29 novembro, 2011

Casa do Índio agoniza por descaso e falta de verbas


Por Rui Zilnet
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Enquanto Eunice Cariry relata os acontecimentos ocorridos na Casa do Índio, assistidos acompanham com liberdade























Dia desses, em visita à Casa do Índio do Rio de Janeiro, fundada em 1968 pela sertanista Eunice Cariry, para acolher índios portadores de necessidades especiais, fiquei encantado com o que presenciei. A casa, localizada em uma sossegada rua da Ilha do Governador, abriga cerca de 32 índios com problemas físicos, mentais e doenças crônicas, que convivem tranquilamente num prédio com características que lembram uma aldeia indígena, porém, com estrutura adaptada ao meio urbano, proporcionando-lhes o conforto, a higiene e o bem estar necessários à boa recuperação.

Durante o tempo que permaneci na casa, aproximadamente oito horas, os índios assistidos demonstraram felicidade espontânea e aparência saudável, sem apresentar qualquer sinal característico de sofrimento ou privação de qualquer ordem. As instalações são limpas e bem cuidadas.

Segundo Eunice Cariry, o objetivo principal da Casa do Índio é receber índios oriundos das Administrações Regionais da FUNAI, instaladas nos estados da federação, sempre que esgotem todos os recursos para tratamento nos locais de origem. Os assistidos são atendidos na rede hospitalar pública (SUS) e por facultativos, que voluntariamente prestam assistência especifica a cada caso, desde a sua fundação, há 43 anos.

Contudo, desde os anos de 1990 a Casa do Índio passa por um processo de desestruturação promovido pela segmentação do atendimento aos indígenas, que retirou da Funai atribuições que lhes eram da competência. Como exemplo, a Educação dos índios passando para o Ministério da Educação (MEC) e a Saúde, respectivamente, para o Ministério da Saúde.

Cândido Ribeiro é um dos funcionários da Casa do Índio na incerteza do seu futuro 






















Eunice destaca que desde a criação da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), em 1999, a Casa do Índio passou a sofrer um processo de cortes nas verbas para manutenção, alimentação e medicamentos dos atendidos, culminando, recentemente, com o cancelamento de um convênio que pagava todos os seus funcionários. Na próxima quarta-feira (30) completam 30 dias que foram rescindidos os contratos de cerca de 14 cuidadores, que mesmo assim permanecem em seus postos, sabendo que poderão ficar sem receber os salários.

A situação da Casa do Índio é extremamente delicada. O estado é de alerta máximo. Com o esfacelamento da Funai, as ações de terrorismo que a casa vem sofrendo, e uma visível disputa de poder por pessoas e instituições sem qualquer comprometimento com a causa indígena, a não ser o oportunismo, os assistidos estão sujeitos a ficarem abandonados à própria sorte, o que ainda não ocorreu devido à dedicação e seriedade que Eunice Cariry dirige a instituição.

O que entristece nesta situação é que enquanto uma organização criada com propósitos essencialmente humanistas, cumprindo verdadeiramente os objetivos a que se propôs é esfacelada pelo descaso das instituições governamentais, elementos aventureiros, pseudo protetores dos índios, apropriam-se facilmente de recursos públicos, explorando a plasticidade cênica oferecida pelos indígenas, para mostrar belo e ocultar a realidade cruel.

Espera-se que alguém do governo demonstre bom senso e resolva rapidamente esta situação de descaso com a Casa do Índio, reconhecendo que o trabalho conduzido por Eunice Cariry é necessário e eficaz. O que não se pode aceitar é que os índios que ali estão fiquem jogados à própria sorte e os funcionários permaneçam na incerteza de seus futuros. A solução carece ser adotada com urgência máxima.

Texto e fotos de Rui Zilnet

5 comentários:

  1. Extremamente repugnante essa situação. Enquanto atitudes humanísticas ,filantrópicas e de auxílio ao ser humano são abandonadas ao Deus dará ,por interesses obscuros, as primeiras damas gastam o dinheiro público ,não satisfeitas com a "gorjeta" que seus respectivos maridos já subtraem do erário.
    Vergonhoso e desumano esse descaso ,digno de ser alardeado aos quatro cantos.
    mais uma vez ,entre tantas ,me sinto envergonhada de ser brasileira.

    Abraços, Bia e Vinni.

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  2. Excelente artigo do Rui Zilnet, tocando numa chaga que nos consome o espírito e nos envergonha... Precisamos de mudança em toda Política indigenista!

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  3. Pois é...depois quando Ongs ou políticos espertinhos resolvem fazer o que o Estado não faz, o povo ainda grita. Se o Estado não ocupa o lugar que deve ocupar, quem o fará?

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  4. Caro Rui Zilnet
    É muito gratificante saber que ainda existem pessoas imbuídas do espírito de preocupação com os menos favorecidos pela sorte, principalmente, pela causa indígena hoje abandonada pelos órgãos responsáveis muito mais preocupados em direcionar verbas polpudas para coisas materiais tais como:PESQUIZAS - MÃO DE OBRA - VIAGENS ESTADUAIS,INTERESTADUAIS E EXTERIOR e muitas outras causas importantes de IDENTICO VALOR, como seria estudar a forma melhor da perpetuação da espécie, daqueles que lhes deram origem para pesquisar, e não ficar FABRICANDO a melhor forma de extingui-los, para ficar com a herança HISTORICA (bens materiais e espirituais) dos GUARDIÇÕES DA FLORESTA! que somente tem servido para os funcionários que aproveitam dos cargos que ocupam!

    Da FUNAI, a maior verba esteve sempre direcionada para o MUSEU DO ÍNDIO , localizado na rua das Palmeiras nº 55 Botafogo, enquanto os índios morrem nas aldeias por falta de assistência. Como se vê: para os funcionário TUDO! e, para os índios NADA!

    Pensando bem, afinal, vão precisar dos índios pra que?!!!
    O MUSEU já esta fortemente abastecido de historia e bens materiais obtidos nas pesquisas no decorrer de décadas e décadas de estudos .

    E por falar em MUSEU, dos gastos totais com as despesas realizadas com passagens aéreas, estadias em hotéis que foram realizadas pela diretoria e seus subalternos, como CIDADÃ BRASILEIRA, gostaria de proceder um levantamento para saber o total bruto dos gastos do citado órgão, dos últimos cinco anos.

    Trabalhando voluntariamente participo na saga dos índios residentes na Casa do Índio desde 1984, tendo acompanhado o grande MUTIRÃO erguido (SEM NENHUMA VERBA DO GOVERNO FEDERAL) com apoio do empresário Manoel Guerra Borges, da guerreira Eunice Cariry, do cacique Deputado Mario Juruna dos funcionários e dos índios e de outros grandes colaboradores.

    DESPEÇO-ME ESPERANDO VISLUMBRAR UMA LUZ NO FINAL DO TUNEL



    Regina Carlini
    PRESIDENTE DA CACIIG
    CNPJ 40.250.706/9991-26
    emai-l(reginacarlini@yhaoo.com.br)
    29 de novembro de 2011 17:51

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  5. Lamentável a situação que se encontra a casa do índio. Fico triste, pois trabalhei lá a vários anos e sou testemunha o quanto esta criatura deu e continua dando seu suor em prol desses índios, esquecendo sua própria vida, enquanto as autoridades só pensam em si. Seu trabalho é muito sério e merece nossos elogios.Espero que as autoridades, tenham um pouco mais de coração e reconheçam o seu mérito. PARABÉNS, CARIRY,voce será sempre eternizada. Estou contigo e não abro. TUPIGÁ

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