15 março, 2012

Os desafios de Pepe Vargas



Por Saulo Bartini

Quem circulou nos últimos meses em Brasília tem uma certeza: a maior bancada do Congresso Nacional nos dias de hoje é a dos parlamentares que querem impingir uma séria derrota à Presidenta. Num quadro como este a nomeação de Pepe Vargas para o MDA não deixa de ser um alento. Resta saber se o novo Ministro vai contar com a paciência e a parceria de Dilma e se – em pouco tempo – conseguirá constituir um time à altura dos desafios colocados para o MDA.

O clima político em Brasília está pesado. Muitos parlamentares se sentem desprestigiados. Outros tantos se sentem traídos e há ainda aqueles que foram derrotados em questões pontuais por ordens expressas da Presidenta. Além disso já é do conhecimento de toda a máquina burocrática de que o “espancamento de projetos” levado a cabo por Dilma inclui também espancar publicamente assessores, ministros e outros subordinados. Com isto instalou-se um clima de medo e paralisia. Ninguém fala, decide ou sugere nada que possa desagradar a Presidenta. E, com isto, muitas decisões fáceis, passam por um critério decisório centralizado e excessivamente demorado. No campo político propriamente dito o quadro também não é bom: Dilma não tem paciência para as costuras, para os acordos menores, para a liberação de emendas paroquiais. E, aos poucos, o que são virtudes poderão se transformar em graves entraves para a nossa Presidenta.

É neste contexto que Pepe Vargas assume o MDA. E, com certeza, assume numa situação privilegiada. Com condições jamais havidas para implementar políticas públicas mas também para incidir politicamente no governo como um todo. Quem conhece Pepe sabe: é habilidoso, trabalhador, e conhece muito do meio político. Resta saber com que velocidade deixará de ser um político conhecido e respeitado no Rio Grande do Sul para se tornar um protagonista da política em âmbito nacional. Mas não há dúvidas: o sentido da escolha de Dilma e do sim de Pepe passa por esta legítima pretensão maior: compor o cenário político nacional e ser – talvez, por que não? – uma alternativa a sucessão do Governador Tarso após um provável segundo mandato deste.

Porém antes que este futuro promissor se abra Pepe vai ter que encarar alguns desafios: como lidar com o tema da Reforma Agrária? Como ampliar e fortalecer a Agricultura Familiar? Como incidir decisivamente no Programa Brasil Sem Miséria? Porque – verdade seja dita – seria injusto cobrar metas de assentamento do ex-ministro Afonso Florence a quem não foram dados os recursos nem os instrumentos para viabilizar assentamentos. E aqui aparece um grande desafio de Pepe: recompor por inteiro o Incra. Em termos de recursos humanos e orçamentários. Pois o ex-ministro pagou um preço enorme por ter aceitado passivamente o controle quase absoluto do Ministro Gilberto Carvalho sobre aquele órgão. Outro desafio de Pepe e que também foi motivo de desgaste de Afonso Florence foi a pouca capacidade de iniciativa em políticas públicas quanto ao Programa Brasil sem Miséria. Mas como viabilizar inserção social produtiva, assistência técnica e crédito onde não há água para beber, quanto mais para plantar como é o caso do semi-árido nordestino? Por fim o tema que mais conquistas trouxe ao MDA: a Agricultura Familiar. Quais são os desafios a serem vencidos para ampliar e massificar um setor médio produtivo, feliz, integrado e moderno que possa sustentar a crescente necessidade de alimentos bons e baratos em nosso país?

A pauta de políticas públicas é grande e desafiadora. A afirmação política do governo Dilma exige também a superação de enormes obstáculos. É nesta hora que Pepe passa a integrar o governo. Que ele possa usar todo o seu talento para consolidar uma gestão que seja motivo de orgulho para todos nós.

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