31 janeiro, 2012

O povo trabalhador do #Pinheirinho chora


Relato de @Cidoli

Fotos de @AdolfoPinheiro



No dia de ontem, ontem atendemos um pedido do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos das Pessoa Pessoa Humana ( Condepe ) para realizar um mutirão para ouvir as famílias desalojadas do Pinheirinho.

Chegamos em São José dos Campos e nos dirigimos a Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que inicialmente serviu de abrigo aos desalojados do Pinheirinho. Fomos orientados e nos dirigimos aos abrigos onde estavam os desabrigados. Através de um questionário entrevistamos com um grupo de 90 voluntários 508 pessoas nos quatros abrigos :Caíque Dom Pedro, Ubiratan Maciel, Parque Morumbi e Vale do Sol, todos localizados na periferia da cidade.



Coube a nós visitar o abrigo Caíque Dom Pedro, com 600 desabrigados. Estávamos tensos, pois já fomos barrados logo na entrada por policiais da Guarda Municipal, houve um desconforto inicial, mas com negociações com a Assistente Social Chefe, conseguimos realizar o nosso trabalho. Pessoas alojadas em salas de aulas, no Ginásio da escola, jogadas pelo chão em colchões e um pouco dos móveis que ainda trazem uma lembrança do Pinheirinho, situação desoladora, banheiros sujos, falta de infraestrutura adequada a acolher um ser humano.

Os desabrigados reclamavam muito da alimentação, que era entregue na forma de marmitex, diziam que a comida era ruim, as crianças relutavam em se alimentar.
Ao responder aos questionários, mais de 90% afirmaram que perderam tudo (cama, colchão, geladeira, televisão, computador, inclusive seus instrumentos de trabalhado, como um senhor de mais de 70 anos disse que a polícia não deixou levar o seu carrinho de transportes de coleta de reciclagem, quando chegou ao local para buscá-lo o carrinho estava queimado.







Foram momentos de angústia, eles relatavam violência, desrespeito dos policiais militares e guarda municipal , pois tudo começou as 05 da manhã num domingo de descanso , dia 22 de Janeiro, com helicópteros da PM fazendo vôo razante sobre as casas, e jogavam bombas de gás lacrimogênio, assustando os moradores, as bombas atigiam os seus quintais.


As pessoas choravam nos seus depoimentos, ficou difícil para contermos o nosso choro. Estavam arrasadas, sem ter para aonde ir. A prefeitura ofereceu uma bolsa aluguel de 500 reais para alugar uma casa, impossível, inclusive sofriam o preconceito de ser moradores da ocupação Pinheirinho. Por volta das 04 da tarde deixamos o abrigo, as pessoas queriam continuar relatar as suas tristezas, foi delicada a nossa despedida, deixando para trás aquele povo sofrido por uma violência que jamais esqueceram em suas vidas.

Audiência Pública



O nosso trabalho não parava por aí, ainda tínhamos uma audiência pública na Câmara Municipal de São José dos Campos, convocada pelo Condepe.

Chegamos ao local por volta das 19h o auditório estava lotado, com a presença dos desabrigados do Pinheirinho, parlamentares e várias entidades ligadas aos direitos humanos.


Momentos de emoção com o depoimento de moradores do Pinheirinho: Começa com o áudio de Deived, vítima da violência que levou um tiro nas costas desferido por um Guarda-Municipal e logo em seguida sua esposa falou, emocionada, pois o objetivo maior era preservar a vida do seu bebê de 10 meses. Ao voltar para casa, encontrou tudo vazio.

Foram vários os depoimentos, mas o que mais chamou atenção foi a fala de Paulo Maldos, secretário nacional de Articulação Social, da presidência da República, que estava no dia desocupação para dialogar, mas não conseguiu nada, inclusive ao falar com um oficial da PM ele disse “você volta e manda sua presidenta falar comigo”.


A audiência terminou por volta das 22h e estávamos convictos do que vimos e pelas coletas de depoimentos com os moradores, o que aconteceu na desocupação do Pinheirinho foi uma afronta aos direitos humanos das pessoas humildes e trabalhadoras, na verdade um”massacre” , destroçaram as suas vidas.
Ficou acertado que voltaremos no próximo sábado, dia 04 de Fevereiro.
Muita coisa a ser feita.


Texto: Aparecido Araujo Lima, Diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Editoras de Livros do Estado de SP

Fotos: Adolfo Pinheiro - MAVPTSP 

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