A notícia divulgada pelo Estadão sobre estudo mundial da circulação de jornais, mostra que a leitura dos periódicos impressos diminuiu 2% entre 2009 e 2010, mas que ainda atinge 20% mais público que a internet.
Imagino que o estudo seja sério e bem feito, mas a pulga se instalou atrás da orelha. Será tão pequena a queda? Vivo no centro de uma cidade ainda pequena, e quase não uso transporte coletivo urbano. Mas quando viajo para cidades maiores e utilizo ônibus e metrô vejo, nas mãos dos vizinhos, celulares, tablets, net e notebooks. Um que outro carrega um livro e, muitos menos, jornaizinhos, jornalões ou revistas. Só essa observação, já seria suficiente para contestar o estudo, mas vamos além.
Há registro do aumento de 2% na circulação de jornais na América Latina, enquanto na Europa a queda chegaria a 2,5% e nos EUA a 11%. Ok. Os números podem ser relacionados tanto à melhoria das condições econômicas por aqui quanto à melhor propagação da internet por lá, além de retratar, claro, a condição econômica nos decadentes impérios. Mas, será que realmente os latino-americanos estamos lendo mais impressos pagos, uma vez que a pesquisa também registra diminuição da publicação de jornais gratuitos? Ou o público que lia jornais gratuitos por aqui agora estaria pagando para se informar por meio de impressos?
É interessante também confrontar o estudo com a realidade política. A matéria não chega a especificar mas, pelo que li, concluí que, embora tenha passeado por alguns dados qualitativos, teve ênfase quantitativa, de planilha mesmo. E assim ficou de fora a análise que a observação do contraste entre novas e velhas mídias evidencia.
Não tenho dúvidas que, caso tivesse se aprofundado nessa questão, a pesquisa concluiria que, apesar da pequena queda registrada na circulação, a influência que os impressos ainda exercem caiu bem mais que a circulação e que a teoria do agendamento já não se aplica como até pouco tempo. Em termos político-eleitorais, principalmente, a influência das notícias veiculadas pelos jornais, torna-se cada vez menor. Se o inverso fosse verdade, Dilma não teria sido eleita, nem Ollanta Humala, no Peru e tampouco Cristina Kirchner lideraria as pesquisas na Argentina, para re-eleição. Isso só para exemplo rápido - próximos e conhecidos - onde a grande mídia, em bloco, fez campanha de desqualificação desses candidatos, sem repercussão equivalente nas urnas.
Não tenho dúvidas que, caso tivesse se aprofundado nessa questão, a pesquisa concluiria que, apesar da pequena queda registrada na circulação, a influência que os impressos ainda exercem caiu bem mais que a circulação e que a teoria do agendamento já não se aplica como até pouco tempo. Em termos político-eleitorais, principalmente, a influência das notícias veiculadas pelos jornais, torna-se cada vez menor. Se o inverso fosse verdade, Dilma não teria sido eleita, nem Ollanta Humala, no Peru e tampouco Cristina Kirchner lideraria as pesquisas na Argentina, para re-eleição. Isso só para exemplo rápido - próximos e conhecidos - onde a grande mídia, em bloco, fez campanha de desqualificação desses candidatos, sem repercussão equivalente nas urnas.
Me pareceu também intrigante a afirmativa de que os anunciantes preferem meios impressos para divulgação de seus produtos. Confirma o que todos já sabemos: a grande mídia se move acorde com os interesses de quem a faz sobreviver. Mas também deixa a grande questão: se as pessoas que se informam só dedicam aos impressos diários 8% do tempo, os anunciantes não estarão gastando flechas com um arco quebrado?
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Quem influencia? |
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A circulação de jornais no mundo caiu no ano passado, mas ainda assim esse meio de comunicação alcança mais pessoas do que a internet, diz uma pesquisa da Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias (WAN-IFRA, na sigla em inglês).
Os jornais impressos diários tiveram uma queda de 2% na circulação, de 528 milhões em 2009 para 519 milhões em 2010. Esses veículos são lidos por 2,3 bilhões de pessoas no mundo, um número 20% maior do que o 1,9 bilhão de pessoas que a internet alcança.
No mundo, os jornais gratuitos foram os que tiveram uma queda maior na circulação, passando de 34 milhões em 2008 para 24 milhões em 2010.
"A circulação é como o sol. Está subindo no Oriente e caindo no Ocidente", compara o diretor executivo da WAN-IFRA, Christoph Riess. Ele apresentou a pesquisa anual no Congresso Mundial de Jornais e no Fórum Mundial de Editores, em Viena, Áustria.
A pesquisa ateve-se a 69 países que correspondem a 90% do mercado global de jornais em termos de receita de vendas e anúncios.
O estudo apontou as seguintes conclusões:
- Os padrões de consumo de mídia variam amplamente no mundo. A circulação de impressos é cada vez maior na Ásia, mas há queda em mercados maduros no Ocidente.
- O número de títulos está se consolidando globalmente.
- A principal queda está em diários gratuitos.
- Para os anunciantes, os jornais estão mais eficientes e eficazes do que outras mídias em termos de tempo de anúncio.
- Jornais atingem mais pessoas do que a internet. Em um dia típico, jornais alcançam 20% mais pessoas em todo o mundo do que a internet.
- Receitas da publicidade digital não estão compensando a receita de anúncios perdidas na mídia impressa.
- As mídias sociais estão mudando o conceito e processo de coleta e disseminação de conteúdo. Mas o modelo de receita para as empresas de notícias, no segmento de mídias sociais, continua não sendo encontrado.
- O negócio de publicação de notícias exige constante atualização, monitoramento, síntese e edição da informação.
- O novo negócio digital não é o tradicional negócio do jornal.
América Latina em alta
O estudo apontou que a circulação de jornais aumentou na Ásia (7%) e na América Latina (2%), mas caiu na Europa (2,5%) e nos Estados Unidos (11%).
O país em que os jornais têm maior penetração é a Islândia, em que 96% das pessoas leem diários impressos. Em seguida, aparece o Japão (92%), Noruega, Suécia e Suíça (82%), Finlândia e Hong Kong (80%).
Receita
A televisão é o meio que mais obtém receita com anúncios publicitários (US$ 180 bilhões no mundo). Em segundo lugar estão os jornais, com US$ 97 bilhões, a internet, com 62 bilhões, as revistas (US$ 43 bilhões) e o rádio (US$ 32 bilhões).
No entanto a circulação de jornais caiu e a internet cresceu a uma taxa mais rápida do que a televisão.
Na média dos países analisados, as pessoas dedicam à leitura de jornais 8% do tempo que elas destinam a meios de comunicação em geral. Mesmo assim, a receita obtida pelos jornais equivale a 20% de toda a receita dos meios de comunicação.
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