28 maio, 2013

2013 apresenta sua arquitetura imperial

por Denise Queiroz

Na última sexta-feira apareceu na caixa de correspondência uma linda revista. Recheando a capa com foto de alguma paisagem e letras em alto relevo, matérias bem escritas sobre temas como ‘bem-viver’, entrevista com o prefeito de Porto Alegre, o mercado imobiliário da cidade, sustentabilidade e lançamentos de imóveis.

Um desses imóveis chama a atenção: um novo condomínio em área nobre da cidade... um apartamento com 333 metros quadrados, algumas tantas vagas na garagem e demais benesses de quem almeja viver num cenário tipo Grande Gastsby. Não está anunciado o preço, mas está posta a planta. E na análise dela se vê que o nobre arquiteto faltou algumas aulas básicas ou foi retirado pelos construtores de alguma tumba anterior à libertação dos escravos. 

Foto da suíte e dependência de serviço

O desenho do imóvel mostra uma suíte master - a do casal que sabe-se lá de onde tira dinheiro para comprar tal ‘bem’ – onde só a parte de dormir e vestir tem mais de 37 metros quadrados. O banheiro da suíte, conforme tendência ‘moderna’ de prezar pela intimidade das partes associadas cartorialmente em casamento, é um espaço de mais de 15 metros, dividido em privada e bancada com pia e ducha de um lado, privada e bancada com pia e ducha do outro. Uma meia parede e, unindo as duas privacidades, uma enorme banheira de hidromassagem. Suíte de fazer inveja às instalações residenciais na nobilíssima Petrópolis do século XIX, pois naqueles tempos imperiais, o coroado D. Pedro tinha que andar uns bons 600 metros para banhar-se, na Casa das Duchas.

Essa dependência do casal limita-se por parede (dupla ou tripla, imagino) com a dependência completa da empregada, composta por vastos 3,84 metros no quarto (menor que a cama king size do quarto principal e que a banheira de hidro da suíte) e 2,88 no banho. Um latifúndio para quem passou o dia cozinhando, limpando, arrumando, lavando, dobrando... guardando enfim a imagem ostensiva da nobre família, que precisa de 15 metros para suas necessidades humanas. Ao que parece gente assim também precisa de um lugar – enorme- para mijar, cagar e limpar-se, e não menos que 30 para dormir depois de um dia exaustivo, onde uma das preocupações certamente foi descobrir forma de burlar a legislação para não pagar os 8% de FGTS para ‘aquela empregada’.

Bem vindos, nobres compradores. Parabéns, nobres modernos arquitetos que conseguem desenhar Orwell.

Foto de Marc Ferrez, de Navio Negreiro em 1882



3 comentários:

  1. põe o nome da construtora e do arquiteto.

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  2. Me pedoem, mas eu não entendi.....
    O empregado domestico não dorme mais no serviço. Diarista dorme em casa e mensalista também. Inclusive, de acordo com as novais leis trabalhistas este exiguo espaço é mais do que suficiente para um cochilo após o almoço. Quantas empresas destinam um espaço privativo deste tamanho (incluindo banheiro) para seus funcionários. O tempo de ter senzala em casa é que acabou.

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