou pela violência o seu vice, Marcos Farfán. Este negou seu envolvimento e também se demitiu.

O vice-presidente Álvaro García Linera disse que o governo já sabe quem foi o responsável pela ordem para atacar os manifestantes, mas vai esperar pela investigação da comissão. Ele também  denunciou meios de comunicação que mentiram ao noticiar alguns excessos que não teriam havido. 

O presidente Evo Morales, ao empossar os novos ministros, na terça à noite,  pediu desculpas pelos flagrantes excessos  e garantiu que a ordem para reprimir não partiu do governo. "Quero que saibam: não houve nenhuma instrução nem jamais pensamos que poderia ocorrer dessa maneira. Dói bastante, como vítimas que fomos, em muitas oportunidades, da repressão da forças públicas". 

Mas nem o pedido de desculpas do presidente, nem a denúncia de manipulação da mídia foram suficientes para acalmar os ânimos dos Tipnis, que ontem à noite retomaram a marcha rumo à La Paz denunciando que três membros do grupo continuam desaparecidos. Eles agora contam com o apoio de estudantes universitários e outras organizações que se solidarizam com os indígenas. E a poderosa COB, central Operária da Bolívia, até pouco tempo aliada do governo, promete juntar-se aos protestos contra a rodovia e ameaça greve geral, caso o acordo salarial feito em abril não seja cumprido.


Segundo as agências  Efe e Reuters, pesquisas já indicam a queda de popularidade de Evo, reeleito em 2009 com 64% dos votos. Segundo sondagem do instituto Ipsos Apoyo, divulgada antes do ataque contra a marcha indígena, o índice de aprovação tinha caído para 37% - o segundo menor desde o início do ano. Em fevereiro, chegou a 32% depois dos protestos contra o aumento do preço da gasolina. A reprovação do presidente é de 51%.
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A estrada que  atravessa o Parque Nacional Isiboro-Secure, está sendo construída pela brasileira OAS. A previsão é que a rodovia tenha 300 quilômetros e custe US$ 420 milhões (R$ 756 milhões). A obra conta com a cooperação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para o financiamento de compra de materiais, bens e serviços. A Oas descartou qualquer tipo de impacto econômico caso haja um acordo para uma pequena mudança no traçado inicial da segunda parte, compreendida entre Villa Tunari e Santo Inácio de Moxos, que uniria os departamentos de Cochabamba e Beni.


Tecido por Denise Queiroz com ajuda na pesquisa de Sergio Pecci


FontesDiário Liberdade,  Estadão, TelesurTV Página 12 , Fundación Tierra,  Jornal Corporativo

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