17 abril, 2012

Teles: o retrato da inversão de valores

Quem já passou pelo insano caminho de ter que reclamar um valor debitado em conta  não devido e da demora na resposta e devolução dos mesmos, depois de horas perdidas com músicas insanas e atendentes quase sempre despreparados, talvez possa entender mais facilmente a razão desse lucro exorbitante. Além da péssima qualidade e dos (des) serviços caríssimos - em comparação simples com a Argentina, onde vivi 8 anos, o valor das ligações aqui chega a ser 4 vezes mais alto. E falo de ligações entre Argentina e celulares no Brasil. Uma chamada de 10 minutos de um fixo em Neuquén, Patagônia Argentina, para um celular no Rio Grande do Sul era, em 2007, quatro vezes mais barata que a mesma chamada feita do Rio Grande do Norte para o mesmo número celular no RS - temos de brigar com pobres atendentes, quase sempre despreparados, para poder rever alguns 8 a 20 reais debitados indevidamente. Faça a conta de quantos assinantes uma dessas 'operadoras' têm com conta em débito e de quantos se dão conta da cobrança indevida e de quantos se dão ao trabalho de reclamar...
Além disso, os planos vendidos como baratíssimos pelas operadoras, são armadilhas que a melhor raposa corre o risco de cair. Poucos desses oferecem a possibilidade de chamadas para outras operadoras. A pessoa contrata e começa a ligar. Se liga para outra operadora, tem os créditos do plano consumidos em minutos, e fica bloqueado para outras chamadas, obrigando-se a recarregar. Os R$ 30 do plano atrativíssimo viram, num dia, R$ 150,00 no final do mês. Acaba que famílias ou amigos, que se comunicam muito pelo celular, se veem obrigados a contratar a mesma operadora (que nem sempre é a melhor em sua área), para manter a relação... E por aí vai. 

Dica da @marandrea

Rogério Santanna: "As teles tem uma combinação extremamente desfavorável ao usuário. É o serviço mais caro do mundo. Pagamos o dobro da média mundial" | Foto: Ramiro Furquim/Sul21 


Novos dados revelam: oligopólio lucrou R$ 10 bi no ano passado. Governo poderia reativar a Telebrás, mas prefere oferecer subsídios a empresas que sequer atendem todo o território

Por Rachel Duarte, em Sul21

As operadoras de telecomunicações fixas e móveis que atuam no Brasil lucraram R$ 9,77 bilhões no ano passado, o que representa um crescimento de 8% em relação a 2010. Os dados foram divulgados pela empresa de consultoria Econométrica e demonstram que o ramo da teles está em quinto lugar em lucratividade no país, se excluídos os resultados da Petrobras e Vale do Rio Doce. Esta projeção ainda deverá aumentar no próximo período, já que o governo federal anunciou no começo de abril um programa de desoneração fiscal na ordem de R 3,8 bilhões para a construção de redes no Brasil. Com o hegemônico monopólio das operadoras de telecomunicações, a desoneração proposta pelo Ministério das Comunicações poderá não ser sinônimo de garantia de acesso e qualidade dos serviços.

A desoneração se aplica para os equipamentos comprados a cada ano. A expectativa do governo é que a medida deve antecipar em aproximadamente 40% o investimento anual das teles, que gira em torno de R$ 18 bilhões por ano.
Lucro das operadoras de telecomunicações no Brasil em 2011 cresceu 8% em relação a 2010

Na avaliação do especialista em Gerência em Engenharia de Software e ex-presidente da Telebras, Rogério Santanna, a política do governo Dilma Rousseff em priorizar a relação com as teles ao invés de fortalecer a Telebras é clara e lamentável. “Está barato construir rede no Brasil. Com a desoneração do governo os custos do backbone de banda larga diminuem, mas o desafio são os monopólios. Essa medida dificilmente repercutirá no preço aos usuários e ficaremos sustentando matrizes em crise, como é o caso da Telefônica”, defende.
Na demanda de infraestrutura de banda larga de qualidade as carências ainda são muitas e há regiões do país muito mal atendidas, como a região Norte. Mas, para uma infraestrutura adequada e a garantia de serviços de qualidade, o Plano Nacional de Banda Larga é defendido por Santanna como fundamental para estabelecer maior competitividade entre as operadoras e aumentar a participação da Telebras. “As teles tem uma combinação extremamente desfavorável ao usuário. É o serviço mais caro do mundo. Pagamos o dobro da média mundial. E a prova de que os serviços não são de qualidade é a liderança das operadoras nas reclamações dos consumidores”, compara.

De acordo com levantamento pela TeleSíntese, os valores das multas não pagas pelas operadoras à Anatel por processos aplicados em defesa dos consumidores chegam a superar o próprio lucro das empresas. A empresa OI, líder em reclamações no Procon, por exemplo, deve à Anatel R$ 4,5 bilhões em multas.

Controle de qualidade é questionável
Speedtest é obrigatório para todas as operadoras com mais de 50 mil clientes | Foto: Reprodução

Não bastassem os problemas ocasionados pela desalinhada relação entre lucro e serviço ofertado no mercado brasileiro de telecomunicações, desde fevereiro deste ano, as operadoras foram obrigadas a oferecer um aplicativo para medição da velocidade de acesso nas páginas que mantêm na internet. A determinação se alinha à obrigatoriedade de as operadoras de acesso à banda larga entregarem, em outubro deste ano, na média mensal, 60% da velocidade contratada. Em outubro de 2013, essa média deverá chegar a 70%, e a 80% um ano depois. Um avanço, para o devagar quase parando atual, com uma das mensalidades mais caras do mundo. E, no instante da medição, 20% do que foi adquirido (30% em 2013 e 40% em 2014).

A notícia seria uma medida considerada boa pelos consumidores, se não houvesse incerteza quanto à capacidade de o software escolhido pela Anatel, o SpeedTest, cumprir os requisitos propostos pela agência. “É estranha a posição da Anatel em homologar este teste, que avalia apenas dois parâmetros dos seis definidos por ela mesma. Mais estranho ainda é a Anatel anunciar a Price como aferidora, paga pela empresas e contrária aos padrões de qualidade da agência”, critica Rogério Santanna.

Um comentário:

  1. O único caminho para ser compensado pelo tratamento indigno é a abertura de processos nos Juizados Especiais, sem relevar nada: a cada "erro" das Companhias uma ação e pedido de dano moral. Dá um pouco de trabalho mas a gente se sente menos extorquido. Teresa Azevedo.

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