Corte de água e luz tenta forçar saída de vizinhos do Itaquerão
Ideosfera - Área prevista de intervenção para criar o Parque Linear Rio Verde |
Jorge Américo,
de São Paulo, da Radioagência NP
A comunidade está situada em um trecho que abrigará o Parque Linear Rio Verde. Essa é um das obras complementares que deverão preparar a região para receber jogos da Copa 2014. Somente esses projetos demandam gastos de R$ 480 milhões.
Os moradores mais antigos vivem na comunidade há mais de 20 anos. É o caso de Cícero Jailson Ponciano da Silva. Em entrevista à Radioagência NP, ele afirma que as autoridades públicas promovem ações indiretas para expulsar as famílias sem precisar pagar indenizações. Entre os ataques sofridos está o corte no fornecimento de água e luz.
Comunidade da Paz - Foto: Jorge Américo |
A consequência mais trágica foi um incêndio, possivelmente provocado por uma vela, no último dia 16 de julho. O acidente resultou na morte de um morador e destruiu seis casas.
Radioagência NP: Jailson, como está o diálogo com o poder público? Vocês já foram informados que serão removidos?
Cícero Jailson Ponciano da Silva: A gente soube por meio de jornal e da televisão. De concreto, o poder público ainda não falou nada pra gente. Como não tem expectativa para aonde a gente vai, fica aquela apreensão, sempre pensando no que vai acontecer porque não tem proposta nenhuma. Como esse subprefeito [Paulo Cesar Máximo] teve a capacidade de mandar cortar a energia da gente, vai saber se ele vai chegar aqui com as máquinas para derrubar tudo em cima da gente.
O que vocês esperam que seja feito?
Esperamos ser tratados como cidadãos que pagam impostos. Apesar de viver na favela, ninguém está aqui porque quer ou porque gosta, mas por falta de oportunidades. Então, espero que eles olhem pra gente por essas condições e deem moradia - que troquem moradia por moradia - e dêem condições melhores para que a gente possa viver melhor em outro lugar sem precisar construir outra favela.
Agora comente a situação da água e da luz.
A luz foi o subprefeito de Itaquera que mandou cortar. Chegou a Eletropaulo escoltada pela Polícia e cortou. Ficamos sabendo pelo [José] Cavaletti, superintendente da Eletropaulo, que foi ele que mandou cortar. Já a água, quando começaram a fazer a construção do Parque Linear, cortaram também. Jogaram concreto em cima [da nascente] sem dar explicação para ninguém. Agora só com racionamento, alguém precisa desligar [fechar a torneira] para chegar água na casa do vizinho. Para muita gente, só chega água 1h da manhã. Essa água vem da nascente do córrego e já chega aqui na comunidade super fraca.
Como ocorreu o incêndio?
Deixaram o morador sem luz e ele usou vela, que encostou na madeira. Ele acabou adormecendo, esqueceu a vela acesa e queimou o barraco.
Então essa tragédia tem tudo a ver com o corte de energia?
Tem tudo a ver. E é uma coisa fácil de resolver. O Cavaletti veio aqui, tirou foto e disse que existia o risco eminente de incêndio, que qualquer hora teria um incêndio aqui.
Em geral, como os moradores veem a possibilidade de ter um jogo da Copa aqui do lado?
Nós enxergamos como positivo, mas os nossos governantes não enxergam assim. Eles mostram o campo, mas não mostram as pessoas que eles estão expulsando dessa área. Mostram só a beleza, o futuro, as coisas boas que serão trazidas para eles. Já o outro lado da moeda eles escondem. Por que não mostram o sofrimento que a gente passa também? Vêm os repórteres de fora do Brasil e lá eles só mostram beleza, a grandiosidade das obras que vão fazer. Nós somos vizinhos do estádio e eles estão escondendo isso.
E Serra diz que é "campanha de terrorismo"
Cícero Jailson Ponciano da Silva: A gente soube por meio de jornal e da televisão. De concreto, o poder público ainda não falou nada pra gente. Como não tem expectativa para aonde a gente vai, fica aquela apreensão, sempre pensando no que vai acontecer porque não tem proposta nenhuma. Como esse subprefeito [Paulo Cesar Máximo] teve a capacidade de mandar cortar a energia da gente, vai saber se ele vai chegar aqui com as máquinas para derrubar tudo em cima da gente.
O que vocês esperam que seja feito?
Esperamos ser tratados como cidadãos que pagam impostos. Apesar de viver na favela, ninguém está aqui porque quer ou porque gosta, mas por falta de oportunidades. Então, espero que eles olhem pra gente por essas condições e deem moradia - que troquem moradia por moradia - e dêem condições melhores para que a gente possa viver melhor em outro lugar sem precisar construir outra favela.
Agora comente a situação da água e da luz.
A luz foi o subprefeito de Itaquera que mandou cortar. Chegou a Eletropaulo escoltada pela Polícia e cortou. Ficamos sabendo pelo [José] Cavaletti, superintendente da Eletropaulo, que foi ele que mandou cortar. Já a água, quando começaram a fazer a construção do Parque Linear, cortaram também. Jogaram concreto em cima [da nascente] sem dar explicação para ninguém. Agora só com racionamento, alguém precisa desligar [fechar a torneira] para chegar água na casa do vizinho. Para muita gente, só chega água 1h da manhã. Essa água vem da nascente do córrego e já chega aqui na comunidade super fraca.
Como ocorreu o incêndio?
Deixaram o morador sem luz e ele usou vela, que encostou na madeira. Ele acabou adormecendo, esqueceu a vela acesa e queimou o barraco.
Então essa tragédia tem tudo a ver com o corte de energia?
Tem tudo a ver. E é uma coisa fácil de resolver. O Cavaletti veio aqui, tirou foto e disse que existia o risco eminente de incêndio, que qualquer hora teria um incêndio aqui.
Em geral, como os moradores veem a possibilidade de ter um jogo da Copa aqui do lado?
Nós enxergamos como positivo, mas os nossos governantes não enxergam assim. Eles mostram o campo, mas não mostram as pessoas que eles estão expulsando dessa área. Mostram só a beleza, o futuro, as coisas boas que serão trazidas para eles. Já o outro lado da moeda eles escondem. Por que não mostram o sofrimento que a gente passa também? Vêm os repórteres de fora do Brasil e lá eles só mostram beleza, a grandiosidade das obras que vão fazer. Nós somos vizinhos do estádio e eles estão escondendo isso.
E Serra diz que é "campanha de terrorismo"
Do Folhapoder
O candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, José Serra, acusou adversários de promoverem uma "campanha de terrorismo" contra ele.
Segundo o tucano, adversários "estão espalhando" que, com as obras para a Copa do Mundo de 2014 na região de Itaquera, "vão despejar as pessoas, despejar de moradias".
"Não é verdade, ninguém vai ser despejado [...]. Podem desmentir, que isso vai fazer parte da campanha de terrorismo", afirmou em ato do PSDB na zona leste da capital, na noite desta segunda-feira (20).
O tucano não citou quem seriam os adversários citados por ele.
No início de agosto, reportagem da Folha mostrou que a Favela da Paz, que tem cerca de 300 famílias, deve ser uma das desapropriadas para ações voltadas para a Copa.
Ao menos 1.660 casas de favelas antigas e perto do estádio estariam nesta lista.
À época, a prefeitura afirmou que estavam previstas intervenções de urbanização e que só realizaria realocação de famílias em áreas em que fará obras.
Mas, segundo a administração municipal, não havia intervenção programada, pois os projetos para a região estariam em fase de estudos.
"Vocês não conhecem ninguém que foi despejado aqui em São Paulo. Quando tem problema, às vezes risco de vida, a prefeitura dá bolsa aluguel, dá nova moradia, o Estado socorre", afirmou Serra.
O candidato do PSDB a prefeito de São Paulo, José Serra, acusou adversários de promoverem uma "campanha de terrorismo" contra ele.
Segundo o tucano, adversários "estão espalhando" que, com as obras para a Copa do Mundo de 2014 na região de Itaquera, "vão despejar as pessoas, despejar de moradias".
"Não é verdade, ninguém vai ser despejado [...]. Podem desmentir, que isso vai fazer parte da campanha de terrorismo", afirmou em ato do PSDB na zona leste da capital, na noite desta segunda-feira (20).
O tucano não citou quem seriam os adversários citados por ele.
No início de agosto, reportagem da Folha mostrou que a Favela da Paz, que tem cerca de 300 famílias, deve ser uma das desapropriadas para ações voltadas para a Copa.
Ao menos 1.660 casas de favelas antigas e perto do estádio estariam nesta lista.
À época, a prefeitura afirmou que estavam previstas intervenções de urbanização e que só realizaria realocação de famílias em áreas em que fará obras.
Mas, segundo a administração municipal, não havia intervenção programada, pois os projetos para a região estariam em fase de estudos.
"Vocês não conhecem ninguém que foi despejado aqui em São Paulo. Quando tem problema, às vezes risco de vida, a prefeitura dá bolsa aluguel, dá nova moradia, o Estado socorre", afirmou Serra.
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