30 novembro, 2011

Linha cruzada

por Eduardo Guimaraens*
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Este texto teve sua gênese em uma conversa com três pessoas (claro que em alguns momentos poderia haver um quarto ou quinto elemento) no Twitter onde a limitação dos 140 caracteres por vezes pode trazer ruído na comunicação. Os temas das conversas são e só poderiam ser a salada de frutas do momento político nacional, economia mundial, Lula, Dilma, uma possível reforma ministerial e por fim, a Ley de los Médios que, se aplicada, poderia minimizar talvez o maior problema enfrentado pelo Governo Federal no momento, que é o de informar a grande parte da população brasileira as suas realizações. Hoje o que o Governo diz muitas vezes tem caído no vácuo tal qual uma linha cruzada.

É fato sabido que a vitória de Dilma Rousseff nas últimas eleições foi muito mal recebida pelas oligarquias que confiavam numa vitória do seu candidato e a mídia que os representa (e dela faz parte) demonstra isso. Aliás, ao longo de 2010 ela assumiu este candidato fazendo às vezes de um verdadeiro partido. Terminada a campanha eleitoral os partidos de oposição se dilaceraram e passado um ano eles não conseguiram se reerguer em uma unidade.

Hoje quem sustenta uma oposição ao Governo são os oligarcas da mídia, ou seja, as seis ou oito famílias que detém cerca de 85 a 90 % dos veículos comunicação no Brasil. Com quase 355 dias desde o início do mandato, se formos procurar na grande mídia o que foi realizado acharemos muita pouca coisa. Mas por outro lado, dá para perceber que o país nestes nove anos mudou para melhor, a despeito do silêncio que a mídia tem se imposto. Isto é um fato: a mídia brasileira não repercute os feitos do Governo Dilma. Pelo contrário, procura de todas as formas desestabilizar através de pseudo escândalos, que imediatamente são amplificados por um ou dois parlamentares da fragmentada oposição. E também rasgando todos os manuais de ética jornalística, através da difamação e da criação de factóides. E pior: quando há episódio envolvendo um político de oposição, ela silencia como nada houvesse ocorrido.

Há algumas explicações para isto e a maioria é de ordem econômica. Em outros tempos os grandes jornais e tevês recebiam, além do afago submisso de governantes, ganhavam vultosas verbas publicitárias que inflavam seus lucros .

De outro lado o Governo Dilma, por vezes, fracassa em divulgar suas ações. E porque isto ocorre? Será que o Governo se comunica mal? Não parece ser este o fato, uma vez que os jornais do exterior especializados em política e economia normalmente repercutem positivamente as notícias vindas do Brasil. Mas há pessoas como o Professor Emir Sader que detectam falhas na forma de se comunicar da Presidenta Dilma. Ela, por sua formação de técnica, é muito mais dada a agir do que falar, ao contrário do seu antecessor o Presidente Lula que, com sua espantosa capacidade de se comunicar, conseguiu lograr êxito em divulgar as suas realizações, mesmo remando contra a maré da mídia. Este sucesso de Lula, além de suas notáveis características pessoais, tem uma parcela do crédito à presença forte e decidida de Franklin Martins na Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República.

A falta de aparições na mídia por parte da nossa Presidenta traz a impressão que ela está pressionada e até é refém da grande mídia. E isto não condiz com a realidade. Aliás, os oligarcas da mídia por vezes se atribuem poderes que na realidade não têm. A maioria deles lembra os sapos bufos que quando acuados se inflam para parecerem maiores e mais terríveis.

Todo mundo crê que o ato de comunicar para um Governo é fácil, mas isto não é o que ocorre. Há uma série de entraves ora de ordem burocrática e econômica, ora da forma de como se faz a comunicação. A partir do início do Governo Lula a comunicação institucional ficou, de forma centralizada, a cargo da Secom (Secretaria de Comunicação). Isto deu uma uniformidade nos vídeos e publicidades institucionais, mas por outro lado causa, por vezes, atrasos na sua divulgação. Já que após ser produzida a peça passa pelo crivo do órgão que a originou e também da Secom. Em relação aos sites e páginas do Governo há uma padronização por parte da Secom, mas a criação e a hospedagem são (ou eram) feitas pelo Serpro e o conteúdo é disponibilizado por cada órgão. Em alguns casos isto causa um entrave na rápida ação de resposta.

Por estes e outros motivos os próximos dois meses serão de suspense. Já que a oligarquia e seu braço midiático apostam em uma reforma ministerial profunda e com a capacidade de afastar a Presidenta Dilma das idéias propostas por Lula desde o início de seu mandato há nove anos. Mas não há provas palpáveis que isto vá ocorrer já que nossa Presidenta tem posições ideológicas muito firmes e não se submeteria a quem a fustiga.

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Eduardo Guimaraens é jornalista e trabalha no Jornal do Cambuci & Aclimação

Carlos Estevão e os Pankararu de Itaparica-PE




Do Blog da Biblioteca Digital Curt Nimuendaju
por Renato Athias*

Dica de Aninha Pecci


Muito me alegra que a Biblioteca Digital Curt Nimuendaju, muito bem organizada e cuidada por Eduardo Rivail Ribeiro juntamente com seus colegas, venha nos proporcionar hoje a inclusão digital de um dos mais importantes trabalhos (e, eu diria ainda, um dos mais procurados escritos) do advogado, poeta e naturalista Carlos Estevão de Oliveira: “O ossuário da “Gruta do Padre”, em Itaparica e algumas notícias sobre remanescentes indígenas do Nordeste”. O texto é resultado de uma palestra realizada no Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, no dia 10 de julho de 1937 e publicado inicialmente nos volumes XIV a XVII do Boletim do Museu Nacional, referentes aos anos de 1938 a 1941, e impresso pela Imprensa Nacional em 1942.

Carlos Estevão de Oliveira iniciou sua carreira como funcionário público em Alenquer, no estado do Pará, e exerceu o cargo de diretor do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG) entre os anos de 1930 a 1945; esta última função é certamente a mais importante de sua carreira pública no Pará. Após quase quinze anos à frente do MPEG, Carlos Estevão solicitou o seu afastamento temporário da diretoria por motivo de saúde. Pretendia vir a Pernambuco tratar de sua saúde e rever os familiares. Em dezembro de 1945, seu estado de saúde piorou durante a viagem, que estava sendo realizada de navio. Carlos Estevão, a esposa Maria Izabel e a filha Lygia desembarcaram em Fortaleza, Ceará, e hospedaram-se na casa de Antonio Carlos, filho mais velho de Carlos Estevão, médico e chefe do Serviço de Piscicultura do Nordeste. Carlos Estevão tinha problemas cardíacos e, percebendo o agravamento da doença, interrompeu a viagem a Recife, vindo a falecer em Fortaleza, no dia 5 de junho de 1946.




Em fevereiro de 1935, Carlos Estevão faz sua primeira visita aos Pankararu do Brejo dos Padres. No ano seguinte, ele solicita uma “licença prêmio” para poder ficar mais tempo na área e iniciar seus trabalhos nas terras do povo Pankararu. No dia 24 de fevereiro de 1936, antes mesmo de entrar no Brejo dos Padres, Carlos Estevão sai em visita ao canteiro de obras da Companhia Industrial e Agrícola do Baixo São Francisco, situada em Itaparica. Nessa visita, Carlos Estevão descobre em “um Serrote que fica perto da aludida cachoeira um ossuário indígena de real valor científico”. E ali próximo, ele encontra o velho Anselmo, um Pankararu com quem visita a gruta, e que lhe conta as primeiras narrativas sobre a “Gruta do Padre”. Durante os anos seguintes Carlos Estevão vai trabalhar com esses achados da Gruta do Padre e com os Pankararu. Essa publicação contém um relato dessas viagens, e será muito importante para os índios desta região. Torna-se uma peça importante no reconhecimento formal dos índios Pankararu pelo Estado brasileiro.

A partir desse trabalho que se tornou público através do Boletim do Museu Nacional, iniciou-se o interesse de muitos outros pesquisadores. Vale mencionar como exemplo Mário de Andrade, que em 1938 visita a região, registrando em filme as músicas e os torés Pankararu. A organização da narrativa do “ossuário de Gruta do Padre” é muito bonita, pois Carlos Estevão coloca muitos detalhes, e cita os nomes de todos aqueles com que manteve contato durante esse período em que se encontrava de “licença prêmio”. Ele também faz um relato muito simples e extremamente detalhado das visitas que fez entre os índios de Colégio, os Xukuru Kariri, e entre os Fulni-ô de Águas Belas. Ele conclui o seu texto fazendo um apelo em nome dos Pankararu, que na ocasião sofriam com a invasão de gado de fazendeiros em suas terras. Os animais atrapalhavam a atividade agrícola dos Pankararu, pois destruíam as lavouras.

No anexo ao texto, Carlos Estevão publicou um conjunto de fotografias que registram pessoas e momentos importantes dos Xukuru-Kariri, Fulni-ô e Pankararu. Essas fotografias, certamente feitas pela sua “Rolleiflex”, foram muito bem selecionadas, e são utilizadas muito bem pelos índios atualmente. Por exemplo, a fotografia que ele fez sobre os búzios do Toré Pankararu foi recuperada por um grupo de jovens Pankararu, e, através dela, esse grupo de jovens revitalizou a confecção dos búzios (flautas longas) e as músicas produzidas por essas flautas. Todas essas fotografias encontram-se online através do Museu Virtual da Coleção Carlos Estevão de Oliveira, do Museu do Estado de Pernambuco, que teve o apoio da Fundação de Amparo a Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE). Para ver os objetos e fotografias da coleção visite o site:http://www.ufpe.br/carlosestevao

* Renato Athias [perfil] é coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Etnicidade (NEPE/UFPE) e Professor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Antropologia da UFPE.


29 novembro, 2011

Casa do Índio agoniza por descaso e falta de verbas


Por Rui Zilnet
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Enquanto Eunice Cariry relata os acontecimentos ocorridos na Casa do Índio, assistidos acompanham com liberdade























Dia desses, em visita à Casa do Índio do Rio de Janeiro, fundada em 1968 pela sertanista Eunice Cariry, para acolher índios portadores de necessidades especiais, fiquei encantado com o que presenciei. A casa, localizada em uma sossegada rua da Ilha do Governador, abriga cerca de 32 índios com problemas físicos, mentais e doenças crônicas, que convivem tranquilamente num prédio com características que lembram uma aldeia indígena, porém, com estrutura adaptada ao meio urbano, proporcionando-lhes o conforto, a higiene e o bem estar necessários à boa recuperação.

Durante o tempo que permaneci na casa, aproximadamente oito horas, os índios assistidos demonstraram felicidade espontânea e aparência saudável, sem apresentar qualquer sinal característico de sofrimento ou privação de qualquer ordem. As instalações são limpas e bem cuidadas.

Segundo Eunice Cariry, o objetivo principal da Casa do Índio é receber índios oriundos das Administrações Regionais da FUNAI, instaladas nos estados da federação, sempre que esgotem todos os recursos para tratamento nos locais de origem. Os assistidos são atendidos na rede hospitalar pública (SUS) e por facultativos, que voluntariamente prestam assistência especifica a cada caso, desde a sua fundação, há 43 anos.

Contudo, desde os anos de 1990 a Casa do Índio passa por um processo de desestruturação promovido pela segmentação do atendimento aos indígenas, que retirou da Funai atribuições que lhes eram da competência. Como exemplo, a Educação dos índios passando para o Ministério da Educação (MEC) e a Saúde, respectivamente, para o Ministério da Saúde.

Cândido Ribeiro é um dos funcionários da Casa do Índio na incerteza do seu futuro 






















Eunice destaca que desde a criação da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em 1999, a Casa do Índio passou a sofrer um processo de cortes nas verbas para manutenção, alimentação e medicamentos dos atendidos, culminando, recentemente, com o cancelamento de um convênio que pagava todos os seus funcionários. Na próxima quarta-feira (30) completam 30 dias que foram rescindidos os contratos de cerca de 14 cuidadores, que mesmo assim permanecem em seus postos, sabendo que poderão ficar sem receber os salários.

A situação da Casa do Índio é extremamente delicada. O estado é de alerta máximo. Com o esfacelamento da Funai, as ações de terrorismo que a casa vem sofrendo, e uma visível disputa de poder por pessoas e instituições sem qualquer comprometimento com a causa indígena, a não ser o oportunismo, os assistidos estão sujeitos a ficarem abandonados à própria sorte, o que ainda não ocorreu devido à dedicação e seriedade que Eunice Cariry dirige a instituição.

O que entristece nesta situação é que enquanto uma organização criada com propósitos essencialmente humanistas, cumprindo verdadeiramente os objetivos a que se propôs é esfacelada pelo descaso das instituições governamentais, elementos aventureiros, pseudo protetores dos índios, apropriam-se facilmente de recursos públicos, explorando a plasticidade cênica oferecida pelos indígenas, para mostrar belo e ocultar a realidade cruel.

Espera-se que alguém do governo demonstre bom senso e resolva rapidamente esta situação de descaso com a Casa do Índio, reconhecendo que o trabalho conduzido por Eunice Cariry é necessário e eficaz. O que não se pode aceitar é que os índios que ali estão fiquem jogados à própria sorte e os funcionários permaneçam na incerteza de seus futuros. A solução carece ser adotada com urgência máxima.

Texto e fotos de Rui Zilnet

28 novembro, 2011

O Irã e a III Guerra Mundial

Por Mauro Santayana
Dica @





O jornalista e escritor britânico Douglas Reed, que morreu em 1976, pode ter sido um dos homens mais alucinados do século 20, como dizem seus biógrafos. Combatente na Primeira Guerra Mundial, quando ficou gravemente ferido no rosto, ele se fez jornalista e correspondente do Times de Londres em vários países da Europa. Em seus despachos de Berlim, se destacou como corajoso e violento anti-nazista. Foi o primeiro não comunista a denunciar a farsa do incêndio do Reichstag, acusando pessoalmente Hitler de ter sido o responsável pelo ato de provocação.


Quando se deu conta de que viria oAnschluss (a anexação da Áustria à Alemanha), ele, então em Viena, escreveu, em poucas semanas, seu livro mais conhecido, Insanity Fair publicado em Londres em 1938. Nele, advertiu contra a tolerância em favor de Hitler, e previu a imediata eclosão da 2ª. Guerra Mundial. Meses depois, com a capitulação das potências européias em Munique, no caso dos sudetos, deixou de trabalhar para oTimes, cuja posição era também apaziguadora.


A partir de 1940, Reed se tornou anti-sionista - não anti-semita. Mas aceitou a tese conspirativa e fantasiosa de que os comunistas e os sionistas eram aliados para dominar o mundo. Para ele, os nazistas favoreciam os sionistas, ao transformar os judeus em vítimas. Emseus artigos, previu que o Estado de Israel, a ser criado na Palestina, como determinava o projeto sionista de Max Nordau e Theodor Herzl, viria a ser o germe da grande conspiração para o domínio sionista do planeta, mediante um governo mundial.


Enfim, aceitava a famosa manipulação do “Protocolo dos Sábios de Sião”. Logo depois do armistício de 1945, previu que esse governo mundial seria dotado de armas atômicas, como propusera o banqueiro e assessor de Roosevelt, Bernard Baruch, também filho de judeus de origem européia. De acordo com o Plano Baruch, nenhum outro país, além dos Estados Unidos, deveria desenvolver armas atômicas. O congelamento sugerido foi rejeitado com vigor pelos soviéticos.


Mas a citação de Reed nesta coluna se deve a uma frase profética do posfácio que acrescentou à edição original de Insanity Fair. Reed conta que, ao visitar a então Tchecoslováquia, pouco antes do Tratado de Munique, se deu conta de que os seus soldados estavam mobilizados na fronteira, contra a prevista invasão do território pelos alemães – e contavam com a Inglaterra, mais do que com a França, para resistir. Enquanto isso, diz Reed, os ingleses abandonavam os tchecos. Naquele momento, deduziu o escritor, o mais poderoso império da História – o britânico – entrava em sua inexorável fase de declínio. Reed registra, na frase inquietante, a sensação de que o desastre era desejado, ao dirigir-se a seus compatriotas: “E até onde eu posso entender, vocês parecem desejar que isso ocorra”.


Advertiu que ao apoderar-se de países vulneráveis, mas senhores de matérias primas, de energia, de mão de obra e de soldados, a Alemanha se faria inexpugnável, invulnerável e invencível, e dominaria toda a Europa – o que viria a ocorrer fora das Ilhas, até a virada em Stalingrado.


Outras são as circunstâncias de nosso tempo, mas a insanity fair parece a mesma. Se a Palestina é muitíssimo mais indefesa do que era a Tchecoslováquia de Benes e Hocha, o Irã é sempre a Pérsia. Ao não reagir contra as perspectivas de um conflito, os europeus de hoje, como os ingleses de Eden e Chamberlain, parecem desejá-lo. Talvez suponham que possam associar-se aos norte-americanos no governo do mundo. Mas o tempo de Baruch passou. Hoje, se os Estados Unidos, a Grã Bretanha, a França – e até Israel – dispõem de armas nucleares, a Rússia, a Ucrânia, a China, o Paquistão e a Índia também as têm.


Os arsenais do Pentágono dispõem de armas para destruir o mundo, mas não de recursos humanos e bélicos para a conquista e domínio do planeta. É bom, no entanto, anotar uma das profecias de Reed, ao analisar o Plano Baruch, e o associar ao sionismo. Segundo Reed, haveria uma Terceira Guerra Mundial, com a criação de um governo planetário, a ser imposto e exercido pelos sionistas. É uma profecia perversa e, como podemos supor, improvável. Primeiro, porque surgem em Israel e nos Estados Unidos vozes de bom senso, que advertem contra esses arquitetos do apocalipse. Esse é o caso de Meir Dagan, ex-dirigente do Mossad – a agência de espionagem e contra-espionagem de Israel, mais eficiente do que a CIA – que diz, em palestra na Universidade de Tel-Aviv, que um ataque ao Irã é “uma idéia estúpida”. Dagan advertiu que qualquer iniciativa militar contra Teerã conduzirá a uma guerra regional, com gravíssimas conseqüências para todos. É sinal de que alguma coisa muda em Israel. Mas não apenas em Israel. Nos Estados Unidos, alguns chefes militares também tentam convencer o presidente Obama - a cada dia mais servidor dos belicistas do Pentágono - de que um ataque ao Irã poderá levar a uma nova guerra mundial, e de resultados imprevisíveis.


Em artigo publicado pelo New York Timesde 14 deste mês, o general John.H.Johns deixa bem claro o perigo, ao afirmar que um ataque ao Irã seria repetir a aventura do Iraque, com mais dificuldades ainda, e que o país dispõe de meios militares para rechaçar qualquer ataque. Opinião semelhante é a do general Anthony Zinni, outro respeitado chefe militar. Como sempre ocorre, ele e Johns são hoje oficiais reformados.


Informa-se também que chefes militares da ativa estiveram recentemente com Obama, a fim de demovê-lo de apoiar qualquer iniciativa bélica de Israel contra o Irã. Obama balançou os ombros.


A principal mudança, no entanto, é a tomada de consciência de grande parte dos cidadãos dos Estados Unidos e de Israel de que o inimigo não está fora de suas fronteiras, mas dentro delas. As desigualdades sociais e a angústia em que vivem, em estado de guerra permanente, levam o povo às ruas. Em Israel, cerca de 500.000 pessoas foram às ruas contra o desemprego, a corrupção e o enriquecimento de poucos, diante das crescentes dificuldades da maioria. Os protestos nos Estados Unidos aumentam, apesar da repressão violenta.


E é nesse quadro geral que os Estados Unidos buscam uma aproximação maior com a Argentina, com o propósito bem claro de reavivar a antiga desconfiança entre aquele país e o Brasil. Não é a primeira vez, embora esperemos que seja a última, em que Washington atua em busca da cizânia entre os dois maiores países da América do Sul. Não parece provável que obtenham êxito. Nos últimos anos, argentinos e brasileiros começaram a entender que estão destinados a viver em paz, e unidos na defesa de seus interesses comuns, que são os do continente.

Povo Kaiowá Guarani sofre novo ataque no MS

Fica cada vez mais evidente a necessidade imediata da intervenção do governo federal no sentido de proteger de maneira mais eficiente os indígenas acampados em suas terras no Mato Grosso do Sul à espera da demarcação. É impressionante ler o relato dos que estiveram ontem no acampamento que foi atacado hoje, e o nível de desrespeito a tudo das autoridades políticas das cidade de Iguatemi.


No mínimo os 3 primeiros artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos estão sendo infringidos, e não por acaso os primeiros: 

"Artigo I
        Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.

Artigo II
        Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacional ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

Artigo III
        Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal."



Se nem as forças de segurança nacional que estão no local conseguem conter a sanha pela apropriação das terras que não são de quem as cobiça, parece que a solução será a medida já solicitada ao governo pelas comunidades, a intervenção! 


Leia e abisme-se!  


Renato Santana
De Brasília
Via CIMI
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A noite desta segunda-feira (28) caiu sobre o acampamento Pyelito Kue do povo Kaiowá Guarani no breu das ameaças. Informações apuradas junto a indígenas Kaiowá Guarani dão conta de que um novo ataque ocorreu durante esta segunda-feira, contra a comunidade de acampados. Não houve vítimas.


O acampamento fica no município de Iguatemi - cerca de 200 quilômetros de Campo Grande (MS). O ataque teve como principal intenção materializar ameaça de que se os indígenas não saírem do local até a chegada da noite, serão expulsos à força.


“Saíam do mato atirando de pouco a pouco, atirando de longe. Falavam que se não saíssemos, hoje à noite iam atacar”, diz Onides Kaiowá Guarani. O indígena informou que a ação durou cerca de duas horas e a comunidade ficou “esperando para ver o que acontecia”: a intenção era esperar o ataque para ver de que forma poderiam se defender.


Os tiros cruzavam o terreiro onde as barracas estão instaladas e os indígenas, cercados, buscavam a melhor forma de proteção.


Enquanto uma moto percorria sem parar o esquadro do acampamento, homens armados atiravam e gritavam em saídas não coordenadas do mato. “A moto sempre fica rodando, é comum”, diz Onides. “Sofremos dois ataques já. Da primeira vez queimaram todas as barracas, alimentação, roupas. Foi há cerca de três meses”, lembra.


A segunda vez foi no mês passado, quando três rapazes foram alvejados com balas de borracha. Os indígenas desejam a presença da Força Nacional no local. “Estamos com medo. Ficamos vigiando, andando de um canto para o outro. Há crianças e idosos. Caso ataquem, nos defenderemos e não vamos sair”, diz.


Onides sentencia o que mais se pode ouvir de um Kaiowá Guarani em tempos como esse, de ataques e violência: “Vamos ficar nem que seja morto (sic)”.


Ameaças um dia depois de visita


Na tarde deste domingo (27) um grupo de lideranças Kaiowá e Guarani foi abordado e intimidado por fazendeiros e pelo presidente do Sindicato Rural de Iguatemi (MS).


As lideranças estavam acompanhados de dirigentes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), de representantes de entidades de apoio, entre as quais o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), de funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da comitiva do Governo Federal - que realizava visita oficial ao acampamento Pyelito Kue.


O secretário-executivo do Cimi, Cleber Buzatto, estava no local e assim relatou: “Nem mesmo a presença da Força Nacional de Segurança foi suficiente para intimidar os fazendeiros que, munidos de câmaras fotográficas e de uma “caneta espiã”, passaram a filmar e fotografar ostensivamente as lideranças indígenas, apoiadores e mesmo os integrantes da comitiva oficial. Além disso, o presidente do Sindicato Rural, portando-se como uma autoridade policial, passou a exigir a identificação do coordenador da comitiva, o secretário Nacional de Articulação Social, Paulo Maldos, ao que se seguiu uma intensa discussão entre ambos”.


Buzatto segue no relato:


“O presidente do sindicato realizou alguns telefonemas e, em poucos minutos, o prefeito do município de Iguatemi também chegou ao local. Ao ser questionado sobre os motivos pelos quais nenhum membro da prefeitura fora designado para acompanhar a visita à comunidade de Pyelito Kue, o prefeito respondeu que isso não havia sido possível pelo fato da visita estar sendo feita num domingo. No entanto, ao ser questionado sobre as motivações dele próprio ter atendido imediatamente ao chamado dos fazendeiros em plena tarde de domingo, o prefeito reagiu com grande agressividade verbal contra um dos apoiadores dos indígenas. O prefeito precisou ser contido pelos agentes da Força Nacional de Segurança”.


“Fica cada vez mais nítida a legitimidade e a urgência no atendimento à reivindicação feita pelos Kaiowá Guarani, em Manifesto entregue à comitiva governamental, na tarde deste domingo, em que exigem, entre outras medidas, “imediata intervenção Federal no estado do Mato Grosso do Sul” e “proteção às nossas lideranças e comunidades que estão sendo constantemente ameaçadas por grupos paramilitares existentes no Mato Grosso do Sul”, disse Buzatto antes de saber do ataque desta manhã a Pyelito Kue.

26 novembro, 2011

BRICS bloqueiam os EUA no Oriente Médio [1]

Do redecastorphoto
25/11/2011, *MK Bhadrakumar, Indian Punchline
BRICS blocks he USA on Middle East
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
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A reunião dos vice-ministros de Relações Exteriores dos países BRICS em Moscou, ontem, sobre a situação no Oriente Médio e Norte da África é evento de grande importância, como se vê pelo Comunicado Conjunto. Os principais elementos do Comunicado são:

a) Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) assumiram posição comum sobre o que hoje se conhece como “Primavera Árabe”. Identificaram-se os princípios básicos dessa posição: o foco deve ser diálogo nacional pacífico; nada justifica qualquer tipo de intervenção estrangeira; o papel central nas decisões compete ao Conselho de Segurança da ONU.

b) Os BRICS adotaram posição comum sobre a Síria. A frase chave do Comunicado é “Fica excluída qualquer tipo de interferência externa nos assuntos da Síria, que não esteja conforme o que determina a Carta das Nações Unidas.”

c) Os BRICS exigiram “revisão completa” para avaliar a adequação [orig. appropriateness] da intervenção da OTAN na Líbia; e sugeriram que se crie missão especial da ONU em Trípoli para conduzir o processo de transição em curso; dessa comissão deve participar, especificadamente, a União Africana.

d) Os BRICS rejeitaram a ameaça de força contra o Irã e exigiram negociações e diálogo continuados. Muito importante, os BRICS criticaram as ações de EUA e União Europeia de impor novas sanções ao Irã, chamando-as de medidas “contraproducentes” que só “exacerbarão” a situação.

e) Os BRICS saudaram a iniciativa do Conselho de Cooperação do Golfo, que encontrou saída negociada para o Iêmen, como exemplo a ser seguido.

Continue lendo no redecastorphoto 


24 novembro, 2011

A esquerda real e a internet

Do Poblet
Dica de Sergio Pecci
Texto de Carlos Martínez

Tradução de Denise Queiroz 
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Do blog arrobazona
























São muitas as pessoas de esquerda que, na América Latina, acompanham as notícias da 
Espanha através dos meios alternativos como Rebelión, Insurgente, Kaos, Tercera información. Tendo em vista a presença muito importante nestes sítios de organizações como Izquierda Anticapitalista, Equo e outras, esse leitores não entendem os parcos resultados eleitorais. Igualmente não entendem, observando o triunfalismo de muitos textos publicados nesses meios, como na Espanha não haja uma revolução ocorrendo ou tenha diminuído, em parte, o movimento 15-M. Ou como não aparecem novos sindicatos à margem dos tradicionais.

É verdade que as eleições servem para muito pouco, mas se podemos utilizá-las como uma radiografia da sociedade, é uma pesquisa que cobre 100% da população com direito a voto. Os resultados destas últimas eleições deram um banho de realidade nos que vivem a política através de sua conexão ADSL.

Antes da democratização da Internet, os que nos considerávamos vermelhos sofríamos a síndrome do cachorro verde. Nos sentíamos estranhos num meio social que nos parecia alheio, éramos ilhas num oceano de conservadorismo. Com a chegada da rede, surgiram os primeiros meios de comunicação alternativos. Depois, através do correio eletrônico, ou dos grupos de notícias, começaram a ser criadas as primeiras comunidades sociais entre pessoas de esquerda (igualmente as que se criaram com pessoas de outros interesses, desde a filatelia até o aeromodelismo).

Estas redes cresceram e se fortaleceram com o sucesso do Facebook primeiro e depois do Twitter, entre outras. O que nos transportou a outro extremo: submergimos em uma bolha junto com nossos “afins” e passamos a pensar que agora somos todos vermelhos, que somos uma legião e que temos muitos amigos e ou seguidores.

Em recente conversa com o jornalista Pascual Serrano, ele confessou que, apesar de receber montões de e-mails, de ser muito lido na Internet e de ter alcançado certo sucesso no campo editorial, sua transcendência social se limita a um círculo ideológico muito pequeno. A prova é que seus vizinhos ou família não conhecem praticamente nada de sua atividade ou pensamento. Imagino que essa experiência possa ser posta a praticamente todos os blogueiros, tuiteiros, etc.

Internet é um fabuloso meio, barato e sem fronteiras, onde podemos criar nossos meios de comunicação e difundir convocações. Mas, enquanto militantes de esquerda, devemos nos vacinar contra os efeitos colaterais que produz: isolamento da vida real, percepção de que somos maioria, e do ego inflado, nos casos mais agudos.

Façamos a seguinte prova: 24 horas depois de escrever um post em nosso blog, um artigo sério em nosso meio alternativo de referência ou um tuíte, imprimamos e oferecemos a nossa família, vizinhos, amigos do bairro ou companheiros de trabalho para que leiam. Comprovemos quantos deles formavam parte dessas centenas de leitores que tivemos na rede. Depois, escutemos suas opiniões que, quem sabe, sejam mais interessantes das que colhemos na Internet dos que pensam como nós.

Sem dúvida, é muito mais fácil apertar o botão curtir ou dar RT do que distribuir panfletos nas portas das fábricas. Mas este último é o trabalho militante que devemos valorizar. Como diz meu amigo Serrano, não podemos aceitar o termo ‘ciberativismo’ assim como não podemos ‘cibercomer’.

Também é preocupante o modo pelo qual se transmitem entre gerações os valores da esquerda. Somos muitos os que acreditamos que são transmitidos de maneira mais eficiente através do exemplo que das palavras. Quantas famílias tem que agüentar o discurso de esquerda de um de seus membros e depois suportar seu comportamento egoísta, machista ou autoritário?

Na web podemos ter tantas vidas quanto o tempo que estivermos dispostos a dedicar e manter diferentes perfis nas redes sociais. Mas a vida real é uma só, e algumas vezes curta, sem tempo para consertar. Nela devemos ser honrados, coerentes, combativos e solidários. Que as pessoas comprometidas com a superação do capitalismo sejam autênticas referências éticas é algo insubstituível pela comunicação escrita, e menos ainda a distribuída no mundo virtual.

Deve-se usar a internet para propagar nossas idéias, deve-se ter e participar ativamente de meios alternativos de comunicação. Também é especialmente importante a correta utilização das redes sociais para atrair jovens às nossas teses e organizações, mas nunca se deve abandonar a militância na vida real

Deveríamos fazer com nós mesmos o que fazemos com nossos filhos: impôr limites à Internet, dedicar as mesmas horas para expressar nossas opiniões em rede como fora dela ou falar com tantos amigos na rua ou no trabalho quanto na rede. De outra maneira, perderemos o contato com a realidade, e isto é a última coisa que nos podemos permitir. Se não somos capazes de militar na vida real, não deveríamos dar lições na rede aos que lutam por um mundo (real) melhor.

Quem está na roda?


Brincadeira de roda

Roda de capoeira, roda de chimarrão, roda de samba, roda de ciranda, roda de caipiririnha, lual, dança na tribo e em alguns passos o círculo se forma. Nos jardins de infância, sentadas no chão em rodas, as crianças aprendem brincando. Algumas escolas usam as carteiras em forma de círculo para ensinar, com o professor no papel de interventor e mediador dos temas debatidos. Nas ruas, quando se vê muita gente reunida, a forma geométrica é uma roda. Aliás essa é uma das cenas mais comuns em nossas cidades. E todos sabem que quando há um círculo de pessoas, normalmente dois ou três estão trabalhando e vários outros em volta palpitando. E não raro desses palpites surgem as soluções. 

Rodas são cuidadosamente planejadas por especialistas de alto nível para rodarem movidas por um motor e seus dentes engancharem tão perfeitamente uns nos outros que o produto sai prontinho, são as engrenagens.

Mas há outras rodas. Há os círculos fechados que, ao contrário das rodas de ciranda, de dança ou trabalho, não se abrem às novidades. Quem está neles está, quem não está, de fora fica.


O governo brasileiro tem me parecido um destes. Uma máquina que está com engrenagens gastas, muito por culpa de óleo de péssima qualidade que foi usado até bem pouco tempo, mas a roda principal, aquela por onde a polia move todo o resto, está com problemas. E com isso as outras estão rodando em falso. Algumas estão até paradas e o produto final está sendo comprometido.

A economia, com toda a crise internacional, está sofrendo muito pouco, é verdade. Ainda. Os programas sociais estão sendo tocados, o projeto que vem sendo desenvolvido desde 2003 está andando, a miséria diminuiu, os índices de analfabetismo baixaram, o desemprego é mínimo.  Enfim temos muitas razões para estar felizes. Por que não estamos, então?

Porque ao mesmo tempo em que as planilhas nos mostram uma realidade boa, estamos vendo algumas áreas fundamentais sendo deixadas ou - espero que seja distração e não projeto - postas propositadamente em segundo plano. A cultura é uma delas.

Por outro lado, várias pessoas que atuam e têm história de luta em áreas fundamentais em que o nosso país é rico, porém miserável em termos de suporte oficial para seu desenvolvimento e difusão,  reportam dificuldade em conversar com os representantes do governo, apresentar projetos que beneficiariam grupos marginalizados historicamente, aos quais devemos incluir como forma de beneficiar a todos.

Então talvez a resposta ao por que não estejamos mais felizes seja essa: criamos muitas expectativas, elegemos uma pessoa que durante anos esteve no comando da casa civil -  que portanto conhece todas as engrenagens do governo - e representa um partido que nasceu de bases sociais onde a democracia, a roda, era uma prática cotidiana. Assim, o que esperávamos era que a roda fosse aberta, que todos tivessem a sua vez de jogar. E o que temos é uma roda fechada, quase uma caixa preta.

A comunicação é falha, os projetos apresentados já vêm prontos e passaram pelo crivo de umas poucas mãos. O debate, o palpite que até na semeadura de um canteiro de horta é sempre bem vindo, está sendo negado.  Além de comprometer o produto final – o objetivo, quero crer é uma sociedade mais igualitária, pois não? – está sendo implementado um sistema que contraria tanto a cultura histórica do partido da nossa presidenta, quanto, e pior, a rica cultura brasileira.

Seria bom voltar a brincar de roda e na brincadeira ir inventando as regras e talvez assim a roda não se feche.  

Samba de roda

23 novembro, 2011

#OWS Indignados ocupam Obama




Após 2 anos, MPF denuncia 6 por assassinato de indígenas

Várias informações chamam a atenção neste post de hoje, do CIMI, e que agora já está nos principais portais de notícias. A semelhança "logística" com o massacre que foram vítimas semana passada os Kaiowá-Guarani, quando o Cacique Nísio Gomes foi barbaramente assassinado é a primeira delas. A segunda é o descaso com que o tema é tratado; a terceira, a evidência de conluio entre as autoridades locais e os grileiros (mesmo diante de depoimento de testemunhos do massacre, a polícia indicou "arquivar o caso", pelo indiciamento de um vereador do PSDB e de um ex-candidato a prefeito de Paranhos e pela investigação, ainda em curso da participação de veículos oficiais da prefeitura na condução dos assassinos) e; a quarta, que afinal não surpreende, a demora tanto da justiça quanto da Funai em atuar e resolver, dessa forma evitando que casos semelhantes voltem a ocorrer. 
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 Do Cimi

MPF/MS denuncia seis pessoas por assassinato de professores indígenas

Seis pessoas foram denunciadas pelo Ministério Público Federal em Mato Grosso do Sul (MPF/MS) pelo envolvimento no ataque, ocorrido em 2009, à comunidade indígena Ypo'i (Paranhos, sul do estado) e a morte dos professores indígenas Jenivaldo Vera e Rolindo Vera. Entre os denunciados estão políticos e fazendeiros da região. Eles são acusados por homicídio qualificado – sem possibilidade de defesa da vítima -, ocultação dos cadáveres, disparo de arma de fogo e lesão corporal contra idoso.

Rolindo Vera
Foram denunciados Fermino Aurélio Escolbar Filho, Rui Evaldo Nunes Escobar e Evaldo Luís Nunes Escobar - filhos do proprietário da Fazenda São Luís -, Moacir João Macedo - vereador e presidente do Sindicato Rural de Paranhos-, Antônio Pereira - comerciante da região, e Joanelse Tavares Pinheiro – ex-candidato a prefeito de Paranhos.
A denúncia foi protocolada em 14 de outubro, na Justiça Federal de Ponta Porã, por indígenas da etnia guarani-kaiowá. Se a denúncia for recebida pela Justiça, os investigados responderão como réus a ação penal. A decisão pode sair a qualquer momento. 

O MPF entende que há elementos suficientes contra os denunciados para a abertura da ação penal. Para o procurador da República Thiago dos Santos Luz, “não se pode pretender encerrar precocemente o caso e impedir o órgão acusatório (MPF) de provar as suas alegações, no âmbito do devido processo legal. Além de todo o arcabouço fático-probatório produzido durante as investigações, já bastante para autorizar a deflagração do processo penal, outras medidas estão em curso”.
Ainda segundo o procurador, “é intrigante constatar que pelo menos seis indígenas, as únicas testemunhas oculares dos fatos, em depoimentos detalhados, verossímeis e harmônicos, prestados logo após os crimes, tenham expressamente nominado e reconhecido três indivíduos que participaram direta e pessoalmente do violento ataque a Ypo´i e nenhuma delas tenha sido sequer indiciada pela autoridade policial, que concluiu o caso sugerindo o arquivamento. Pergunto-me: quantos testemunhos mais seriam necessários? Depoimentos de índios não valem nada?”.

Ataque

As mortes ocorreram durante expulsão de área reivindicada pelos indígenas como de ocupação tradicional indígena da etnia guarani-kaiowá (Tekoha Ypo´i), na Fazenda São Luiz, em Paranhos, em 31 de outubro de 2009. Alguns dos denunciados e outras pessoas ainda não identificadas chegaram ao local em caminhões e caminhonetes, efetuando disparos com pelo menos sete armas de fogo de vários calibres (12, 32, 36, 9mm Luger, 30 e 38) e agredindo o grupo de 50 indígenas. Mário Vera, à época com 89 anos, recebeu pauladas nas costas, ombros e pernas. Os dois professores foram mortos e os corpos, ocultados.

O corpo de Jenivaldo foi encontrado uma semana depois, em 7 de novembro, dentro no Rio Ypo´i, próximo ao local do conflito. Segundo boletim de ocorrência, Jenivaldo “estava sem camisa, com cueca e calção, descalço, com perfuração de arma de grosso calibre frontal no peito e nas costas”.
A perícia comprovou que a morte foi causada por um tiro nas costas, que saiu pelo peito, causando a hemorragia fatal. Apesar das buscas realizadas pela Polícia com o auxílio do Exército e do Corpo de Bombeiros, o corpo de Rolindo não foi encontrado até hoje.O MPF também requisitou abertura de novo inquérito na Polícia Federal de Ponta Porã para investigação da participação de outras pessoas nos crimes, além de indícios de utilização de veículo oficial da Prefeitura de Paranhos no deslocamento do grupo que atacou os indígenas.

Entenda o caso

Os estudos de identificação e delimitação da terra indígena Ypo´i foram previstos no TAC celebrado entre o MPF e a Funai em novembro de 2007. Como a entidade indigenista não cumpriu os prazos ali previstos, o MPF, em meados de 2010, ingressou com duas ações judiciais de execução de título extrajudicial, que estão em tramitação na Justiça Federal em Dourados(MS).

Depois de expulsos em 2009, os indígenas guarani-kaiowá reocuparam a área de reserva legal da Fazenda São Luís em 19 de agosto de 2010. Eles estão amparados por decisão do Tribunal Regional Federal da 3ª Região - TRF3 - que cassou ordem de reintegração de posse “até a produção de prova pericial antropológica”, ou seja, os estudos que confirmem os indícios de ocupação tradicional da região por aquele grupo étnico. Segundo o Tribunal "existem provas de que a Fazenda São Luiz pode vir a ser demarcada como área tradicionalmente ocupada pelos índios".

Assistência, Saúde e Educação

Desde então, a assistência aos indígenas – que ocupam uma área de mata de difícil acesso – vem sendo realizada graças a uma ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal perante a Justiça Federal em Ponta Porá (MS), que autorizou os órgãos responsáveis a entrar na fazenda duas vezes por mês para entrega de cestas básicas e remédios aos indígenas acampados.

Recentemente, a Justiça também deferiu pedido do MPF para o ingresso na área, três vezes por dia, de ônibus escolar para o transporte dos estudantes indígenas de Ypo´i. A medida está em fase de implementação, por causa do encerramento do ano letivo e a necessidade de compatibilização com o calendário das escolas indígenas da região.

Enterro raro em área ocupada

A Justiça Federal também autorizou o enterro do indígena Teodoro Recalde na área ocupada pelos índios dentro da Fazenda São Luís. Recalde, 33, foi encontrado morto com sinais de violência em setembro deste ano. O caso está sob investigação. Pela tradição, o índio deve ser sepultado em terra de seus ancestrais, daí a insistência dos guarani-kaiowá para realizar o enterro dentro da fazenda.

Ainda não se sabe as conseqüências do vazamento

Ainda não se pode saber quais os efeitos que o vazamento de óleo no Campo do Frade vai produzir. Em matéria de ontem, o Jornal o Globo alertava que a mancha pode chegar às praias capixabas. 


O site Skytruth, que analisa imagens de satélite, reportou também ontem que, devido à velocidade do vento, a imagem mostra uma possível dissipação do óleo, o que eles classificaram como encorajador. Mas as consequências reais da mancha, que chegou a medir mais de 43 km, ainda são uma incógnita, pois embora pela versão oficial o vazamento tenha sido contido, com certeza trará consequências para a vida marinha e quem dela vive.


Leia abaixo o post de ontem do Skytruth e logo após, a matéria da AG publicada na Gazeta online (dica de Silvia Souza no Google+)
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Derramamento de óleo da Bacia de Campos, Brasil - Dissipação?

Envisat ASAR imagem da Bacia de Campos tomadas 22 de novembro de 2011. Superfície ventos fortes demais para detectar confiavelmente manchas de óleo fino. Manchas brilhantes são navios e plataformas de petróleo. Imagem cedida pela Agência Espacial Europeia.


A imagem de radar de satélite da Bacia de Campos, Envisat ASAR hoje, que abrange o local do derramamento de petróleo Chevron / Transocean, não mostra nenhum sinal de uma mancha de óleo. A foto foi tirada por volta das 9:30 da manhã, horário local. No entanto, a velocidade do vento foi bastante forte na área no momento. De acordo com o satélite de dados escaterômetro recolhidos pelo sistema ASCAT, ventos de superfície estavam soprando a 15-25 nós (8-13 metros por segundo). Esta velocidade é forte o suficiente para "esconder' manchas de óleo muito fina (a velocidade do vento ideal para a detecção de manchas em imagens de radar é de cerca de 3-10 metros por segundo):
Velocidade de superfície e direção do vento derivada de dados escaterômetro ASCAT em quase o mesmo tempo que o viaduto 22 de novembro de satélite radar
Por isso, é possível que manchas de óleo muito fina permaneçam na área, mas é encorajador que nós não vejamos sinais de óleo grosso.
Uma imagem ASAR tomada em 11 de novembro em condições mais favoráveis ​​de vento (5-8 metros / seg) mostra claramente uma mancha de 20 milhas (32,186 km) de extensão próximo ao local de origem do vazamento:

Envisat ASAR imagem tomadas 11 de novembro de 2011. INPE Imagem cortesia

E esta imagem de radar tomada em 14 de novembro mostra uma mancha de 27 milhas (43.4511 km) de extensão. Na superfície do mar, a velocidade do vento medida foi favorável pela manhã, mas excessiva (13-15 metros / seg) à noite, então partes da mancha pode não ser visível na imagem:

Envisat ASAR imagem tomadas 14 de novembro de 2011. INPE Imagem cortesia 


Estamos cautelosamente otimistas de que esse vazamento tem sido mantida sob controle. Estamos esperando por algumas imagens de radar nos próximos dias, tirada sob condições de vento moderado. Vamos atualizá-lo à medida em que houver mais imagens.

Óleo que vazou no Rio ameaça nossas praias
Ibama alerta que mancha pode chegar às praias capixabas

Gazetaonline - 22/11/2011 - 21h08

O óleo derramado pela Chevron no campo de Frade, na Bacia de Campos, pode chegar às praias do Rio, sobretudo Búzios e Angra, e também do Espírito Santo e São Paulo (Ubatuba) dentro de duas semanas. O alerta foi dado por técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, (Ibama) e do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) em reunião com o secretário estadual do Ambiente, Carlos Minc.

"Cerca de dois terços de todo o óleo derramado, sobretudo aquele mais grosso, ainda está abaixo do espelho d'água. Esse óleo vai passando por processo físicoquímico e vira pelotas que vão acabar nas praias", disse Minc.

Ele acrescentou que tudo vai depender agora das condições climáticas para determinar o tempo que essas "bolas de piche" vão levar para chegar nas praias. Ao comentar o acidente da Chevron, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que o vazamento de petróleo ocorrido na Bacia de Campos é um problema que atinge toda a indústria do setor.

"Entendemos que esse problema não atinge só a empresa que tem o acidente. Ela atinge a indústria como um todo e atinge a sociedade. Então, nós estamos comprometidos com o conjunto de ações. Agora, não posso falar sobre casos específicos", afirmou.
foto: Agência O Globo
Mancha de petrÃ?leo no vazamento de plataforma no Rio de Janeiro - Editoria: Economia AG - Foto: Agência O Globo
A mancha de de óleo no campo de Frade pode chegar ao Estado
A mancha de petróleo derramado na Bacia de Campos diminuiu e continua se afastando do litoral, mas o vazamento de petróleo ainda persiste, informou ontem a Agência Nacional de Petróleo (ANP) em comunicado. 

Conforme a agência, a área da mancha diminuiu de 12 km2, no último dia 18, para 2 km2 na segunda-feira, segundo "observação visual" dos técnicos. Estima-se que tenha atualmente 6 km de extensão. Vídeo submarino feito pelo ROV (sigla em inglês para veículo operado remotamente), divulgado pela ANP, mostra que ainda há um ponto com pequeno fluxo de vazamento. Mas, segundo a agência, a fonte "primária" de vazamento foi controlada. 

R$ 260 milhões em multas

As duas autuações que serão feitas pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e Ibama podem obrigar a empresa a pagar até R$ 100 milhões (R$ 50 milhões por cada infração). Então, pode chegar a R$ 260 milhões o total de multas, indenizações e compensações ambientais que a Chevron Brasil terá de pagar pelo acidente no Campo de Frade, na Bacia de Campos. 

Esse valor inclui multa já aplicada pelo Ibama (R$ 50 milhões) e a possibilidade de uma nova autuação em R$ 10 milhões, autuações da Agência Nacional do Petróleo (R$ 100 milhões) e do governo do Estado do Rio (mais R$ 100 milhões). Segundo a ANP, a petrolífera americana mentiu, ocultando informações e imagens sobre o vazamento de petróleo iniciado há 15 dias, e poderá ser proibida de operar no país. A Chevron disse ter recebido as autuações e que estuda o assunto para decidir que medidas tomar. 

foto: Editoria de Arte de A Gazeta
Vazamento na bacia de campos no poço da chevron, infográfico
ONG americana divulga análisesA ONG americana SkyTruth, que usa imagens de satélites para monitorar acidentes ambientais, divulgou ontem em seu site novas análises sobre a região afetada pelo vazamento de óleo no Campo de Frade, na costa fluminense. Segundo a ONG, novas imagens de satélite cedidas pela Agência Espacial Europeia tiradas na manhã desta terça-feira não mostram mais os sinais da mancha de óleo provocada pelo acidente da Chevron que havia sido detectada em imagens da Nasa no último dia 12. 
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