14 julho, 2013

Muito além do véu e da grinalda

Muitos dos que assistiram à manifestação de ontem (sábado 13) em frente à igreja do Carmo e depois em frente a uma das esquinas mais charmosas do Rio - transmitida por mais de 7 horas pela MidiaNinja - talvez não imaginasse que, por trás do que seria mais uma festa de casamento, está a união da oligarquia rural nordestina com a 'moderna' oligarquia empresarial carioca, de origem nortista e financiadora de muitas eleições país afora.
 
Em post no seu blog, o autor do Partido da Terra esclarece o que as vestimentas de grife e a bela decoração não conseguiram esconder.  

Imagem via facebook, sem autor

Dos ônibus às fazendas: marido da neta de Jacob Barata é de família de políticos ruralistas no CE

por Alceu Luís Castilho (@alceucastilho)*

Causou furor ontem, no Rio, o casamento entre Beatriz Barata (neta do "rei do ônibus" na cidade, Jacob Barata) e Francisco Feitosa Filho. Manifestantes protestaram em frente da Igreja do Carmo e em frente do Copacaba Palace, onde Barata chegou de Mercedes-Benz. Haverá alguma relação entre esse mundo dos transportes, aparentemente urbano, e o universo ruralista?

Sim, são muitas as relações. Vejamos uma delas. O pai de Francisco Feitosa Filho, o ex-deputado Chiquinho Feitosa, é um político ruralista. Pretende disputar uma vaga na Assembleia cearense em 2014. Candidato à suplência do Senado em 2010, pelo DEM, ele declarou mais de R$ 5 milhões em bens; R$ 3,4 milhões de empréstimo à FF Agropecuária e Empreendimentos.

Feitosa também é empresário do setor de transportes coletivos. “É dele a maior frota de ônibus de Fortaleza e de transporte intermunicipal”, escreve Roberto Moreira no Diário do Nordeste. Mas esses bens não aparecem em sua declaração entregue ao TSE.

Chiquinho Feitosa é descrito na imprensa cearense como dono de fazendas. “O maior criador de caprinos e ovinos do Ceará”, conforme Roberto Moreira. Em 2012 ele promoveu um leilão de gado gir, leiteiro, na Fazenda Boisa – que não aparece em sua declaração de bens. É onde ele recebe políticos de peso, como o governador cearense, Cid Gomes (PSB).

Diz a notícia do portal Gir que Feitosa tem três fazendas e um rebanho de mais de 120 animais – que também não constam da declaração entregue à Justiça Eleitoral. O portal diz que o nome dele é presença constante nos leilões de gado gir. Ainda em 2012, Chiquinho ganhou o primeiro lugar em Circuito de Vaquejada. Representando a fazenda Haras Boisa, em Caucaia. Nessa cidade ele declarou apenas um terreno, por R$ 59 mil.

O jornalista Macário Batista contou no jornal O Estado que Chiquinho vai para a fazenda de jato, um CJ2 – comprado do senador Eunício Oliveira (PMDB-CE), um dos políticos brasileiros com mais propriedades rurais.

Francisco Feitosa Filho é também sobrinho do deputado federal Mário Feitoza (PMDB). O “z” do Feitoza foi um erro do escrivão em relação à tradicional família da oligarquia política cearense. A MCF Agropecuária – sigla que vem de Mário Carvalho Feitoza – foi declarada por apenas R$ 6 mil, em 2010. Mas o próprio político já contou em entrevista que, desde 1989, o grupo adquiriu “fazendas e propriedades” na região dos Inhamuns.

A família tem as marcas Mar e Rio, de produtos derivados da tilápia, e Arraial do Sol, de derivados de caprinos e ovinos. Cria também cavalos da raça Crioulo, “além da locação de máquinas e equipamentos, produção agrícola de grãos e caprinos e ovinos de pista das raças Anglo Nubiano e Santa Inês”.

Uma das irmãs dele e de Mário Feitoza é casada com o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal.

Outro político que alterna propriedades rurais com empresas de transporte é o deputado Camilo Cola (PMDB-ES), dono da Itapemirim. Uma de suas fazendas já esteve envolvida em denúncias de trabalho escravo.

* o titular deste blog é também o autor do livro "Partido da Terra - como os políticos conquistam o território brasileiro" (Editora Contexto, 2012)

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