12 outubro, 2011

Pequena história do diabo

Texto de João Nildo Bezerra
Edição de Denise Queiroz
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 Lúcifer 
 * Diabolu Deus Inversus Est!

Neste pequeno e despretensioso artigo não se pretende refazer o que, necessariamente, seria uma densa Biografia deste enigmático personagem, Lúcifer, "O portador da luz", símbolo máximo do nosso pensamente dualista, a eterna sombra de Deus, caído em desgraça, revoltado por razões até hoje não bem explicadas.
Ele já foi representado no 1º Testamento como A SERPENTE ENGANADORA que tentou Eva (Genesis) O BODE ESPIATÓRIO enviado ao deserto para morrer (Levítico), O ESPÍRITO MENTIROSO enviado por Deus para falar pela boca dos profetas, enganar o Rei de Israel e levá-lo a morte (Reis), trabalhando a serviço de Deus, a ESTRELA DA MANHÂ, diz o profeta Isaías, subiu tão alto aos céus e na queda precipitou-se no abismo, formoso e orgulhoso querubim ungido, perfeito em todos os caminhos até nele ser encontrado iniqüidade.
Aplicando ao justo aquilo que já foi chamado de TEOLOGIA DO SOFRIMENTO, estamos falando de Satanás, Lúcifer, o calcanhar de Aquiles de Deus.


Cena de A Divina Comédia


Na teopoética de Dante de Alighieri, na Divina Comédia, encontramos uma descrição de Lúcifer com profusão de detalhes e o que surge diante de nós é um personagem muito menos diabólico do que estamos acostumados a ver nas obras literárias e nos filmes.


Percorrendo com Dante e Virgílio seu caminhar pelo inferno, as figuras só se fazem nítidas com a proximidade. Virgílio sai da frente de Dante para mostra-lhe a figura que foi de todas a mais bela. À frente está Lúcifer que Virgílio nomeia "Dite" nome pagão do rei dos infernos, mais adiante será nomeado Belzebú, (Senhor das moscas) um de seus nomes mais famosos, e aqui fazemos uma pausa para refletirmos sobre a variedades de nomes que o diabo colecionou e coleciona até hoje.


DIABO, de origem grega que significa acusador, caluniador.
SATÃ, da tradição Hebréia que significa inimigo, adversário.
DEMÔNIO, de origem grega, "daimones" faz referência a pluralidade de acompanhante etéreos.


Cavalgada -  Carybé 


Aproveitamos e vamos ao GRANDE SERTÃO VEREDAS e vemos o narrador criado pelo ROSA nomear o "Cramulhão, O arrenegado, O galhardo, O tisnado, O temba, O coxo, O coisa ruim." 


Voltando a Divina Comédia vemos Virgílio incitar seu discípulo, "CORAGEM" e vemos o temido Diabo descrito pelos olhos de Dante: "Que o vê como um ser gigantesco cuja feiúra apresenta-se tão horripilante que o faz pensar como fosse sua beleza antes da queda".

A feiúra de Lúcifer não causa tanta surpresa quanto sua descrição com três caras assim descritas por Dante "A da frente era vermelha e as outras duas que apareciam dos lados, a da direita era nem branca nem amarela, mas de uma cor intermédia. A da direita é descrita por comparação a cor da pele de habitantes de uma determinada região do Nilo que os comentarista relacionam a Etiópia.


A interpretação mais aceita para as três caras de Lúcifer seria um contraponto a representação da trindade em seu dogma do Deus uno e trino, a cara vermelha faz o contraponto ao amor, sendo a representação do ódio, a cara branco-amarelada faz o contraponto a sabedoria, representando a ignorância; já a cara negra representaria um contraponto à potência divina, representando a impotência.
Vemos aí o contraste Deus-Lúcifer, Lúcifer como uma contra face negativa de Deus, o BEM E O MAL.


Assim sendo, os versos da DIVINA COMÉDIA remetem a questões atualíssimas a propósito da responsabilidade da criação do mal e da definição de Stº Thomas, estabelecendo o mal como a ausência do bem.

Dante e Virgílio diante da entrada do inferno


"Deixai aqui toda esperança, vós que entrais" 
Inscrição no frontispício do portal de entrada do inferno.
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 *Links das imagens nas legendas

Um comentário:

  1. Agostinho (354–430 d.c.) já considerava o Mal como algo não substancial, algo sem essência. Pura negação do Bem, este sim substancial. Em Agostinho, o Mal é fruto do livre-arbítrio humano e não uma criação de Deus.

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