23 outubro, 2012

Sobre índios, caciques e juízes

por @FFrajola

Foto de FFrajola 

“O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo...Eu quase que nada não sei. Mas desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão mestre –o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo de todos os matos, amém!”

Sim, a citação acima é Guimarães Rosa, em “O Grande Sertão: Veredas”. Me aproprio destas palavras em minha “bios” nas redes sociais, assino pois, embaixo do que o “Cavaleiro da Rosa do Burgo do Coração”(1) decifrou.

Amanheci sob o impacto da condenação, ontem pelo STF, dos “quadrilheiros petistas” e, primeira coisa que leio é o texto de Eliane Brum, na Época, disponibilizado pelo "Escrevinhador" Rodrigo Vianna, que relata o sofrimento dos índios Guaranis-Kaiowás, expulsos de suas terras pela “Justiça”.

Eles, os indigenas, escrevem em sua carta: “Queremos deixar evidente ao Governo e à Justiça Federal que, por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo. Não acreditamos mais na Justiça Brasileira. A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas? Para qual Justiça do Brasil? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós”.

Como um bom “perdigueiro de idéias”, recordo das palavras de um amigo (Deputado Distrital Chico Leite, PT/DF), professor de direito penal, membro licenciado do Ministério Público para exercício de mandato parlamentar: “Os legisladores representam a sociedade que os elege para tal função. Assim, as Leis que criam refletem, em última instância, esta mesma sociedade, com seus valores, virtudes e defeitos”.

Sobre isso, recordo a perfeita análise de Luis Nassif de que, agora, "pós-serra, a luta política se dará na mídia e no judiciário, as últimas trincheiras do conservadorismo". 
Sua afirmação “inegavelmente a oposição saiu do campo político para o campo midiático-jurídico” é um brado retumbante que nos provoca um “choque heterodoxo de realidade”.

Sim, meus amigos. A mesma “justiça” que leva ao desespero uma nação (indigena, ok?) persegue parlamentares do partido que, nos últimos anos, tentou romper com a velha política, que se fazia desde o descobrimento, privilegiando, pela primeira vez o seu povo e não os interesses das “elites”. Ninguém imaginava que seria simples, né?

Voltando a Guimarães Rosa, certamente “viver é muito perigoso”. Mas, acrescento, e temos outra opção melhor, do que viver e lutar pelo que acreditamos? As mudanças que queremos passam necessariamente pela política, sim. Elegendo melhores representantes nos parlamentos, mudaremos as políticas públicas, as prioridades do Estado e, “last but not least”, suas Leis e a aplicação delas pelos Magistrados. Quanto à "velha mídia", nós estamos aqui, nos blogs e na internet, fazendo a nossa parte.

“Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães...O sertão está em toda a parte.” (G. Rosa)


(1) Rosa explicava assim aos seus tradutores a origem de seu nome. “Cavaleiro”, seria o significado de “Guimara”, segundo sua etimologia germânica, acrescido do sobrenome “Rosa”. “Burgo do Coração”, pois natural que era de Cordisburgo, MG.

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O texto de Eliane Brum está também neste blog com o título "Nossa morte coletiva".

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