29 outubro, 2012

A grandeza da política

por Denise Queiroz
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Brizola, Lula, Osmar Santos e Franco Montoro em comício pelas Diretas-já (arquivo)

Ontem, depois de mais de 90% dos votos apurados e de muitas gargalhadas assistindo à cobertura da apuração na Globonews, entrou na minha timeline do tuíter um avatar desconhecido que fazia coro ao discurso corrente da velha mídia e da campanha tucana. Elegeram um partido de bandidos, mensaleiros, condenados, foram algumas das palavras. Obviamente, diante da felicidade de ver Haddad eleito em São Paulo e da vitória de um projeto ainda sendo aperfeiçoado, mas muito mais próximo das necessidades de inclusão da maior capital do país ao século 21, tratei o sujeito como trato a todos os que aparecem com essa retórica. Depois de algumas tuitadas, o sujeito finalmente revelou que não era do psdb, e sim do PSOL. Em gauchês, “me caiu os butiá do bolso”.

Conheci, alguns pessoalmente, vários dos fundadores do PT que depois saíram do partido e fundaram o PSOL. Entendo suas razões, e embora não concorde que a luta de fora seja mais construtiva que a de dentro, respeito alguns deles. E vejo como legítimo que se tente empreender uma forma de fazer política diferente à medida que uma agremiação se distancie do ideal de cada um. Fecha parêntesis. O que me deixa bastante assustada, e exatamente por conhecer alguns desses dirigentes que tem longa história de luta junto ao campo popular, é a semelhança do discurso que apareceu na TL, em sendo verdade que o sujeito é simpático ao partido, com o que há de mais nefasto na política brasileira.

Também a imprensa relatou ontem que, quando exercia seu direito de votar, um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que já foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral, (TSE) e a quem coube a revisão da ação 470, a do mensalão, teria sido agredido verbalmente por uma eleitora e por um mesário. Se fato, mais que o desrespeito e a falta de educação correntes, o episódio revela o quanto a mídia e um discurso parcial podem ser perigosos para a nossa, como diz o querido companheiro Gilmar da Rosa, mimosa (a democracia).

Acompanhando a apuração e o gaguejar inconsistente do time de comentaristas e especialistas (?) em política da Globonews, constatava a cada minuto o espanto deles diante dos resultados que iam se desenhando. Houve um momento em que, em três curtas orações, o comentarista – guindado a membro da academia brasileira de letras pelos serviços que presta não ao povo ou às letras, mas aos interesses de quem só vê povo como massa de consumo e manobra – mencionou a palavra mensalão QUATRO vezes.

“A pobreza das idéias dessa gente que comanda os alicerces do paísr”, conforme já cantava na década de 80 o Nei Lisboa, ficou evidente. Na falta de idéias que possam convencer a população de que devem comandar outra vez, usaram como plataforma eleitoral e se apegaram a um episódio nebuloso, mas o único de tantos como ele que chegou à suprema corte do país, para tentar desqualificar e criminalizar todas as ações promovidas pelo partido e seus associados políticos em benefício dos quase 200 milhões de brasileiros .

É um caminho perigoso. Os mesmos que durante séculos alimentaram a cisão econômica e em consequência disso, a social, não mais disfarçam o seu ódio hidrofóbico à pobreza, ao diferente que cada vez se diferencia menos. Mas assim como entendo – com as ressalvas expostas acima – a fundação de outro partido a partir da costela do PT, entendo quando esse discurso raivoso vem de representantes dos privilegiados. É a reação primeira e natural às mudanças, que com o tempo tende a ser assimilada. O que é incompreensível é que quem se diz 'de esquerda’, onde está implícito, mais que tudo, a igualdade humana no mais amplo sentido, use o mesmo discurso. E mais que isso, é extremamente preocupante.

A grandeza da política é a de outras falas. Parte dela está no discurso de Fernando Haddad de ontem, pela vitória: “quero agradecer por último, mas não menos importante, a todos meus opositores que me obrigaram a extrair o melhor de mim nessa campanha para poder superá-los”.


Um comentário:

  1. É isso! O resto é não poder desfrutar da TV brasileira por falta de programas, comentaristas e especialistas! Ainda bem que sobram bons livros para ler e reler e blogs e sites especializados!

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