27 junho, 2012

Essa democracia está com problemas muito sérios



As revoltas populares no Oriente "foram muito contagiosas". Esta é uma das afirmações do programa número 10 da série "Diálogos com Assange" que a RT divulgou dia 26 de junho. No episódio, o fundador da Wikilieaks conversa com o filósofo, linguista e ativista norteamericano Noam Chomsky e com o historiador, escritor e cineasta Tarik Ali.

Eles analisam o contexto, o desenvolvimento e as possíveis conseqüências da onda mundial de protestos inciada com a Primavera Árabe e revelam suas impressões sobre o sistema de controle do planeta. 


Assista ao vídeo na íntegra, dublado em espanhol ou leia, logo abaixo uma síntese, traduzida para o português*.






O fator surpresa do movimento

"A velocidade e a magnitude dos protestos realmente pegou a todo mundo de surpresa", ressaltou Ali. O historiador está convencido de que, caso houvessem sido previstos, os governos teriam aplicado "mecanismos radicais" para detê-los. "Teriam tentado conter o povo, dispersar (o movimento) torturar, colocar todos na cadeia".

Ali Afirma que a primavera árabe foi muito contagiosa, e acentua a relevância dessas revoltas populares terem surgido "numa parte do mundo em que os comentaristas diziam que ali as pessoas não estavam interessadas na democracia", e que os "muçulmanos são geneticamente hostis à democracia". 

Mas, como tudo aconteceu rapidamente, os Estados Unidos e as outras potências ocidentais nada puderam deter, diz o historiador, lembrando.  que os protestos se estenderam a outras partes do mundo, inclusive aos Estados Unidos, com o movimento #occupy e à Russia. Ele ressalta que a Primavera Árabe continua sendo contagiosa de diferentes formas.

Chomsky concorda com Ali e lembra que os acontecimentos no Egito são muito significativos e profundos. Aconteceu por que "no Egito havia gente preparada para os protestos e, para muitos, era uma possibilidade de começar a fazer alguma coisa”, lembrando o movimento de Abril de 2008. 



Os dois concordam que a invasão à Líbia foi uma tentativa ocidental de restabelecer o controle da região, e consideram importante ressaltar que, nos países produtores de petróleo do Golfo Pérsico, antigos e fiéis aliados dos Estados Unidos como a Arábia Saudita, Emirados Árabes e Kuait, "nunca brotou nada parecido".

"Essas nações estão sob um controle ferrenho", afirma Chomsky, sublinhando que o ocidente tem "um plano de jogo para quando alguns de seus ditadores favoritos percam a capacidade de governar". “Nesta situação, o que fazem é apoiá-los até o último minuto e, quando não é mais possível apoiá-los, o exército se volta contra eles. “Mais tarde conseguem que uma classe intelectual faça declarações veementes sobre a democracia e com isso tentam instaurar o antigo sistema, na medida do possível".

A democracia está com problemas muito sérios

Vemos a democracia cada vez mais despida de conteúdo, é uma casca vazia, sublinha Tariq Ali. "O que faz com que os jovens se afastem, fiquem descrentes e desesperançosos, e acabem pensando que "não importa o que façamos, não importa pelo que votemos, isso não mudará".

"Desse pensamento saem os protestos. Somos testemunhas de um ataque às liberdades civis que afeta a democracia", afirma o historiador, recorrendo ao exemplo de uma lei assinada por Obama, que outorga ao presidente norte-americano o direito de autorizar o assassinato de um cidadão "sem recorrer à lei nenhuma".

Segundo Ali, a grande lição dessas revoltas consiste em que o povo, a massa, se deu conta de que "para fazer mudanças é necessário mobilizar-se e ser ativos".

América do Sul é exemplo de novos modelos 

Noam Chomsky ressalta que são as forças populares, preocupadas com sua sociedade, as que têm que criar seus próprios modelos. Isso, segundo ele, já está ocorrendo na América do Sul, e cita o exemplo da Bolívia, onde "a parte mais reprimida do hemisfério, a população indígena, hoje atua no âmbito político". Ele afirma que os mesmos processos estão ocorrendo no Equador e, até certo ponto, no Peru. E  sugere que o ocidente adote modelos políticos como estes rapidamente, antes de autodestruir-se e acabar! 


Nessa linha destaca "o importante avanço até a independência e a integração" que a o continente sul americano conseguiu, pela primeira vez, desde que os conquistadores europeus chegaram ao continente. Ele lembra o fato das instalações militares americanas terem sido retiradas do continente e considera que, só isso já “é um fenômeno que diz muito".

Tariq ratifica as palavras de Chomsky, e assinala que "as mudanças mais significativas das últimas décadas são provenientes da América do Sul, e o ambiente político em países como a Venezuela, Bolívia e Brasil, é completamente distinto do de outras épocas. Nestes países, muita gente diz : "pela primeira vez nos sentimos independentes de verdade".



Não se entreguem, acreditem, mas questionem

Esse é o conselho universal que Tariq Ali dá aos jovens que querem mudar o sistema e são protagonistas dos movimentos de protesto em todo o mundo. Ele os incita a "serem ativos, pois, ninguém vai lhes servir nada na bandeja". "Sejam críticos com o sistema que nos domina e, se não for nesta, na geração seguinte, as coisas vão mudar".


* Versão para o português de Denise Queiroz 


Um comentário:

Web Analytics