setembro de 2012, arquivo pessoal |
Numa tarde, quando já morávamos na cidade - os irmãos mais velhos já em cidades maiores para estudar - pára um carro na frente. Cidade pequena, todos sabiam quem tinha que carro. O pai lá nos fundos, cuidando da lenha. Fomos, minha irmã e eu avisar que o seu fulano, um vizinho lá de fora que só conhecíamos pelo nome, estava lá. O pai arregalou bem arregalados os olhos azuis, escorou com cuidado o machado e foi andando até a pia para lavar as mãos, que não usava para cumprimentar aquela pessoa.
Na frente da casa soltou um 'buenas' seco e depois um 'pois não'. O outro anunciou a que veio. Alguma rês ferida ou morta, alguma cerca rompida, não lembro. “Vamos, te levo”, disse o vizinho. “lhe agradeço, vou no meu auto”. E o pronome lhe deixava claro o tipo de proximidade que tinha ou queria com o outro. Foram, cada um no seu veículo, acho que resolveram o problema.
E a outra cena que tenho lembrado muito nestes dias é do meu irmão, moleque, chegando correndo em casa num final de tarde, anunciando que o Brasil tinha ganho a copa. Acho que era a de 70. Pulava faceiro na área dos fundos e contava que lá no café e no hotel, lugares que tinha TV e onde todos se reuniam para ‘ver o mundo’, estava a maior festa. O pai olhou pra ele e disse “Muito bem, que comemorem. A vaca ta lá esperando o pasto” (era uma das tarefas desse irmão, cortar o pasto para a vaca que a mãe ordenhava toda manhã).
Conto estas passagens só para esclarecer que não vejo defesa possível para alguém usar favores de pessoas sabidamente desonestas. Assim como não vejo defesa possível para que um evento bilhardário e midiático seja merecedor de tanta atenção e despesa. E nem é a vaca que está esperando o pasto.
Sábias lições de vida, Denise. Bolsos honestos são rasos e estreitos para o "mau dinheiro"...
ResponderExcluirtal qual!
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