30 outubro, 2012

A derrota de um cadáver político insepulto


Por: Dennis de Oliveira ( @dennisoliveira )
Da: Revista Forum

Em uma rápida análise feita com base nas matérias publicadas sobre o segundo turno das eleições municipais em São Paulo, elencamos os temas presentes nas declarações dadas à imprensa ou registradas pela imprensa em comícios e outros atos de campanha dos dois candidatos. O tema mais falado por Serra foi o mensalão, seguido de saúde e o kit anti-homofobia. Já Fernando Haddad priorizou saúde, mensalão e a taxa de inspeção veicular.

HaddadSerra
Saúde (31,82%)Mensalão (39,13%)
Mensalão (18,18%)Saúde (21,74%)
Taxa Inspeção Veicular (13,63%)Kit-antihomofobia (13,04%)
Educação/creches (9,09%)Transporte (9%)

Percebe-se a presença de uma agenda “negativa” nos discursos de Serra, uma campanha que procurou se pautar muito mais pelo “perigo do PT”, discurso que beira até o ressentimento, do que um discurso propositivo. A ausência de programa – ele foi só apresentado em outubro – foi acompanhada da apresentação de um monte de promessas desconectadas na área social, como o aumento de salários de professores, a bolsa-creche, o bilhete único de seis horas, a jornada de 7 horas nas escolas. Isto ocorreu após a percepção de que o discurso fundamentalista-religioso ampliou a sua rejeição, o fez perder mais votos e ainda afastou líderes históricos do partido, como Fernando Henrique Cardoso e José Gregori.

Os resultados pífios nas primeiras pesquisas de intenção de voto fizeram o candidato disparar contra tudo e contra todos. Acusou o PT de fazer baixaria, passou a agredir a própria grande mídia sempre simpática a ele (note-se que o tema mensalão foi o assunto principal da agenda midiática) e tentou se posar de popular. Ao perder as eleições, desejou boa sorte ao adversário vencedor sem citar o seu nome. A derrota foi vergonhosa pois contou com tudo a seu favor – a máquina do governo, a mídia favorável e o fato do adversário entrar na corrida eleitoral como um desconhecido.

Governador e desembargador zombaram dos Kaiowá

Crianças Gaurani-Kaiowá na aldeia Sucury 


Por: Luiza Bodenmüller e Spensy Pimentel


São Paulo - O drama dos Guarani-Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, chamou a atenção das redes sociais nas últimas semanas, mas não tem comovido as autoridades do estado, conforme demonstram documentos divulgados pelo Wikileaks.

Um comunicado diplomático de março de 2009 relata uma visita do então cônsul norte-americano no Brasil, Thomas White, ao estado. Sua comitiva manteve conversas com o governador André Puccinelli (PMDB) e outras figuras de peso, como o então presidente do Tribunal de Justiça do estado, Elpídio Helvécio Chaves Martins.

O telegrama, de 21 de maio de 2009 e endereçado ao Departamento de Estado dos Estados Unidos pelo Consulado de São Paulo, relata a visita do cônsul-geral e sua equipe ao Mato Grosso do Sul. Segundo o documento, durante os quatro dias de visita, houve reuniões com membros do governo federal e estadual, do setor privado e também com lideranças indígenas.

O telegrama revela que a ideia de que os Guarani-Kaiowá poderão ter mais terras demarcadas é vista com desdém pelas autoridades locais.

“O governador Puccinelli zombou da ideia de que a terra, num estado como o Mato Grosso do Sul, cuja principal atividade econômica é a agricultura, poderia ser retirada das mãos dos produtores que cultivam a terra há décadas para devolvê-la aos grupos indígenas”, lê-se.

Além de Puccinelli, entre os entrevistados estavam o então presidente do TJ-MS, Elpidio Helvecio Chaves Martins e o presidente da Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul, Sergio Marcolino Longen. Do outro lado da disputa, além de lideranças indígenas (os guarani Otoniel Ricardo, Teodora de Souza, Edil Benites e Norvaldo Mendes) foram ouvidos representantes de grupos que fazem a defesa dos direitos indígenas, como o procurador Federal Marco Antonio Delfino e o advogado do Conselho Indigenista Missionário Rogerio Battaglia, entre outros.

O desembargador Chaves Martins, por sua vez, ponderou, na conversa com a delegação norte-americana, que a demarcação de novas terras para os indígenas poderia ter efeitos negativos – ao contrário do que reivindica o movimento indígena.

“Chaves advertiu que as tendências ao separatismo nas comunidades indígenas – concentrando os índios em reservas expandidas – só iriam agravar os seus problemas. Dourados tem uma reserva vizinha, que Chaves previu que se tornará a ‘primeira favela indígena do Brasil’ se persistir a tendência a isolar e dar tratamento separado aos povos indígenas”, relata o cônsul.

Segundo defensores dos direitos indígenas, a reserva de Dourados tem péssimas condições de vida em função da sobrepopulação ocasionada pela falta de terras: são 11,3 mil pessoas vivendo em 3,5 mil hectares.

O então presidente do Tribunal de Justiça também reclamou de “calúnias” que as autoridades locais sofrem dos ativistas, sendo acusadas de “tortura e racismo”, quando estão simplesmente “tentando cumprir a lei”.

Segundo recentes relatórios do Conselho Indigenista Missionário, há mais assassinatos entre indígenas no Mato Grosso do Sul, e particularmente entre os Guarani-Kaiowá, do que em todo o resto do Brasil: entre 2003 e 2011, foram 279 em MS, e 224 no restante do Brasil. O estado também se destaca pelo número de suicídios entre indígenas e outras mazelas, como desnutrição infantil.

Índios deviam “aprender a trabalhar”

De modo geral, avalia o comunicado diplomático, as autoridades locais acreditam que as demandas indígenas pelas demarcações e o retorno ao estilo de vida tradicional “não têm base”.

“Autoridades municipais e estaduais perguntaram como os índios dali reivindicavam ser índios, se eles ‘usam carros, tênis, drogas’. Eles reclamaram dos subsídios públicos dados aos índios, afirmando que eles deveriam ‘aprender a trabalhar como qualquer um’”, relata ainda o telegrama.

O telegrama expressa a conclusão de que não há “solução fácil” para o conflito em Mato Grosso do Sul. Para os norte-americanos, apesar de estarem na posse das terras há décadas, somente 30 a 40% dos agricultores devem ter títulos legais no estado – a conclusão é baseada em uma estimativa do geógrafo Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da Universidade de São Paulo.

“Era difícil ver um meio termo potencial no conflito entre índios e agronegócio em Dourados. Apesar de os índios parecerem menos radicais do que, por exemplo, o não étnico Movimento dos Sem-Terra (MST), eles parecem não menos dedicados à sua meta de recuperar suas terras ancestrais, e a oposição dos proprietários parece igualmente arraigada”, avalia o telegrama.

Para os americanos, a situação das terras indígenas em MS e outras partes continuará apresentando desafios à democracia brasileira nos próximos anos. “A única coisa que fica clara é que, sem uma postura mais proativa do governo brasileiro, o assunto não vai se resolver por si mesmo”, conclui outro comunicado de 2008 sobre o tema – intitulado significativamente de “o desastre guarani-kaiowá”.

Nas últimas semanas, uma carta da comunidade guarani-kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay (Iguatemi-MS) deflagrou uma ampla campanha de solidariedade com esse povo indígena com base especialmente na internet. A demanda básica dos Guarani-Kaiowá é pela demarcação de terras: atualmente esse povo, o segundo maior do país, soma 43,4 mil pessoas, vivendo em pouco mais de 42 mil hectares.

Na carta, os indígenas afirmam não acreditar mais na Justiça brasileira e, diante do abandono do Estado e das constantes ameaças de pistoleiros, fazem, em tom dramático, o pedido para que seja decretada a “morte coletiva” dos 170 Guarani-Kaiowá da comunidade.

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Leia também:

Relatório da AL questiona titulação de terras a índios e quilombolas no RS A tragédia social dos Guarani Kaiowá

29 outubro, 2012

A grandeza da política

por Denise Queiroz
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Brizola, Lula, Osmar Santos e Franco Montoro em comício pelas Diretas-já (arquivo)

Ontem, depois de mais de 90% dos votos apurados e de muitas gargalhadas assistindo à cobertura da apuração na Globonews, entrou na minha timeline do tuíter um avatar desconhecido que fazia coro ao discurso corrente da velha mídia e da campanha tucana. Elegeram um partido de bandidos, mensaleiros, condenados, foram algumas das palavras. Obviamente, diante da felicidade de ver Haddad eleito em São Paulo e da vitória de um projeto ainda sendo aperfeiçoado, mas muito mais próximo das necessidades de inclusão da maior capital do país ao século 21, tratei o sujeito como trato a todos os que aparecem com essa retórica. Depois de algumas tuitadas, o sujeito finalmente revelou que não era do psdb, e sim do PSOL. Em gauchês, “me caiu os butiá do bolso”.

Conheci, alguns pessoalmente, vários dos fundadores do PT que depois saíram do partido e fundaram o PSOL. Entendo suas razões, e embora não concorde que a luta de fora seja mais construtiva que a de dentro, respeito alguns deles. E vejo como legítimo que se tente empreender uma forma de fazer política diferente à medida que uma agremiação se distancie do ideal de cada um. Fecha parêntesis. O que me deixa bastante assustada, e exatamente por conhecer alguns desses dirigentes que tem longa história de luta junto ao campo popular, é a semelhança do discurso que apareceu na TL, em sendo verdade que o sujeito é simpático ao partido, com o que há de mais nefasto na política brasileira.

Também a imprensa relatou ontem que, quando exercia seu direito de votar, um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que já foi presidente do Tribunal Superior Eleitoral, (TSE) e a quem coube a revisão da ação 470, a do mensalão, teria sido agredido verbalmente por uma eleitora e por um mesário. Se fato, mais que o desrespeito e a falta de educação correntes, o episódio revela o quanto a mídia e um discurso parcial podem ser perigosos para a nossa, como diz o querido companheiro Gilmar da Rosa, mimosa (a democracia).

Acompanhando a apuração e o gaguejar inconsistente do time de comentaristas e especialistas (?) em política da Globonews, constatava a cada minuto o espanto deles diante dos resultados que iam se desenhando. Houve um momento em que, em três curtas orações, o comentarista – guindado a membro da academia brasileira de letras pelos serviços que presta não ao povo ou às letras, mas aos interesses de quem só vê povo como massa de consumo e manobra – mencionou a palavra mensalão QUATRO vezes.

“A pobreza das idéias dessa gente que comanda os alicerces do paísr”, conforme já cantava na década de 80 o Nei Lisboa, ficou evidente. Na falta de idéias que possam convencer a população de que devem comandar outra vez, usaram como plataforma eleitoral e se apegaram a um episódio nebuloso, mas o único de tantos como ele que chegou à suprema corte do país, para tentar desqualificar e criminalizar todas as ações promovidas pelo partido e seus associados políticos em benefício dos quase 200 milhões de brasileiros .

É um caminho perigoso. Os mesmos que durante séculos alimentaram a cisão econômica e em consequência disso, a social, não mais disfarçam o seu ódio hidrofóbico à pobreza, ao diferente que cada vez se diferencia menos. Mas assim como entendo – com as ressalvas expostas acima – a fundação de outro partido a partir da costela do PT, entendo quando esse discurso raivoso vem de representantes dos privilegiados. É a reação primeira e natural às mudanças, que com o tempo tende a ser assimilada. O que é incompreensível é que quem se diz 'de esquerda’, onde está implícito, mais que tudo, a igualdade humana no mais amplo sentido, use o mesmo discurso. E mais que isso, é extremamente preocupante.

A grandeza da política é a de outras falas. Parte dela está no discurso de Fernando Haddad de ontem, pela vitória: “quero agradecer por último, mas não menos importante, a todos meus opositores que me obrigaram a extrair o melhor de mim nessa campanha para poder superá-los”.


28 outubro, 2012

Discurso da vitória de Haddad

Imagem do Terra 

Agradecimentos

Minhas amigas e meus amigos. Pela vontade soberana dos paulistanos, sou agora o prefeito eleito de São Paulo. Uma alegria imensa e uma enorme responsabilidade dividem espaço no meu peito. O sentimento mais forte, porém, é de gratidão.

Quero agradecer em primeiro lugar aos milhões de homens e mulheres que me confiaram o voto. Minha família, minha mulher Ana Estela, minha filha Carolina e meu filho Frederico, que fizeram muitos sacrifícios para me ajudar nessa jornada. Quero agradecer do fundo do coração ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Viva o presidente Lula!

Agradeço ao presidente Lula do fundo do coração pela confiança, orientação e apoio, sem os quais seria impossível eu lograr qualquer êxito nessa eleição. Quero agradecer uma outra grande liderança nacional, a presidenta Dilma Rousseff. Agradeço à presidente Dilma pela presença vigorosa na campanha desde o primeiro turno. Pelo estímulo pessoal e o conforto nos momentos mais difíceis dessa campanha.

Quero agradecer os partidos coligados do primeiro turno, nos quais sintetizo minha homenagem na figura valorosa da companheira, minha vice, Nádia Campeão. Quero agradecer aos apoiadores que ampliaram nossa corrente no segundo turno, nos quais sintetizo minha homenagem e meu agradecimento nas figuras do querido deputado Gabriel Chalita e no vice-presidente Michel Temer. Muito obrigado presidente Michel Temer.

Quero fazer meu agradecimento muito especial ao meu partido, Partido dos Trabalhadores. Partido que se lançou de corpo e alma nessa luta pacífica em favor do povo de São Paulo. Como seria impossível nomear milhares de colaboradores diretos, sintetizo meu agradecimento e minha homenagem na figura decisiva e equilibrada do meu coordenador Antonio Donato.

Quero agradecer a todos, quero agradecer por último, mas não menos importante, a todos meus opositores que me obrigaram a extrair o melhor de mim nessa campanha para poder superá-los em uma disputa limpa e democrática. A todos indistintamente o meu muito obrigado.
Discurso da vitória

Fui eleito pelo sentimento de mudança que domina a alma do povo de São Paulo. Sei da enorme responsabilidade de todos que são eleitos pelo signo da mudança. Ser eleito pela força da mudança significa não ter tempo a perder. Não ter medo de enfrentar, nem ter justificativas a dar para tornar esse sonho realidade. Significa não ter paciência e não pedir paciência. Antes de tudo, traçar prioridades e unir a cidade em torno de um projeto coletivo, de todos os paulistanos, de todos os moradores de São Paulo.

Meu objetivo central está plenamente delineado, discutido e aprovado pela maioria do povo de São Paulo. É diminuir a grande desigualdade existente em nossa cidade, é derrubar o muro da vergonha que separa a cidade rica e a cidade pobre. Somos uma das mais ricas e ao mesmo tempo uma das mais desiguais do planeta. Não podemos deixar que isso siga assim por tempo indeterminado, exatamente no momento em que o Brasil vem passando por uma das mudanças sociais vigorosas do mundo. A prefeitura tem um papel importante nisso, pois é ela que cuida da oferta e da qualidade de alguns dos serviços públicos mais essenciais como a saúde, o transporte, a educação, a habitação, entre outros.

Melhorar esses serviços é também uma forma concreta de distribuir renda, diminuir os desequilíbrios, aumentar e garantir a paz social. Sei que essa não é uma tarefa fácil, dada a complexidade dos problemas que vêm se acumulando nos últimos anos. Mas se São Paulo não conseguir resolver seus problemas, que cidade no Brasil e no mundo conseguirá fazê-lo? O fracasso de São Paulo seria o fracasso desse genial modelo de convivência que a humanidade desenhou ao longo dos séculos para sobreviver e ser feliz. Essa invenção insuperável do gênio humano, que se chama cidade.

As cidades foram inventadas para unir, não para desunir. Proteger e não fragilizar. Acarinhar e não violentar. Para dar conforto e não sofrimento. São Paulo tem seus grandes problemas, mas tem e terá as próprias soluções. O Brasil moderno nasceu aqui e o surpreendente Brasil do novo milênio também estará aqui. Se corrigirmos nossos erros, se superarmos a inércia, se quebrarmos o imobilismo, e se recuperamos a alma criativa e o espírito de empreendedorismo que sempre foram a marca de São Paulo.


27 outubro, 2012

Sim, é preciso resistir – uma resposta ao Estadão

por Denise Queiroz
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Onda de violência, edição de debates para favorecer o candidato da agora oposição ao governo, panfletos apócrifos, sites falsos... faltou a bolinha de papel e as previsíveis manchetes, em chamadas extraordinárias, sobre suposta agressão ao candidato que vinha mal nas pesquisas para que a eleição de São Paulo deste ano revivesse, em alguns dias, todo o cordel de baixo nível que assistimos desde que voltamos a ter eleições diretas para todos os cargos.

Independente dos marqueteiros que, no desempenho de seu ofício, apresentam o melhor lado do candidato, tanto na propaganda eleitoral gratuita quanto nos debates, segue em jogo dois projetos opostos de governança.

De um lado o representante – sempre ele, o mesmo desde 2002 e só não o foi em 1998 por que houve alteração na constituição e, pelo domínio dos fatos não julgados, comprada por quem ocupava a cadeira mais alta – das oligarquias que tiveram o comando do país durante 500 anos, com algumas pequenas interrupções e tentativa de avanços logo sufocadas por essas mesmas oligarquias. E de outro um projeto que vem colocando em prática algo que não é nem o pior capitalismo, mas tampouco socialismo, comunismo ou o nome que se queira dar. Na verdade um projeto que vem quebrando paradigmas e aos poucos resgatando parte pequena da dívida que essa gente montada no mando de fato deixou nesses séculos todos. O pagamento dessa dívida é feito em doses homeopáticas, mas mesmo assim, como o medicamento, com mais eficácia e menos danos colaterais que doses alopáticas poderiam causar.

“Devagar e sempre”, “passo a passo”, “de grão em grão a galinha enche o papo”, “de poste em poste um luz para todos”. São muitos os ditos, antigos ou recém criados, que já fazem parte e se aplicam a estes últimos 10 anos!

“O pior cego é o que não quer ver” cai como uma luva hoje, véspera do segundo turno, tanto ao editorial do Estadão “resistir é preciso”– onde mais uma vez o jornalão deixa claro de que lado está e que, caso eleito, Haddad não terá neles um aliado, quanto aos ainda milhares de eleitores que, talvez por algo como catarata, não conseguem visualizar que a inclusão social e econômica de quem sempre esteve à margem propicia, a eles mesmos, um “bem-estar” que em outros tempos e sob outros comandos era incerto.

Na política não há perfeição e sempre há riscos. Mas entre optar por um projeto que ainda na candidatura é capaz dos piores artifícios para desqualificar o adversário e assim ‘ganhar no tapetão”, a exemplo do que foi feito em 1989, 1994, 1998 e tentado sem sucesso, de várias formas, em 2002, 2006 e 2010, não há dúvida de que a escolha óbvia é pelo projeto que, dentro das regras - questionáveis e necessitando faxina e reconstrução - do jogo eleitoral, representa possibilidade de transformação e recapacitação da cidade como ambiente a ser ocupado por quem de direito, todos os cidadãos.


 


25 outubro, 2012

O julgamento do “mensalão”, a farsa e os farsantes

O texto, vídeo, do Bob Fernandes, foi publicado,transmitido, em 21 de agosto no Terra. Não perdeu a atualidade nem perderá enquanto o que ainda não prescreveu (terminou o prazo legal para ser levado aos tribunais) não for julgado!


Colo aqui a partir do estranhamento que Marco Aurélio Mello (DoLaDoDeLa) e tantos outros tiveram pelo fato do Noblat - cuja esposa é co-ré numa ação no próprio STF -  ter publicado no seu blog.

Veja o vídeo ou, caso seu computador esteja lento como o meu, leia o texto, abaixo.

 

Há quem diga ser uma farsa o julgamento do chamado "mensalão". Não, o julgamento não é uma farsa. É fruto de fatos. Ou era mesada, o tal "mensalão", ou era caixa dois; essa que (quase) todo mundo faz e usa. Mas não há como dizer que há uma farsa. E quem fez, que pague o que fez. A farsa existe, mas não está nestes fatos.
Farsa é, 14 anos depois, admitir a compra de votos para se aprovar a reeleição em 98 -Fernando Henrique Cardoso-, mas dizer que não sabe quem comprou. Isso enquanto aponta o dedo e o verbo para as compras que agora estão em julgamento. A compra de votos existiu em 97. Mas não deu em CPI, não deu em nada.

Farsa é fazer de conta que em 1998 não existiram as fitas e os fatos da privatização da Telebras. É fazer de conta que a cúpula do governo de então não foi gravada em tramoias e conversas escandalosas num negócio de R$ 22 bilhões. Aquilo derrubou um pedaço do governo tucano. Mas não deu em CPI. Ninguém foi preso. Deu em nada.

Farsa é esquecer que nos anos PC Farias se falava em corrupção na casa do bilhão. Isso no governo Collor; eleito, nos lembremos, com decisivo apoio da chamada "grande mídia".

À época, a Polícia Federal indiciou mais de 400 empresas e 110 grandes empresários. A justiça e a mídia deixaram pra lá o inquérito de 100 mil páginas, com os corruptos e os corruptores. Tudo prescreveu. Fora PC Farias, ninguém pagou. Isso, aquilo, foi uma farsa.


Farsa foi, é, o silêncio estrondoso diante do livro "A Privataria Tucana". Livro que, em 115 páginas de documentos de uma CPI e de investigação em paraísos fiscais, expõe bastidores da privatização da telefonia. Farsa é buscar desqualificar o autor e fazer de conta que os documentos não existem ou "são velhos". Como se novas fossem as denúncias agora repisadas nas manchetes na busca de condenações a qualquer custo.

Farsa é continuar se investigando os investigadores e se esquecer dos fatos que levaram à operação Satiagraha. Operação desmontada a partir da farsa de uma fita que não existiu. Fita fantasma que numa ponta tinha Demóstenes Torres e a turma do Cachoeira. E que, na outra ponta da conversa que ninguém ouviu, teve (ou melhor, teria tido), o ministro Gilmar Mendes.

Farsa é, anos depois de enterrada a Satiagraha, o silêncio em relação a 550 milhões de dólares. Sim, por não terem origem comprovada, US$ 550 milhões continuam retidos pelos governos dos EUA e da Inglaterra. E o que se ouve, se lê ou se investiga? Nada. Tudo segue enterrado. Em silêncio.

O julgamento do chamado "mensalão" não é uma farsa. Farsa é, isso sim, isolá-lo desses outros fatos todos e torná-lo único. Farsa é politizá-lo ainda mais. Farsesco é magnificá-lo, chamá-lo de "o maior julgamento da história do Brasil".

Farsa não porque esse não seja o maior julgamento da história. Farsa porque se esquecem de dizer que esse é o "maior" porque NÃO EXISTIRAM outros julgamentos na história do Brasil em relação a todos estes casos e tantos outros. Por isso, esse é o "maior".

Existiram, isso sempre e a cada escândalo, alianças ideológicas e empresariais na luta pelo poder. Farsa, porque ao final prevaleceu sempre, até que visse o "mensalão", o estrondoso silêncio cúmplice.



Alô, Alô, candidatos!



por @WillianFagiolo

Eu já sabia, mas não queria acreditar. É verdade. Nunca pensei tanto em cidades como agora que estou fora do governo há tanto tempo. É um lugar comum, porém mais que verdadeiro: nunca entenderemos o nosso presente ou prepararemos o futuro sem analisarmos o passado. Pura perspectiva histórica.

Num dia 20 de maio, anos atrás, estive na cidade de Cascavel, PR, Centro de Convenções e Eventos, representando a ITAIPU Binacional, fazendo uma palestra, por ocasião da 3ª Jornada de Engenharia e Arquitetura, Fórum de Desenvolvimento Urbano e FENARC (Feira da Engenharia, Arquitetura e Construção). 

Cá comigo, acho que a maioria das cidades brasileiras, e seus dirigentes, ainda não saiu do estágio tribal. Não me levem a mal.

Vou pelejando. Uma das coisas que sempre me encantaram, neste mais de meio século de vida que tenho, foi conhecer pessoas, que, em minha lista de eventos favoritos, conseguem, nesse imenso mar de manipulações, expressar humanidade. Coisa rara. 

O mundo cresceu, com ele o Brasil. Claro, o Brasil, de adolescente passou a maduro, politizou-se e, com ele, nós. Como arquiteto sei que não há política social sem uma justa política urbana. Aos “quadrados e complicados”, digo que “a coisa é muito simples”, e que sou um arquiteto e humanista, antes de ser o urbanista que sou. Agora, luto pela urbanidade. Dentro de nós, reabrem-se esperanças há muito aguardadas. Hoje tudo está claro. Daí a importância extraordinária deste momento: o Brasil esforça-se para saber o que quer. E o que não quer. 

Sou da geração do silêncio imposto pela crueldade da censura e do regime militar. Por isso, aprendi a observar muito e a pensar cuidadosamente, passo a passo. 
Fui lá em Cascavel falar sobre Um Novo Modelo de Gestão de Cidades. Escolhi o tema. Para os atentos leitores o assunto não é novidade.

Como Keynes (John Maynard, o nobre economista), eu concordo que no longo prazo todos estaremos mortos. Alguém discorda? Esse foi o início da minha fala. Tudo por causa dos intermináveis e desenxabidos Planos Diretores, as cidades brasileiras ora estão como birutas de aeroporto, que mudam de direção todo o tempo, desorientadas, ou estão como icebergs, que seguem sempre numa mesma direção, imutáveis, inertes. A realidade é que a população não espera o tal do planejamento de longo prazo, abstrato, incompreensível. Por isso temos que mudar, urgentemente, o modelo herdado do Planejamento Modernista Ortodoxo do século 20. 

Matem a rua, dizia Le Corbusier (Charles Édouard Jeanneret, arquiteto e escritor suíço, que influenciou toda uma geração, inclusive a minha, e, principalmente, o ensino de arquitetura e as leis de uso e ocupação do solo/zoneamento no Brasil). Le Corbusier acreditava piamente no mito da modernidade, na ciência e na tecnologia como soluções para todos os problemas da humanidade.

“O homem é o que ele faz”, e , portanto, deve existir uma correspondência cada vez mais estreita entre a produção, tornada mais eficaz pela ciência, a tecnologia ou a administração, a organização da sociedade, regulada pela lei da vida pessoal. Cada um por si. Isso deu certo?

O projeto da modernidade parece ter se mostrado insuficiente para solucionar os problemas que assolam a humanidade e nossas cidades. Trocando em miúdos, isto quer dizer que, além de crises políticas e econômicas em escala mundial, estamos também presenciando uma crise histórica – a crise da Era Moderna.
A Pós-modernidade tem sido vista por teóricos e intelectuais como uma condição histórica contemporânea. Calma, faço a distinção, oportunamente, entre Pós-modernismo e Pós-modernidade.

O Pós-modernismo define um movimento de origem artística, que nasceu na década de 70, com maior visibilidade no campo da arquitetura. É um movimento que se pautou por uma estética que denunciava as promessas não cumpridas pela modernidade. 

A tentativa de definir a Pós-modernidade é mais recente, vem do final da década de 80 e início da década de 90, e procura conceituá-la como um período de transição histórica que poderá culminar na superação dos cânones modernos. Por isso ouvimos tanto falar na busca de novos paradigmas. 

O que é Modernidade, cuja presença é tão central em nossas idéias e práticas após mais de três séculos e que está em discussão, rejeitada ou redefinida, nos dias de hoje? 

A Modernidade se caracteriza por ser a "época da história" em oposição à visão naturalista, de Rousseau, e cíclica do curso do mundo, fato que pode ser entendido a partir do processo de secularização e de autonomização do pensamento, nos domínios da ciência e da técnica. O paradigma cultural da Modernidade constituiu-se entre o século 16 e finais do século 18 coincidindo, aproximadamente, com a emergência do capitalismo enquanto modo de produção dominante nos países da Europa .
Neste processo distinguimos três períodos:
Capitalismo Liberal (século 19);
Capitalismo Organizado (fim do século 19 até 2ª guerra mundial);
Capitalismo Financeiro, também designado de capitalismo desorganizado, selvagem (inicio na década de 60).


Foto: Metropolis

A Modernidade construiu um ambicioso e revolucionário projeto , que buscou transformar a face da Terra pela fé na ciência e na técnica aplicadas às forças produtivas; nas relações liberais de mercado como capazes de implementar um estado justo e próspero; na positividade do progresso e na sua constante renovação e superação. No entanto, o que se observou é que, ao invés dos princípios coexistirem harmoniosamente, sinergicamente, eles se sobrepuseram uns aos outros, levando o processo a um desequilíbrio. Por exemplo, no período do capitalismo liberal, houve um desenvolvimento sem precedentes do princípio do mercado, atrofiando o princípio da comunidade e pressionando o estado a uma ressignificação de seu papel.

A Modernidade é um paradoxo, uma unidade de desunidade, pois ao mesmo tempo em que une as pessoas no mundo, destruindo as fronteiras geográficas, raciais e de classes, coloca-as num ambiente conflitante, contraditório.

No Urbanismo Ortodoxo, a capacidade de interação entre as pessoas, de poderem se esbarrar nas ruas, o que era algo importante até o século 19, desapareceu em grande medida no século 20. Tudo de bom estava nas ruas. 
Hoje muita gente já valoriza isso, mas durante 50 anos ou mais predominaram as idéias de Le Corbusier, cujo lema era: ''Matem a rua''. E ele teve muitos discípulos ao redor do mundo, como escrevi acima. 

Eu proclamo: Enterrem o irrealizável Plano Diretor ! Não percam tempo com o lero-lero interminável que ninguém entende.

O grande desafio de Arquitetos e Gestores Públicos, neste novo século, será encontrar soluções para erros do passado. O maior desafio do Planejamento Urbano Contemporâneo é aumentar o potencial competitivo das cidades no sentido de responder às demandas globais e atrair recursos humanos e financeiros internacionais. 

Uma Nova Gestão de Cidades compreende um conjunto integrado de políticas que vão desde a habitação, o trânsito (que agora entra definitivamente na agenda principal da questão urbana, a mobilidade), o transporte, o urbanismo e ordenamento do território urbano, passando pelas políticas de ataque às "chagas sociais", características, sobretudo, das grandes áreas metropolitanas, desemprego, droga, favelas, violência urbana, etc. e que começam a atingir, de forma indiscriminada, todas as cidades brasileiras. O novo modelo de gestão procura atacar os problemas urbanísticos, sociais e de segurança preventiva das cidades e também das grandes áreas metropolitanas de uma forma coordenada, multilateral e concertada, numa palavra, de uma forma integrada.

O contexto das críticas ao Urbanismo Moderno Ortodoxo é, principalmente, à legislação existente em todos os níveis de governos, fenômeno que extrapolou todas as fronteiras, banalizando-se enquanto intervenções urbanas tardias em nossas cidades. Hoje podemos identificar no cotidiano das nossas cidades as razões da violência, da sujeira e do abandono, ou o contrário, a boa manutenção, a segurança e a qualidade de vida de lugares que constituem a cena real das metrópoles, em simetria ao esquematismo dos modos de vida que os planejadores modernistas previam em seus modelos urbanos ideais. É crescente o número de elementos carcerários presentes nas habitações. Como já escrevi, as residências se assemelham mais a presídios de segurança máxima, com sistemas sofisticados de alarmes, sensores e câmeras de vídeo. 

Estamos diante de uma arquitetura que explicita, sem vergonha, o medo da violência. O espaço público não é mais o espaço das trocas, do aprendizado, dos encontros. A rua não é mais um local de socialização, ou seja, mataram a rua. O que está em jogo é o sentido de cidadania. Ao se trancafiar, a pessoa não percebe nem vivencia a cidade. Tudo isso intensifica a "privatização da vida" e, o que é pior, a privatização do espaço público, o que faz com que a relação com a cidadania seja castrada. 

Lógico que pretendo formular uma crítica aos axiomas desse planejamento ortodoxo : A Separação das Funções / Zoneamento e a Autopia (a lógica da circulação individual, do automóvel, pela exaltação do sistema viário etc).
Hoje temos, como principal e duradoura lição, a necessidade da diversidade urbana, assim resumida : funções que gerem presença de pessoas em horários diferentes ("a necessidade de usos principais combinados") e em alta concentração; valorização de esquinas e percursos (a necessidade de quadras curtas); edifícios variados e de diferentes idades (a necessidade de prédios antigos); a subvenção de moradias; redução dos automóveis (ou então a erosão das cidades); ordem visual, limitações e potencialidades; projetos de revitalização etc.

O Planejamento Modernista trouxe como resultado um efeito desvitalizante e desurbanizador promovido pelos projetos que desconheciam o real funcionamento das cidades. O convívio (não a separação) entre as distintas funções urbanas (o primevo) — Morar, Trabalhar, Passear, Comprar, Conviver, Circular — e tantos outros, é a base da Vitalidade Urbana, matéria-prima da Urbanidade. Além da Monofuncionalidade, isto é, a Ausência da Diversidade Funcional, ruas mal iluminadas, calçadas desprovidas de qualidades mínimas, parques urbanos (quando existentes) segregados, quarteirões muito longos, a falta de definição precisa entre espaços públicos e privados, o excesso de espaços imprecisos ou residuais, mau equacionamento do convívio automóvel/pedestre, são alguns dos elementos físicos e espaciais que corroem a Urbanidade. 

A gestão das cidades brasileiras resultou da mais absoluta ausência de planos ou da consciência de sua necessidade. Aqui, a erosão permanente da urbanidade instalou-se não apenas pela ausência de planos, mas, acima de tudo, pela incapacidade do poder público de entender o papel contemporâneo e histórico das cidades.

A preocupação que deve imperar nas cidades é com a qualidade de vida. Rumo a esse objetivo, sobretudo, os (futuros) prefeitos têm desafios enormes pela frente. 
Como, por exemplo, garantir o deslocamento das pessoas de tal modo que possam morar, trabalhar e se divertir sem perder quatro, cinco horas de seu dia em péssimos traslados.

Como acolher os cidadãos, e suas novas atividades, sem jogar no lixo, sob a demolição, a arquitetura de tempos passados, o genius locci, as marcas da história?

A busca da maior parte destas respostas é a razão de viver dos urbanistas de todo mundo. O Urbanismo Utópico vai ceder lugar ao Urbanismo Corretivo, de modo a corrigir os erros cometidos e preparar as cidades para as necessidades futuras.

Retomar o crescimento econômico com melhor distribuição de renda é a primeira grande e vital válvula de segurança para as tensões sociais. Mas, outra providência é ampliar a abrangência e a eficiência das políticas sociais e urbanas que incentivam a sociedade civil a resgatar sua cidadania decidindo prioridades e envolvendo-se na operação de criativos programas públicos. Fica a sugestão aos candidatos. Ora, pois, pois. Mas entendo que é difícil. PQP!

23 outubro, 2012

Sobre índios, caciques e juízes

por @FFrajola

Foto de FFrajola 

“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo...Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre –o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!”

Sim, a citação acima é Guimarães Rosa, em “O Grande Sertão: Veredas”. Me aproprio destas palavras em minha “bios” nas redes sociais, assino pois, embaixo do que o “Cavaleiro da Rosa do Burgo do Coração”(1) decifrou.

Amanheci sob o impacto da condenação, ontem pelo STF, dos “quadrilheiros petistas” e, primeira coisa que leio é o texto de Eliane Brum, na Época, disponibilizado pelo "Escrevinhador" Rodrigo Vianna, que relata o sofrimento dos índios Guaranis-Kaiowás, expulsos de suas terras pela “Justiça”.

Eles, os indigenas, escrevem em sua carta: “Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós”.

Como um bom “perdigueiro de idéias”, recordo das palavras de um amigo (Deputado Distrital Chico Leite, PT/DF), professor de direito penal, membro licenciado do Ministério Público para exercício de mandato parlamentar: “Os legisladores representam a sociedade que os elege para tal função. Assim, as Leis que criam refletem, em última instância, esta mesma sociedade, com seus valores, virtudes e defeitos”.

Sobre isso, recordo a perfeita análise de Luis Nassif de que, agora, "pós-serra, a luta política se dará na mídia e no judiciário, as últimas trincheiras do conservadorismo". 
Sua afirmação “inegavelmente a oposição saiu do campo político para o campo midiático-jurídico” é um brado retumbante que nos provoca um “choque heterodoxo de realidade”.

Sim, meus amigos. A mesma “justiça” que leva ao desespero uma nação (indigena, ok?) persegue parlamentares do partido que, nos últimos anos, tentou romper com a velha política, que se fazia desde o descobrimento, privilegiando, pela primeira vez o seu povo e não os interesses das “elites”. Ninguém imaginava que seria simples, né?

Voltando a Guimarães Rosa, certamente “viver é muito perigoso”. Mas, acrescento, e temos outra opção melhor, do que viver e lutar pelo que acreditamos? As mudanças que queremos passam necessariamente pela política, sim. Elegendo melhores representantes nos parlamentos, mudaremos as políticas públicas, as prioridades do Estado e, “last but not least”, suas Leis e a aplicação delas pelos Magistrados. Quanto à "velha mídia", nós estamos aqui, nos blogs e na internet, fazendo a nossa parte.

“Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...O sertão está em toda a parte.” (G. Rosa)


(1) Rosa explicava assim aos seus tradutores a origem de seu nome. “Cavaleiro”, seria o significado de “Guimara”, segundo sua etimologia germânica, acrescido do sobrenome “Rosa”. “Burgo do Coração”, pois natural que era de Cordisburgo, MG.

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O texto de Eliane Brum está também neste blog com o título "Nossa morte coletiva".

PSDB é pra rico ou é pra pobre?



Por @pmoreiraleite


A iminência de uma derrota histórica na cidade que consideravam sua reserva de mercado têm levado alguns observadores a fazer um trabalho vergonhoso em defesa da candidatura de José Serra à prefeitura de São Paulo.

Em vez de defender José Serra, o que seria natural na reta final da eleição, eles procuram levantar o fantasma da ameaça de um avanço da hegemonia do PT no país inteiro. Enquanto acreditavam que seu candidato era favorito, diziam que a polarização política era ótima, que o conflito ideológico ajudava a formar a consciência do eleitor. Mas agora, diante de pesquisas eleitorais constrangedoras, querem mudar o jogo de qualquer maneira.

É um comportamento arriscado e pode ser contraproducente.

Do ponto de vista democrático, o PT só chegou ao poder de Estado, em qualquer instância, pelo voto direto. Bem ou mal, é o único dos grandes partidos brasileiros – já existentes na época — que pode exibir essa condição.

Claro que você pode discutir a recusa em votar em Tancredo Neves, em 1984. Pode dizer que foi radicalismo, esquerdismo, sei lá. Mas é possível reconhecer que naquele momento da transição os petistas defenderam um princípio de respeito a vontade popular que vários adversários – por uma esperteza que em vários casos pouco tinha a ver com patriotismo desinteressado – logo iriam trocar por um cargo no ministério.

Essa postura conservadora contra Haddad retoma os velhos fantasmas do perigo vermelho, tão primitivos como tantas mitologias de quem saiu colonizado pelos anos de Guerra Fria. Reflete um medo aristocrático de quem imaginava que tinha transformado São Paulo em seu quintal eleitoral e agora se vê sem respostas para as grandes parcelas da população.

Depois de criticar o PT pelos Céus de Marta Suplicy, a campanha tucana fala em Céus do Serra. Depois de criticar o bilhete único, o PSDB aderiu a ele. Criticou Haddad pelo bilhete único mensal, mas agora lançou sua própria versão do mesmo bilhete. Depois de passar a campanha pedindo que a população tivesse pena de Gilberto Kassab, nossos analistas descobrem que o continuismo não está com nada e, para não perder embalo, dizem que é uma tendência para 2014 e já ameaçam Dilma.

Levantar o fantasma de um perigo difuso e ameaçador é um dos mais conhecidos truques da comunicação moderna. Revela desprezo pelo conhecimento e pela inteligência do eleitor, procurando convencer a população com argumentos inconscientes, de natureza emocional.

A postura pode ser resumida assim: quando não dá mais para falar em bolo nem em brioches, como fez Maria Antonieta diante da plebe rude, vamos para lágrimas e o sentimentalismo.

O pensamento aristocrático e conservador do século XIX, quando a aristocracia descobriu que o voto popular poderia produzir resultados desagradáveis e inesperados, foi construído assim. Pensadores como Gustave Le Bon afirmavam, literalmente, que a multidão “ou não conseguia raciocinar, ou só conseguia racionar de forma errada.”

O truque principal, nesse comportamento, era evitar referências claras e diretas. Por motivos fáceis de explicar, nunca se diz: perigo de que? Por que?

Grita-se: “eu tenho medo,” como fez Regina Duarte, em 2002. Mas pelo menos ela tinha sido a namoradinha do Brasil…

Como bem lembrou Fernando Rodrigues, a partir de 1994 o PSDB tornou-se um partido rico e poderoso.

Deixou essa condição, pela vontade livre e direta do eleitorado. Em nenhum momento o PSDB deixou de ter colunistas e articulistas de pena amiga para descrever suas virtudes perante a população, com uma generosidade jamais exibida em relação a nenhum outro adversário.

A dificuldade é que, em sua passagem pelo poder federal os tucanos não deixaram nenhuma recordação duradoura na defesa dos mais pobres e dos assalariados em geral. Foi por isso que perderam três eleições consecutivas, sem jamais exibir concorrentes competitivos.

Em 2002, quando o governo de FHC chegou ao fim, sua popularidade era negativa. A inflação passara dos dois dígitos, o desemprego havia disparado, a economia estava num abismo financeiro e é claro que, já então, culpava-se o perigo vermelho por isso.

Quanto aos métodos de governo, não sejamos ingênuos nem desmemoriados. Se você não quer usar a palavra aparelhamento, poderia falar, então, em engaiolamento tucano.

É um sistema realmente eficiente, já que, em quatro anos, promoveu:

a) mudanças nas regras eleitorais estabelecidas pela Constituição;

b) um esquema conhecido como mensalão, matriz dos demais;

c) um procurador geral da República dos tempos de FHC era conhecido como “engavetador”geral da República;

Embora goste de lembrar que o PT votou contra o Plano Real assinado por Itamar Franco, o PSDB prefere esquecer que, ao retornar ao governo de Minas Gerais, o ex-presidente rompeu com FHC e chegou a mobilizar a PM para impedir que Brasília privatizasse a usina de Furnas.

Foi para tentar derrotar Itamar, político muito popular no Estado, que o PSDB inventou o mensalão de Marcos Valério, colocando de pé um esquema que arrecadou mais de R$ 200 milhões para as agências ligadas ao esquema. Nem assim o esquema funcionou e, como acontece nas democracias, venceu o candidato que era melhor de voto.

Mesmo derrotado – a democracia tem disso, né, gente? – o PSDB empurrou a dívida do esquema com a barriga, com ajuda de verbas liberadas – olha a coincidência ! – pelo mesmo cofre do Visanet. Quando Aécio recuperou o governo de Minas, Valério voltou a ser premiado com novos recursos, informa Lucas Figueiredo, no livro O Operador. Conforme demonstrou a CPI dos Correios, dirigida por aliados do PSDB, havia farta distribuição de recursos públicos na campanha tucana.

Num lance de peculiar ousadia, foram retirados R$ 27 milhões da própria Secretaria da Fazenda do Estado.

A verdade é que o mensalão mineiro foi feito com tanta competência – ou seria melhor empregar o termo periculosidade? – que jamais foi descoberto. Até surgiram denúncias, mas eles nunca foram investigados.

Chegou-se ao mensalão mineiro por causa do braço petista de Marcos Valério. Se não fosse por ele, nem saberíamos que teria existido.

Isso é que engaiolamento, vamos concordar. Funciona mesmo depois que o PSDB deixou o poder. Enquanto o Supremo condena o mensalão petista com argumentos deduzidos e não demonstrados, os tucanos seguem no pão de queijo. Ninguém sabe, sequer, quantos serão julgados. Nem quando.

Agora vamos reconhecer: Fernando Haddad assumiu a liderança folgada nas pesquisas como um bom candidato deve fazer. Veio do zero, literalmente, e ganhou eleitores na medida em que tornou-se conhecido.

O apoio de Lula não é importante, apenas, porque lhe garante um bom patamar de votos. Essa é uma visão eleitoreira da política. Esse apoio mostra que é um candidato com origem e história e isso é importante. Dá uma referência ao eleitor.

Num país onde os sábios da década passada adoravam resmungar com frases feitas sobre a falta de partidos “legítimos”, com “história”, com “programa,”etc, é difícil negar que o PT fez sua parte. Você pode até achar uma coisa detestável. Pode dizer que o PT é um partido anacrônico, que “traiu o discurso ético” e só faz mal ao país. Mas tem de admitir que não é Haddad, como Dilma já mostrou em 2010, quem tem problemas com a própria história.

E isso, na construção de uma democracia, é um bom começo. Falta, agora, a outra parte. Caso as urnas confirmem o que dizem as pesquisas de intenção de voto, a vitória de Haddad só irá demonstrar a dificuldade da oposição em mostrar que poderia fazer um governo melhor.

O debate político é este. O resto é propaganda.

Nossa morte coletiva

Foto: Egon Shaden, 1949

Por Eliane Brum
Dica @rvianna

- Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção/dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais.

O trecho pertence à carta de um grupo de 170 indígenas que vivem à beira de um rio no município de Iguatemi, no Mato Grosso do Sul, cercados por pistoleiros. As palavras foram ditadas em 8 de outubro ao conselho Aty Guasu (assembleia dos Guaranis-Kaiowás ), após receberem a notícia de que a Justiça Federal decretou sua expulsão da terra. São 50 homens, 50 mulheres e 70 crianças. Decidiram ficar. E morrer como ato de resistência – morrer com tudo o que são, na terra que lhes pertence.

Há cartas, como a de Pero Vaz de Caminha, de 1º de maio de 1500, que são documentos de fundação do Brasil: fundam uma nação, ainda sequer imaginada, a partir do olhar estrangeiro do colonizador sobre a terra e sobre os habitantes que nela vivem. E há cartas, como a dos Guaranis-Kaiowás, escritas mais de 500 anos depois, que são documentos de falência. Não só no sentido da incapacidade do Estado-nação constituído nos últimos séculos de cumprir a lei estabelecida na Constituição hoje em vigor, mas também dos princípios mais elementares que forjaram nosso ideal de humanidade na formação do que se convencionou chamar de “o povo brasileiro”. A partir da carta dos Guaranis-Kaiowás, tornamo-nos cúmplices de genocídio. Sempre fomos, mas tornar-se é saber que se é.

Os Guaranis-Kaiowás avisam-nos por carta que, depois de tantas décadas de luta para viver, descobriram que agora só lhes resta morrer. Avisam a todos nós que morrerão como viveram: coletivamente, conjugados no plural.

Nos trechos mais pungentes de sua carta de morte, os indígenas afirmam:

- Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos, mesmo, em pouco tempo. Não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados a 50 metros do rio Hovy, onde já ocorreram 4 mortes, sendo que 2 morreram por meio de suicídio, 2 em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um ano. Estamos sem assistência nenhuma, isolados, cercados de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia a dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários de nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali está o cemitérios de todos os nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje. (…) Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.

Como podemos alcançar o desespero de uma decisão de morte coletiva? Não podemos. Não sabemos o que é isso. Mas podemos conhecer quem morreu, morre e vai morrer por nossa ação – ou inação. E, assim, pelo menos aproximar nossos mundos, que até hoje têm na violência sua principal intersecção.

Desde o ínicio do século XX, com mais afinco a partir do Estado Novo (1937-45) de Getúlio Vargas, iniciou-se a ocupação pelos brancos da terra dos Guaranis-Kaiowás. Os indígenas, que sempre viveram lá, começaram a ser confinados em reservas pelo governo federal, para liberar suas terras para os colonos que chegavam, no que se chamou de “A Grande Marcha para o Oeste”. A visão era a mesma que até hoje persiste no senso comum: “terra desocupada” ou “não há ninguém lá, só índio”.

Era de gente que se tratava, mas o que se fez na época foi confiná-los como gado, num espaço de terra pequeno demais para que pudessem viver ao seu modo – ou, na palavra que é deles, Teko Porã (“o Bem Viver”). Com a chegada dos colonos, os indígenas passaram a ter três destinos: ou as reservas, ou trabalhar nas fazendas como mão de obra semiescrava ou se aprofundar na mata. Quem se rebelou foi massacrado. Para os Guaranis-Kaiowás, a terra a qual pertencem é a terra onde estão sepultados seus antepassados. Para eles, a terra não é uma mercadoria – a terra é.

Na ditadura militar, nos anos 60 e 70, a colonização do Mato Grosso do Sul se intensificou. Um grande número de sulistas, gaúchos mais do que todos, migrou para o território para ocupar a terra dos índios. Outros despacharam peões e pistoleiros, administrando a matança de longe, bem acomodados em suas cidades de origem, onde viviam – e vivem até hoje – como “cidadãos de bem”, fingindo que não têm sangue nas mãos.

Com a redemocratização do país, a Constituição de 1988 representou uma mudança de olhar e uma esperança de justiça. Os territórios indígenas deveriam ser demarcados pelo Estado no prazo de cinco anos. Como sabemos, não foi. O processo de identificação, declaração, demarcação e homologação das terras indígenas tem sido lento, sensível a pressões dos grandes proprietários de terras e da parcela retrógrada do agronegócio. E, mesmo naquelas terras que já estão homologadas, em muitas o governo federal não completou a desintrusão – a retirada daqueles que ocupam a terra, como posseiros e fazendeiros –, aprofundando os conflitos.

Nestas últimas décadas testemunhamos o genocídio dos Guaranis-Kaiowás. Em geral, a situação dos indígenas brasileiros é vergonhosa. A dos 43 mil Guaranis-Kaiowás, o segundo grupo mais numeroso do país, é considerada a pior de todas. Confinados em reservas como a de Dourados, onde cerca de 14 mil, divididos em 43 grupos familiares, ocupam 3,5 mil hectares, eles encontram-se numa situação de colapso. Sem poder viver segundo a sua cultura, totalmente encurralados, imersos numa natureza degradada, corroídos pelo alcoolismo dos adultos e pela subnutrição das crianças, os índices de homicídio da reserva são maiores do que em zonas em estado de guerra.

A situação em Dourados é tão aterradora que provocou a seguinte afirmação da vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat: “A reserva de Dourados é talvez a maior tragédia conhecida da questão indígena em todo o mundo”. Segundo um relatório do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que analisou os dados de 2003 a 2010, o índice de assassinatos na Reserva de Dourados é de 145 para cada 100 mil habitantes – no Iraque, o índice é de 93 assassinatos para cada 100 mil. Comparado à média brasileira, o índice de homicídios da Reserva de Dourados é 495% maior.

A cada seis dias, um jovem Guarani-Kaiowá se suicida. Desde 1980, cerca de 1500 tiraram a própria vida. A maioria deles enforcou-se num pé de árvore. Entre as várias causas elencadas pelos pesquisadores está o fato de que, neste período da vida, os jovens precisam formar sua família e as perspectivas de futuro são ou trabalhar na cana de açúcar ou virar mendigos. O futuro, portanto, é um não ser aquilo que se é. Algo que, talvez para muitos deles, seja pior do que a morte.

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Leia o texto completo aqui.

22 outubro, 2012

Vai te queixar prá quem?

Por Denise Queiroz

Manifestação em Brasília pelas Diretas Já/ Fonte Wikipedia

Em abril de 1984 perdemos por alguns votos a chance de eleger no ano seguinte um presidente. Quem tinha nascido antes ou depois de 1950 esteve nas ruas. Participei da primeira grande passeata pela Diretas, no Rio, em 16 de fevereiro daquele ano, com mais 59.999 pessoas, pelos números assumidos e publicados à época. Tinha passado no vestibular e começava a faculdade de comunicação. A ida ao Rio foi presente do meu irmão, que morava lá.

De volta à Porto Alegre, fui no primeiro dia de aula com minha linda camiseta azul com letras pretas e amarelas "Brasil urgente, Diretas pra presidente" . Os 119 colegas olharam, alguns simpatizaram, outros me trataram como um vidro. Fui a todas as passeatas, fiz cartazes e faixas e acompanhei, ao vivo, pelo telão no largo da Epatur com milhares de pessoas - e potencializadas lágrimas - a derrota.

Nesse ano eu morava no Ceupa, Centro Evangélico Universitário de Porto Alegre, uma casa de estudantes que havia sido fundada por alguma igreja evangélica, mas que, a essas alturas, de evangélica só conservava o nome. São 3 casas. Uma na Sarmento Leite, onde eu morava, outra na José do Patrocínio e outra na Luis Afonso. Sistema de auto-gestão, pagávamos quase nada e tínhamos muitíssimas obrigações com manutenção, convivência, ordem, formação e discussão de grandes temas. Éramos 89 estudantes, dos 18 aos 30 ou mais anos. Todos universitários. Dali saíram pessoas que em algum momento dirigiram (dirigem) partidos, sindicatos, centrais sindicais, empresas estatais, secretarias. Muitos avanços sociais que celebramos hoje têm parte de seu DNA nesses endereços.

Numa noite de agosto de 1984, voltava para a Sarmento depois de uma reunião na casa dois, a da José do Patrocínio. Tinha saído de um trabalho em grupo para a faculdade e ido direto para lá. Num braço a pasta, na mão livre um cigarro, a bolsa, um embornal de couro chileno que foi presente desse meu irmão, atravessada da esquerda para a direita. Vejo um fusca da polícia passando e escuto porta de carro batendo na rua deserta e silenciosa da terça-feira fria às onze da noite. Em seguida uma voz me manda levantar os braços e abrir as pernas, era uma "revista" . Falo que eles não poderiam me revistar, que chamassem uma policial feminina. Me olham com desprezo e me perguntam "vai te queixar prá quem?" Com a coragem que os 19 anos te dão, falo "se encostarem um dedo, grito" . Estava em frente a um desses prédios, acho que de uns 8 andares, com comércio no térreo e moradia em cima.

Desistiram da revista ao corpo, mas não aos pertences. Procuravam drogas. Abri a bolsa, joguei tudo no chão, o mesmo com a pasta. Olharam tudo aquilo, roubaram o isqueiro, a caixa de fósforos e o pacote de cigarros, entraram no carro e se foram.

Fiquei ali chorando de raiva, juntando tudo meio molhado, pois tinha chovido mais cedo, e fui prá casa. Os que ainda estavam acordados quando cheguei, choraram comigo. No dia seguinte outros diziam, "tu deu sorte, esses ratos - assim eram chamados os policiais civis que eram os mesmos que prendiam e arrebentavam poucos, bem poucos anos antes - poderiam ter te levado e ninguém mais ia saber de ti".

Não sei como é passar por violência física, mas acho que a dor da impotência diante da força bruta deve ser mais ou menos como a que senti essa noite, quando nem maioridade plena tinha. É a que sinto hoje.

E lembro do "rato" dizendo, "vai te queixar pra quem?"


 

Fidel dá ao mundo "prova de vida"


Pesquisa rápida no google mostra desde 2008 pelo menos cinco mortes de Fidel Castro! A mais recente foi no dia 12 de outubro. Até quando a imprensa internacional vai tentar matar fisicamente o Comandante? E a morte física dele mudaria o quê exatamente no cenário mundial?

Nunca antes na História uma pessoa ressuscitou tantas vezes e nunca antes a imprensalona foi tão desmascarada! Mais uma que devemos a #Cuba e a este grande homem que sim, está bem vivo! 


Para não deixar dúvidas, Fidel lê a primeira página do Granma de, 19 de octubre. /Fotos: Alex Castro




do Fanal Cubano
Por Fidel Castro

Bastó un mensaje a los graduados del primer curso del Instituto de Ciencias Médicas “Victoria de Girón”, para que el gallinero de propaganda imperialista se alborotara y las agencias informativas se lanzaran voraces tras la mentira. No solo eso, sino que en sus despachos cablegráficos le añadieron al paciente las más insólitas estupideces.

El periódico ABC de España, publicó que un médico venezolano que radica no se sabe donde, reveló que Castro había sufrido una embolia masiva en la arteria cerebral derecha, “puedo decir que no vamos a volverlo a ver públicamente”. El presunto médico, que si lo es abandonaría primero a sus propios compatriotas, calificó el estado de salud de Castro como “muy cercano al estado neurovegetal”.

Aunque muchas personas en el mundo son engañadas por los órganos de información, casi todos en manos de los privilegiados y ricos, que publican estas estupideces, los pueblos creen cada vez menos en ellas. A nadie le gusta que lo engañen; hasta el más incorregible mentiroso, espera que le digan la verdad. Todo el mundo creyó, en abril de 1961, las noticias publicadas por las agencias cablegráficas acerca de que los invasores mercenarios de Girón o Bahía de Cochinos, como se le quiera llamar, estaban llegando a La Habana, cuando en realidad algunos de ellos trataban infructuosamente de llegar en botes a las naves de guerra yankis que los escoltaban.

Los pueblos aprenden y la resistencia crece frente a las crisis del capitalismo que se repiten cada vez con mayor frecuencia; ninguna mentira, represión o nuevas armas, podrán impedir el derrumbe de un sistema de producción crecientemente desigual e injusto.

Hace pocos días, muy próximo al 50 aniversario de la “Crisis de Octubre”, las agencias señalaron a tres culpables: Kennedy, recién llegado a la jefatura del imperio, Jruschov y Castro. Cuba nada tuvo que ver con el arma nuclear, ni con la matanza innecesaria de Hiroshima y Nagasaki perpetrada por el presidente de Estados Unidos Harry S. Truman, estableciendo la tiranía de las armas nucleares. Cuba defendía su derecho a la independencia y a la justicia social.

Cuando aceptamos la ayuda soviética en armas, petróleo, alimentos y otros recursos, fue para defendernos de los planes yankis de invadir nuestra Patria, sometida a una sucia y sangrienta guerra que ese país capitalista nos impuso desde los primeros meses, y costó miles de vidas y mutilados cubanos.

Cuando Jruschov nos propuso instalar proyectiles de alcance medio similares a los que Estados Unidos tenía en Turquía —más cerca todavía de la URSS que Cuba de Estados Unidos—, como una necesidad solidaria, Cuba no vaciló en acceder a tal riesgo. Nuestra conducta fue éticamente intachable. Nunca pediremos excusa a nadie por lo que hicimos. Lo cierto es que ha transcurrido medio siglo, y aun estamos aquí con la frente en alto.

Me gusta escribir y escribo; me gusta estudiar y estudio. Hay muchas tareas en el área de los conocimientos. Nunca las ciencias, por ejemplo, avanzaron a tan asombrosa velocidad.
Dejé de publicar Reflexiones porque ciertamente no es mi papel ocupar las páginas de nuestra prensa, consagrada a otras tareas que requiere el país.

¡Aves de mal agüero! No recuerdo siquiera qué es un dolor de cabeza. Como constancia de cuan mentirosos son, les obsequio las fotos que acompañan este artículo.





Fidel Castro Ruz
Octubre 21 de 2012
10 y 12 a.m.



El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, supervisa una
copiosa plantación de Moringa oleífera, una de las especies
vegetales que estudia por sus propiedades. /Fotos: Alex Castro



El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, supervisa una
copiosa plantación de Moringa oleífera, una de las especies
vegetales que estudia por sus propiedades. /Fotos: Alex Castro


El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, supervisa una
copiosa plantación de Moringa oleífera, una de las especies
vegetales que estudia por sus propiedades. /Fotos: Alex Castro


El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, supervisa una
copiosa plantación de Moringa oleífera, una de las especies
vegetales que estudia por sus propiedades. /Fotos: Alex Castro


El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, supervisa una
copiosa plantación de Moringa oleífera, una de las especies
vegetales que estudia por sus propiedades. /Fotos: Alex Castro


El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, revisa las hojas de
un ejemplar de Morera, otra especie vegetal que también estudia
por su utilidad. /Fotos: Alex Castro


El líder de la Revolución Cubana, Fidel Castro, revisa las hojas de
un ejemplar de la Morera, otra especie vegetal que también estudia
por su utilidad. /Fotos: Alex Castro


Fidel leyendo la primera plana del diario Granma del viernes último,
19 de octubre. /Fotos: Alex Castro
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Em português no Correio do Brasil 

19 outubro, 2012

Paul Singer: meu voto em Haddad

Do Macro PT Abc 

Do ponto de vista da população mais pobre de qualquer cidade, a eleição que tem mais possibilidade de mudar sua vida para pior ou melhor é a municipal.




"Existe uma diferença inegável entre PT e PSDB: a priorização da luta contra a miséria. E os eleitores sabem disso, basta ver em qual partido a periferia vota"

As políticas do governo federal e estadual também afetam os mais pobres, mas de modo mais indireto. O governo estadual, por exemplo, tem a seu cargo a segurança pública no Estado - algo importante para qualquer cidadão, mas sobretudo para os que são obrigados a morar em áreas em que a criminalidade é mais presente e ameaçadora.

Não obstante, é o governo municipal que responde pela iluminação pública e, especialmente, por políticas sociais que impactam as condições de vida dos moradores mais humildes. A atenção à população mais carente é um aspecto fundamental na escolha do prefeito.

É preciso votar levando em consideração que é a prefeitura que responde pelo registro das famílias mais carentes no Programa Bolsa Família, por exemplo. Ela tem grande possibilidade de agir em parceria com o governo federal no programa Brasil sem Miséria, de ajudar a resgatar famílias que vivem em bolsões de extrema pobreza. A redução da miséria, aliás, certamente ajudará a diminuir inclusive a criminalidade, na cidade inteira.

Eis, então, a razão pela qual votarei em Haddad desde o primeiro turno: estou certo de que ele priorizará a luta contra a miséria, como fazem os diferentes governos chefiados por políticos do PT.

Nesta questão, a diferença em relação aos governos chefiados pelo PSDB é inegável.

E os eleitores sabem disso. Basta ver o mapa eleitoral de São Paulo em qualquer eleição municipal para verificar que os candidatos do PSDB vencem nas áreas mais opulentas, enquanto os candidatos do PT são os preferidos na periferia.

Quanto maior a pobreza em uma região, maior a vantagem relativa do PT. No primeiro turno destas eleições municipais, novamente tal fato foi comprovado.

Além de Fernando Haddad ser o candidato do PT, minha preferência por ele se deve ao fato de que eu o conheço há muito tempo e, assim, sei de sua inteligência e do seu empenho em tornar a sociedade brasileira mais justa, menos desigual.

Nesse sentido, o que Haddad fez como ministro de Educação é notável, sobretudo na expansão do ensino público em nível universitário, área em que os governos do PSDB se notabilizaram pela ausência.

Na gestão do PSDB, os jovens de famílias de baixa renda estavam praticamente condenados a tentar estudar em universidades privadas, já que eram barrados pelos vestibulares nas universidades públicas.

Os governos de Lula e Dilma, em que Haddad serviu como ministro de Educação, priorizaram a expansão das universidades públicas, permitindo o acesso de estudantes mais pobres. Além disso, o ProUni abriu centenas de milhares de vagas em universidades privadas a eles.

Outra política importante foi a multiplicação dos Institutos de Educação Científica e Tecnológica, que foram localizados nas áreas desprivilegiadas do país. Nesses institutos, está sendo efetivado o Programa Mulheres Mil, que dá formação profissional a mulheres de baixa renda. O programa já resgatou dezenas de milhares da pobreza. Quem ouve os depoimentos dessas mulheres percebe que não são poucas as que querem continuar estudando até alcançar um diploma universitário.

No ministério, Haddad se cercou de uma equipe disposta a fazer da educação uma arma na luta contra a opressão da mulher e contra a exclusão preconceituosa de negros e indígenas das oportunidades de exercer plenamente seus direitos como seres humanos e trabalhadores. Agora, ele tem tudo para ter grande sucesso como prefeito.

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* Paul Singer é economista e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.

@FFrajola : E agora, José?


Do Blog do @FFrajola

“Os tucanos chegam a esta eleição jogando sua sobrevivência em São Paulo, com riscos graves de, perdendo, rumarem para a desaparição politica”. Emir Sader, na Carta Capital, no artigo “Os tucanos, do começo ao fim”. (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=1113)

Ok, perdendo em São Paulo os tucanos acompanham o DEM rumo ao ostracismo. As últimas pesquisas indicam que Haddad teria 60% contra 40% dos votos válidos, fazendo com que até a velha mídia pró-Serra jogue a toalha.

O PT cresceu no primeiro turno (13%, em número de prefeituras e obteve a maior quantidade de votos na legenda em todo o país) e deve continuar crescendo no segundo turno das eleições.

O que explica tais fatos? Claro que a aprovação popular dos governos Lula e Dilma tem que ser lembrada, sim. Mas devemos também creditar a Serra parte deste sucesso. Como? Simples, em seu velho estilo desagregador de fazer política, ele atropelou, sabotou e derrubou todas as possíveis lideranças em seu partido ou aliados que poderiam pleitear candidaturas competitivas agora e no futuro próximo. Desde o episódio que derrubou a candidatura presidencial de Roseana Sarney, passando por Alckmin, Aécio e até Chalita, Serra acumulou desafetos, pensando única e exclusivamente em seu projeto político maior: ele próprio. Agora, já cachorro morto, até FHC lhe faz críticas.

Como explicar um candidato com tamanha rejeição concorrer a um cargo majoritário na maior cidade do país? Ele precisaria obter 50% mais 1 dos votos válidos, ou seja, missão impossível para quem tem 52% de rejeição.

Por outro lado, a antítese de Serra, o ex-presidente Lula. Apostou no novo e não teve medo da “concorrência”. Primeiro bancou uma “técnica”, sem experiência eleitoral para sucedê-lo e assim, elegeu Dilma. Agora, tirou do colete mais 2 nomes também novos, com experiência técnica e administrativa, mas “estreantes” em eleições: Haddad e Pochmann. Deve eleger Haddad na maior cidade do país, enquanto Pochmann disputa o segundo turno em Campinas, importante cidade do interior paulista.

Lula, ao não temer o novo, sai mais fortalecido desta eleição. A oposição bate cabeça. O tal do “Mensalão” não vingou, sabe que não tem propostas nem candidatos fortes para ameaçar a reeleição de Dilma em 2014. E o mais desesperador (para a oposição, claro) sabe que se por acaso surgir algum candidato forte na direita (esqueçam o Serra, ele já era), o PT ainda terá Lula, Haddad, Paulo Teixeira e tantos outros bons nomes que estão crescendo com o partido. É o Brasil mudou e vai continuar crescendo sim.

O desenho do datafolha


Via @Blogdofavre





18 outubro, 2012

Chomsky: há 50 anos “o mundo esteve para acabar”


Do Outras Palavras

Uma análise (e uma advertência) sobre a “Crise dos Mísseis” — que teve Cuba como pivô e quase levou EUA e União Soviética a provocarem a catástrofe nuclear

Por Antonio Martins

O episódio mais tenso da Guerra Fria e provavelmente a maior ameaça já vivida pela humanidade completará 50 anos, no próximo dia 28. Nas duas últimas semanas de outubro de 1962, Estados Unidos e a então União Soviética (URSS) estiveram muito próximos de deflagrarem, entre si, uma guerra atômica que teria arrasado boa parte do planeta.

Muitas análises serão publicadas a respeito do episódio, nos próximos dias — mas vale a pena ler com atenção uma delas, escrita pelo pensador norte-americano Noam Chomsky e recém-publicada (em inglês). Apoiado numa vasta análise de documentos secretos desclassificados, Chomsky sustenta entre outras coisas que: No lado norte-americano, a crise foi manejada por um comitê extraordinário (o ExComm) formando na Casa Branca, sob presidência de John F. Kennedy. Boa parte de seus integrantes acreditava que a guerra total contra a URSS era inevitável. O próprio Kennedy avaliou, depois, que os riscos chegaram a ser de 50%. O secretário de Defesa, Robert McNamara, indagava-se, no momento mais tenso, se teria a chance de “viver outra noite de sábado”.

Riquíssimo tanto na análise geral quanto nas minúcias, Chomsky descreve, por exemplo, os dois momentos mais tensos nas semanas decisivas. O mundo pode ter sido salvo, mostra o relato, pela frieza do capitão de submarino nuclear soviético Vasili Akhipov, em 27 de outubro. Ou, um dia antes, pelo major Don Clawson, piloto de bombardeiro B-52 norte-americano armado de ogivas atômicas. “Tivemos muita sorte por não explodir o mundo”, diria ele depois.

As raízes da crise estão na tentativa de invasão de Cuba por mercenários treinados pela CIA, em 1961. Mais ou menos à mesma época, na escalada de ameaças da Guerra Fria, os EUA instalaram mísseis nucleares, dirigidos contra a URSS, na Grã-Bretanha, Itália e Turquia. Em resposta, e com autorização de Havana, Moscou instalou na ilha mísseis nucleares apontados para os Estados Unidos. Washington considerou o fato inaceitável.

O conflito ocorreu no momento em que poder global norte-americano estava no auge. Ao final de duas semanas, durante as quais um mero acidente poderia ter desencadeado a catástrofe nuclear. Moscou cedeu. O líder soviético, Nikita Kruschev, anunciou publicamente a retirada dos mísseis de Cuba. Os EUA aceitaram, como contrapartida secreta, retirar foguetes da Turquia. Mas não o admitiram de modo aberto e se tratava, de qualquer forma, de armas obsoletas, prestes a serem substituídas. A atitude de URSS enfureceu a liderança cubana. Durante todo o tempo que duraram as negociações, extremamente tensas, Washington rejeitou qualquer acordo que significasse sua sujeição ao direito internacional. Buscava (e alcançou, à época), estabelecer-se como um poder supremo, livre de qualquer outro controle.

Chomsky lembra que a ameaça de catástrofes nucleares permanece aberta, mesmo após o fim da Guerra Fria. Muito mais países desenvolveram capacidade e arsenais atômicos. Índia e Paquistão estiveram à beira de um conflito. Os EUA insistem em manter Israel como única potência nuclear do Oriente Médio. Chomsky tem feito constantes advertências sobre os riscos persistentes de um conflito atômico (no vídeo acima, uma conferência a respeito do tema em Nova York, em 2011). O artigo sobre a Crise dos Mísseis termina com uma citação de Albert Einstein e Bertrand Russel. Dez anos antes da crise, eles haviam advertido que a humanidade está diante de um dilema “cru, terrível e inescapável: vamos acabar com a espécie humana, ou seremos capazes de renunciar à guerra”?

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