06 agosto, 2015

Acabou. E desde 2013


Caos















por Denise Queiroz

Apesar da eleição com diferença de alguns poucos milhões de votos e graças a uma campanha eleitoral digna de figurar no ranking das piores propagandas enganosas, o governo Dilma II não deslanchou e a cada dia se afunda mais. Arrisco, mas é quase impossível não afirmar que desde as grandes manifestações de junho de 2013, quando se mostrou incapaz de conseguir dar respostas às centenas de reivindicações que cartazinhos e faixas exibiam nas ruas e telas, textos e textões, que o ciclo PT no governo acabou.

Ao contrário do que os governistas - em seu autoengano obsessivo - tentam propagar, junho de 2013 não foi o responsável ‘pelo pior congresso da história’. Este resulta, conforme a operação lava-jato prova a cada dia, de uma série de acordos e conversinhas que passaram muito longe das ruas e de quem esteve nelas.

Ele resulta da série de renúncias que os eleitos ‘para fazer diferente e trazer a esperança’ fizeram ao longo dos anos em nome de uma suposta governabilidade que, infelizmente, nada mais era do que dar a impressão de que mudanças estavam ocorrendo. Hoje vemos que, na verdade, estavam por um lado privatizando o Estado para alguns novos atores e, por outro, enchendo os cofres dos de sempre, como as odebrechts e camargos correias da vida.

É de uma desfaçatez sem sobrenome publicável que o partido do governo que fechou olhos, ouvidos, portas de gabinetes e palácios para as justas reivindicações de anos, além de ter criminalizado movimentos e sujeitos não alinhados ao governismo, venha hoje, com cerca de 7% de aprovação, dizer que nós, povo, numa democracia representativa, é que podemos barrar uma crise política que só progride.

Pretender que a população arque com o ônus de defender os desastres político, econômico, ambiental, social e tantos outros, instalados pela arrogância e inabilidade dos seus dirigentes e eleitos, só mostra o enorme distanciamento que o partido, nascido para ser popular e de classes, alcançou de sua origem. Muito tarde para a volta atrás. Lamentável para o país.


18 abril, 2015

Roda de conversa sobre novos movimentos e uma nova forma-partido na Espanha, na América do Sul e no Brasil. Organizada pelo círculo de cidadania do RJ e o de SP (em formação na data), com participação de Peter Pál Pelbart, Sandra Mara Ortegosa, Lu Ornellas, Celio Gari, Giuseppe Cocco, Bruno Cava Rodrigues, Alexandre Mendes, Salvador Schavelzon, entre outros, aproveitando a presença de Raúl Sánchez Cedillo, envolvido com o debate sobre o movimento 15-M, o Podemos e o Barcelona em Comum (ex-Guanyem), na Espanha.

- Entrada franca, todas pessoas convidadas!
- Terça, 28 de abril, 18h, na Casa do Povo. Endereço: Rua Três Rios, 252, Bom Retiro, São Paulo.
- Link dos círculos de cidadania (sem vínculo a qualquer projeto partidário): http://circulocidadania.tumblr.com/

21 março, 2015

Receita para seduzir descontentes

por Denise Queiroz


A seguir uma lista de expressões que vem sendo usadas nas redes sociais pelos governistas. A luta é pela sedução dos incautos que contestam esta maravilhosa gestão, para que voltem a apoiar o governo. E também para desmentir esses boatos de crise que o PT e partidos da base enfrentam. Claro que essa crise é pura invenção, mas pelo sim, pelo não, você tem que saber como defender o governo dos pobres e iluminar a mente dos desinformados. Pode parecer estranho, mas muita gente não entende que estamos sendo vítimas de uma enorme e bem elaborada conspiração da CIA. O que queremos é menos ódio e mais democracia. Portanto, use e abuse dos seguintes termos.

1 – Coxinha : qualquer pessoa que usa roupa e adereços da moda e discorde de qualquer coisa que venha do governo. Se insinuar que uma vírgula está mal colocada num texto, que o brinco da presida não ornou, que tal postura não é correta, não tenha dúvidas: você está diante de um coxinha, portanto desinformado. Coloque-o no seu lugar. Chame-o de coxinha e mande se informar. Lembre de mandar links com textos de reconhecidos blogueiros progressistas.

2 – Reaça: se você imaginou aquele velhinho conservador arenista e resmungão diante de qualquer mudança, você parou no tempo. Reaça é aquele coxinha que ousa fazer alguma crítica ao governo, a algum político, jornalista, acadêmico ou blogueiro governista . ‘mas eu milito no movimento lgbtt...’ Reaça. ‘Sempre gostei de ler x, mas desta vez perdeu a mão.’ REAÇA. "Concordo que tal coisa tenha que ser resolvida, mas discordo dessa proposta... " REAÇA. "A corrupção ..." Coxinha REAÇA.

3 – Psolista : qualquer crítica ao governo ‘pela esquerda’. Termo um pouco em desuso desde as eleições de 2014, mas desconfie de posicionamentos a favor de greves, de movimentos populares independentes como o MPL e blocos de lutas, estado laico, energias alternativas, críticas aos homens de deus, se chamar os grande produtores agrícolas de ruralistas, criticar a cooptação das centrais sindicais, designar privatizações as concessões ou transferência de ativos etc. Diante disto, tasque logo um 'coxinha reaça e PSOLISTA'. A pessoa imediatamente vai concordar com você e pedir desculpas pelos equívocos.

4 - Golpista: qualquer um que leia qualquer portal ou colunista da grande mídia, o pig (Partido da Imprensa Golpista). A imprensa é golpista, a mídia é golpista, os atores (com exceção do Zé e mais uns 3 ou 4 que apoiam o governo) são golpistas. Os apresentadores são golpistas e têm o poder de transformar qualquer um que os assista ou leia em golpistas. É impressionante o poder da mídia hegemônica e de quem nela trabalha. São uma espécie de semi-deuses que transformam todo um país (que não votou na Dilma ou que votou e se arrependeu ainda antes da posse diante dos belíssimos e necessários ajustes anunciados) em golpistas. Ao ligar a TV (com excessão da TV do querido Edir Macedo, que deu uma pisadinha na bola ao cobrir o 15M, mas o Falcão entende que ele queria competir pela audiência) você recebe automaticamente um raio golpitizador. Cuidado. Se alguém compartilhar qualquer notícia vinda dos portalões, chame a atenção e comente: isso é coisa de coxinha, reaça, psolista e GOLPISTA.

5 - Elite: conforme os parâmetros seríssimos e completamente afinados com nossa linda realidade paradisíaca, classe média é quem ganha entre 291 e 1.019 reais (dados de 2013). Se a pessoa ganha o suficiente para pagar sua conta de luz, almoçar, jantar, morar em algum lugar, pagar todas as taxas e impostos decorrentes disso e do uso do seu carro, desconfie. Provavelemente você está diante de uma pessoa da elite. Mas, observe. Se ela vive bem mas vota no governo e publica na TL textão do Emir, do PHA, do Nassif ou qualquer outro ‘comunicador independente' ou se comunica com eles nas redes, não é elite. Aí é classe média esclarecida, e você não tem nada que publicar ou comentar as publicações dela.

É complicado explicar este verbete, porque com a ascensão e inclusão promovidas pelo nosso ilibado governo, ficou difícil distinguir, mas funciona mais ou menos assim: seu vizinho de porta que comprou o apê no lançamento e mobiliou casualmente na mesma loja que você, funcionário público, aquele que tem o gatinho e que te ajudou a tirar as compras do elevador outro dia, defende cotas para as universidades, faz excelente trabalho de conscientização dos vizinhos sobre lixo, ecologia, participa das reuniões e mutirões no bairro. Fique atento pois ele pode ser elite. Se ele nem foi à manifestação do dia 15, mas seguidamente você ouve batidas de panelas vindas da casa dele na hora do Jornal Nacional não tenha dúvidas. Ele é elite, a pior das elites, aliás. “mas ele não era legal, o seu vizinho de porta? Ah, é, mas ele é elite, assina o Estadão (ou qualquer outro grande jornal) golpista de primeira hora. E ele tem camiseta da seleção brasileira! Eu deveria ter desconfiado quando uma vez criticou o atendimento que o porteiro (a faxineira ou conhecidos do interior) recebeu no SUS. Um coxinha, reaça, golpista. Até a greve dos caminhoneiros ele apoiou. É aquela elite coxinha golpista reaça meio psolista, entende?"
Esses são perigosíssimos. espalhe na vizinhança que é um coxinha reaça da elite golpista até que ninguém mais lhe dirija a palavra. Esse tipo de gente não merece todos os enormes benefícios de viver em paz e deve ser isolado até que volte à realidade.

Além desses, você poderá usar estes argumentos inconstestáveis:

Aecista ou tucano: se usar algum argumento que por acaso Aécio (ou qualquer outro que apoiou Aécio em 2014, mesmo que só no segundo turno) usou num debate ou programa de TV. Informe-se bem. Entre no youtube e veja o quanto nossa querida coração valente foi superior a todos os outros nos debates e use e abuse do argumento aecista ou tucano. Claro, quem contesta essa verdade são nada mais que reaças coxinhas golpistas e de elite.

Marinista: se criticar o excelente programa energético e insinuar que o desenvolvimento a qualquer custo prejudica o meio-ambiente, populações tradicionais, etc, certamente é uma pessoa que não preza a vida e o trabalho. E lembre-se sempre que, ao contrário da Dilma que tem um socialista como ministro da Fazenda, a Marina ia nomear o Giannetti (o Gianetti) para tirar o leite da mesa das crianças. Óbvio que alguém que defenda esses argumento é um marinista coxinha, reaça, meio psolista da elite ressentida e traíra.

Se depois disso a pessoa insistir em criticar, não lhe restará alternativa, pois claramente ela optou pelo ódio e não ama a democracia. Inspire-se naquele antigo militante trabalhador que compareceu à manifestação dos trabalhadores em São Paulo dia 13. Levante a plaquinha da foto abaixo. Mande  o coxinha reaça psolista golpista e elitista pra Miami. Esse está perdido e é um traíra convicto. E aqui não queremos traíras.




PS este post é uma ironia (sempre bom avisar)
PS 2 sobre algumas notícias sobre a comunicação que estão saindo na imprensa, recomendo excelente post do @BrunoCava

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