25 julho, 2012

Os tucanos e os tiros no pé


O velho tema da distribuição das verbas publicitárias oficiais ganha visibilidade com a ação que o PSDB resolveu impetrar contra alguns blogueiros que, por terem anúncios de órgãos oficiais em seus blogs, são acusados de fazer propaganda do governo e ‘ataques’ à oposição.

O argumento é pífio, pois a maior fatia da verba publicitária oficial continua indo para os mesmos cofres desde que a imprensa no Brasil existe. E isso não impede a crítica ferrenha - e a falta de respeito a princípios éticos básicos do jornalismo - que a velha mídia estampa diariamente nas suas páginas, ondas e telas, sobre algumas ações do governo que a sustenta.

No artigo 37, inciso 1º da Constituição está que “A publicidade dos atos, programas, obras, serviços e campanhas dos órgãos públicos deverá ter caráter educativo, informativo ou de orientação social, dela não podendo constar nomes, símbolos ou imagens que caracterizem promoção pessoal de autoridades ou servidores públicos."

Se é principio constitucional, que se cumpra, mas com as limitações do bom senso. O que aí se regulamenta nada mais é do que a necessidade (levando em conta a dimensão e idiossincrasias do território e cultura nacional, super justificada) de publicizar, no sentido de tornar público, disponibilizar as informações oficiais para que o povo possa acompanhar o que está sendo feito com o nada irrelevante dinheiro dos impostos. Não está escrito - e seria o cúmulo do absurdo se estivesse - que as verbas oficiais devam ser destinadas a este ou aquele veículo.

Sob a ótica exposta na ação judicial dos tucanos, que utilizam a velha mídia como aliados de consciência e contas onde governam, em troca da panfletização de suas ações nada sociais, estariam sob suspeição todos os veículos - blogs, de alcance geográfico ilimitado, TVs ou rádio comunitárias, com raio limitado – que, por terem público diário maior ou equivalente ao dos veículos de sempre, cumprem a função constitucional de tornar públicos os atos do governo.

Em 10 anos com o PT no comando do país, embora a verba publicitária já seja melhor distribuída do que nos governos anteriores, ainda não temos um canal público de TV com sinal aberto, e tramita na câmara projeto que prevê a flexibilização do horário de transmissão da Voz do Brasil. Isso beneficia tanto os propagadores (veículos) quanto os intermediários (agências de publicidade que detém as contas, boa parte das vezes as mesmas que se encarregaram da campanha eleitoral dos então candidatos).

É interessante constatar que os mesmos partidos e nomes que pregam e cobram, pela velha mídia, a austeridade nos gastos públicos, não a pratiquem e nem cobrem do governo central a instituição de canais mais diretos de comunicação, o que, certamente, aliviaria substancialmente os gastos de hoje na propagação das ações dos governos.

E muito mais interessante constatar que, quando há melhor distribuição das verbas publicitárias - em meios onde é mais barato divulgar que nos costumeiros minutos e espaços super faturados da velha imprensa - a oposição sinta-se ameaçada.

Se tentar controlar as novas mídias é uma das estratégias da direita para se aferrar à frágil hegemonia eleitoral em municípios como São Paulo, parece que os tucanos mais uma vez apontaram para o próprio pé. Ficou claro que ainda não tiveram a capacidade de avaliar e entender que a internet é maior que os blogs (a imensa maioria sem anúncios de qualquer tipo) e redes sociais. É onde os cidadãos expõem seu olhar sobre os fatos e exercem, sem intermediários, o sagrado direito à comunicação.


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2 comentários:

  1. Boa reflexão. Além de sensata e coerente, toca com a unha do dedo indicador no meio da ferida demotucanopigueana.
    E mais uma vez mostra de modo insofismável o desespero do grupo pela constante, frequente e interminável perda de espaço na tentativa insólita e deletéria de querer fazer o imaginário social da nação...
    Chega. esse tempo é passado...
    O enterro e a missa de sétimo dia ainda vai demorar um pouco. mas, é fato consumado. Quem viver, verá...
    Um abraço
    Luca Vianni

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  2. Que seja logo essa missa! Abraço e grata pelo belo comentário!

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