Tradução de Denise Queiroz
Colaboração de Sergio Pecci
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Fazer uma conferência em Howard Zinn é uma experiência agridoce para mim. Lamento que ele não esteja aqui para participar e revigorar um movimento que seria o sonho de sua vida. Pode-se dizer que ele é o responsável por boa parte dos fundamentos que deram origem a ele.
Se os laços e as associações que estão se estabelecendo nestes notáveis eventos se sustentarem durante o longo e difícil período que os espera – a vitória nunca chega rápido – os protestos do Ocupemos poderão representar um momento significativo da história norte-americana.
Eu nunca vi nada como o movimento Occupy, nem em tamanho nem em caráter, nem aqui nem em outra parte do mundo. As lideranças estão empenhadas em criar comunidades cooperativas que poderão ser as bases para as organizações permanentes que serão necessárias para superar as barreiras - que virão - e a reação contrária - que já está se produzindo.
É apropriado dizer que o este movimento não tem precedentes, pois esta é uma era sem precedentes e não só nestes momentos, senão desde os anos 70 que foram uma época decisiva para os Estados Unidos. Desde que se iniciou o país, tivemos uma sociedade em desenvolvimento, não sempre no melhor sentido, mas como um avanço geral até a industrialização e a riqueza.
Ainda nos períodos mais sombrios, a expectativa era que o progresso tinha que continuar. Minha idade me permite lembrar vagamente a grande depressão. Nos meados dos anos 30. Ainda que objetivamente a situação fosse muito mais dura que hoje, o espírito era bastante diferente. Estava recém se organizando um movimento operário militante – com o Congresso das Organizações Industriais (CIO) e outros- e os trabalhadores organizavam greves com plantões, e estavam a um passo de tomar as fábricas e dirigi-las eles mesmos.
Devidos às pressões populares, foi aprovada a legislação de um novo tratado (New Deal) e a sensação dominante era que sairíamos dos tempos difíceis.
Desesperança e desespero
Se os laços e as associações que estão se estabelecendo nestes notáveis eventos se sustentarem durante o longo e difícil período que os espera – a vitória nunca chega rápido – os protestos do Ocupemos poderão representar um momento significativo da história norte-americana.
Eu nunca vi nada como o movimento Occupy, nem em tamanho nem em caráter, nem aqui nem em outra parte do mundo. As lideranças estão empenhadas em criar comunidades cooperativas que poderão ser as bases para as organizações permanentes que serão necessárias para superar as barreiras - que virão - e a reação contrária - que já está se produzindo.
É apropriado dizer que o este movimento não tem precedentes, pois esta é uma era sem precedentes e não só nestes momentos, senão desde os anos 70 que foram uma época decisiva para os Estados Unidos. Desde que se iniciou o país, tivemos uma sociedade em desenvolvimento, não sempre no melhor sentido, mas como um avanço geral até a industrialização e a riqueza.
Ainda nos períodos mais sombrios, a expectativa era que o progresso tinha que continuar. Minha idade me permite lembrar vagamente a grande depressão. Nos meados dos anos 30. Ainda que objetivamente a situação fosse muito mais dura que hoje, o espírito era bastante diferente. Estava recém se organizando um movimento operário militante – com o Congresso das Organizações Industriais (CIO) e outros- e os trabalhadores organizavam greves com plantões, e estavam a um passo de tomar as fábricas e dirigi-las eles mesmos.
Devidos às pressões populares, foi aprovada a legislação de um novo tratado (New Deal) e a sensação dominante era que sairíamos dos tempos difíceis.
Mãe migrante nos anos 30 |
Agora há uma sensação
de desesperança e às vezes de desespero. É algo bastante novo na nossa
história. Nos anos 30 os trabalhadores podiam prever que os empregos voltariam.
Agora os trabalhadores das manufaturas, com o desemprego praticamente no mesmo
nível que durante a grande depressão, sabem que, se continuarem as políticas
atuais, esse emprego vai desaparecer para sempre.
Essa mudança na
perspectiva norte-americana evoluiu desde os anos 70. É uma mudança de direção,
vários séculos de industrialização se converteram em desindustrialização.
Claro, a manufatura continuou, mas nos outros países; muito lucrativo para as
empresas, mas nocivo para a força de trabalho.
A economia centrou nas
finanças. As instituições financeiras se expandiram enormemente. Se acelerou o
círculo vicioso entre finanças e política. A riqueza se concentrava cada vez
mais no setor financeiro. Os políticos, frente aos altos custos das campanhas,
se afundaram mais profundamente nos bolsos de quem os apoiava com dinheiro. E,
por sua vez, os políticos os favoreciam com políticas que favoreciam Wall
Street: desregulamentação, mudanças fiscais, relaxamento das regras de
administração corporativa, o que acabou intensificando o círculo vicioso. O
colapso era inevitável. Em 2008 o governo resgatou as empresas de Wall Street,
que supostamente, eram grandes demais para quebrar, com dirigentes grandes
demais para irem presos.
Agora, para cada um
décimo de 1% da população que mais se beneficiou de todos estes anos de cobiça
e enganos, tudo está muito bem.
1% X 99% |
Em 2005 o Citigroup –
que várias vezes foi objeto de resgate do governo – viu o luxo como uma
oportunidade de crescimento. O Banco distribuiu um folheto para os investidores,
convidava-os a colocar o seu dinheiro em algo chamado índice de plutonomía, que
identificava as ações das companhias que atendem ao mercado do luxo.
E os não ricos foram chamados de precariado: o proletariado que tem um
modo de vida precário na periferia da sociedade. Essa periferia, no entanto, se
converteu numa proporção substancial da população tanto dos Estados Unidos
quanto de outros países.
Assim temos a plutonomia
e o precariado: o 1% e o 99%, como se vê no movimento Occupy. Não como cifras
literais, mas como uma imagem acertada.
A mudança histórica da confiança popular no futuro é um reflexo de
tendências que poderiam ser irreversíveis. Os protestos do Ocupemos são a
primeira reação popular importante que poderiam mudar essa dinâmica.
Centrei nos assuntos internos, mas há dois perigosos fatos na arena
internacional que opacam aos demais. Pela primeira vez na história há ameaças
reais a sobrevivência da espécie humana. Desde 1945 temos armas nucleares e
parece um milagre que tenhamos sobrevivido. Mas as políticas do governo Barack Obama
e seus aliados estão fomentando a escalada.
A outra ameaça claro, é a catástrofe ambiental. Por fim praticamente
todos os países do mundo estão tomando medidas para fazer algo a respeito, mas
Estados Unidos avança para trás.
Um sistema de propaganda, reconhecido abertamente pela comunidade
empresarial, declara que o câmbio climático é uma enganação dos setores
liberais. Por que deveríamos dar atenção a esses cientistas? Se continuar essa
intransigência no país mais rico e poderoso do mundo não poderemos evitar a
catástrofe.
Occupy pode ser embrião das mudanças
Caos e esperança |
Deve-se fazer algo de forma disciplinada e sustentável. E pronto. Não vai ser fácil avançar. É inevitável que haja dificuldades e fracassos. Mas, a não ser que o processo que está ocorrendo aqui e em outras partes do país e do mundo continue crescendo e se converta numa força importante da sociedade e da política, serão exíguas as possibilidades de um futuro decente.
Não se podem lançar iniciativas significativas sem uma base popular
ampla e ativa. É necessário sair por todo o país e fazer as pessoas entenderem do
que se trata o movimento Ocupemos, explicando o que cada um pode fazer e que conseqüências
teriam o não fazer nada.
Organizar uma base assim implica educação e ativismo. Educar o povo não
significa dizer em quem devem acreditar, significa aprender dele e com ele.
Karl Marx disse: A tarefa não é somente entender o mundo, senão
transformá-lo. Uma variante que convém ter em conta é que, se queremos mudar o
mundo, temos que entendê-lo. Isso não significa escutar uma palestra ou ler um
livro, se bem que isso ajuda. Se aprende ao participar, se aprende dos outros,
se aprende das pessoas a quem queremos organizar. Todos temos que alcançar
conhecimentos e experiências para formular e implementar idéias.
O aspecto mais digno de entusiasmo do movimento Ocupemos é a construção
de vínculos que está ocorrendo em todas as partes. Se puderem se manter e
expandir, o movimento poderá dedicar-se a campanhas destinadas a encaminhar a
sociedade para uma trajetória mais humana.
Aqui a primeira parte da palestra de Chomsky em Boston.
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