01 junho, 2013

É preciso estar atento e forte


"Cría cuervos y te sacarán los ojos"  

por T.G. Meirelles

Lendo o artigo do Prof. Wanderley Guilherme dos Santos no "O Cafezinho" (http://bit.ly/10NVtPj), temo que tenha que constatar não haver nada de revolucionário no governo Dilma. Pelo menos não até agora, e que seja originariamente seu. Se avanços e revoluções se fazem notar é por pura força da inércia, resultado do espetacular embalo oriundo do governo Lula após 8 anos de “pé no acelerador”. Ali, a revolução!

Diferentemente do artigo do prof. Wanderley, o que se revela com o passar do tempo é um retrocesso do atual governo em relação a políticas caras ao PT e ao povo, tais como o tratamento com a mídia, a questão do petróleo, a política de juros, a reforma agrária, dentre outros.

Pode soar conspiratório, mas pense comigo: e se a solução da oposição não estiver nas eleições? (o que, aliás, já sabemos TODOS, não será possível que ganhem no voto). E se a solução para os ideais da oposição for simplesmente ir se infiltrando no governo, ampliando a base aliada, ocupando ministérios, ir comendo pelas beiradas, impondo a pauta da direita e, aos poucos, ficar do jeito que o PIG - ou o diabo, tanto faz - gosta? Um governo possuído, feito um médium incorporado: o corpo e o vestido vermelho da Dilma estão lá, mas a alma é do Ali Kamel! Por que diabos, enfim, ACM neto iria pousar no PDT, aquele de onde veio Dilma?! Um triller, não é?

Enquanto isso, grande parte da chamada “militância nas redes sociais" age feito um cartório, simplesmente carimbando de acertada toda e qualquer atitude do governo, por mais descabida que possa parecer, sem exercer um mínimo de crítica. A militância, na verdade, deveria estar atenta e forte para exigir eventuais correções de rumo, como deixou claro Maurício Caleiro, em imperdível post no Cinema & Outras Artes (http://migre.me/eNyyj).

Com exceção dos “fanáticos da seita” muita gente já está “atenta e forte”, mas muita gente ainda não entendeu o enredo desse samba, confundindo, talvez inocentemente, o alerta à militância com terceiras e ocultas intenções de partidos emergentes por trás dessa visão crítica. Muitos acabam perguntando: "sim, mas e 2014?" Ora, não tem pra onde correr. É Dilma de novo e quanto a isso não se discute. E nem é esse o ponto! (pelo menos, não até aqui…) Não se trata de mudar de partido nem de candidato e sim de postura. Parar de só justificar o governo e passar a exercer o direito à crítica ao governo, coisa que os chamados “fanáticos da seita” nem sequer permitem que se sonhe.

No texto do Caleiro, que mencionei acima, existe a remissão ao post do Matheus Machado (http://bit.ly/136JCis) que começa assim: “Conta uma anedota da política norte-americana que o ex-presidente Franklin Delano Roosevelt certa vez recebeu o sindicalista e ativista negro A. Philip Randolph, ouviu a todas as suas demandas e, por fim, respondeu: ‘eu concordo com tudo que você disse. Agora, obrigue-me a fazê-lo.’”

É isso! É possível (e provável) que Dilma concorde com todas as criticas, mas a militância, o PT, o povo enfim, têm que "obrigá-la"! É o que se vê do final da anedota americana, segundo o mesmo Matheus. O resultado do encontro teria sido uma longa campanha por direitos civis, que culminaria com a organização de uma marcha que, segundo os organizadores, colocaria cem mil negros nas ruas de Washington em 1941. Esse é o recado, principalmente à militância: nós somos povo, estamos com Lula e todos os ideais de liberdade, solidariedade, crescimento e bem-estar para todos, mas estamos atentos e fortes para apontar falhas no processo e exigir correção de rumo, quando necessário. Ignorando eventuais diversionismos, é disso que se trata: a revolução no governo Dilma ainda poderá acontecer, mas não dependerá somente dela.


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