Gilberto Maringoni
O troféu |
Luiz Fernando Emediato, 59, está exultante. A privataria tucana, de Amaury Ribeiro Jr., lançado há uma semana por sua Geração Editorial, esgotou a primeira tiragem de 15 mil exemplares em 48 horas. Uma nova fornada de 30 mil está a caminho. Saudado com um silêncio ensurdecedor pela grande mídia, a obra faz uma devassa nos porões da venda do patrimônio público durante os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2003). E mostra, com farta documentação, as idas e vindas de comissões, favorecimentos e propinas que fizeram a fortuna de poucos felizardos que gravitavam em torno do PSDB.
Ao mesmo tempo, a obra não pode ser acusada de estar a serviço do PT. A agremiação de Lula sai chamuscada do livro em pelo menos dois episódios: o grande acordo que acabou com a CPI do Banestado, em 2003, e o comportamento de alguns dirigentes, durante a campanha presidencial de Dilma Rousseff, em 2010.
Emediato é um veterano da imprensa e um prolífico escritor. Criou o Caderno 2, no Estado de S. Paulo, em 1986, foi diretor executivo de jornalismo do SBT, entre 1988 e 1990 e tem vários volumes de contos publicados. Nesta entrevista, ele comenta a obra de Amaury e fala de bastidores de seu lançamento.
Carta Maior – Por que o senhor decidiu lançar "A privataria tucana"?
Acompanho o Amaury há muito anos e sempre admirei sua coragem e seu trabalho. Sabia que ele preparava um livro sobre as privatizações, mas não tinha idéia do que era. Ouvi falar disso tantas vezes, que até parecia lenda urbana. No ano passado, aconteceu aquela história da campanha da Dilma, que a imprensa repercutiu muito. Diziam que o Amaury estava envolvido na produção de um suposto dossiê contra o candidato José Serra. Eu não acreditei, pois ele é um repórter policial, um repórter investigativo premiado e, acima de tudo, uma pessoa íntegra. No final da campanha, liguei a ele e quis saber se o livro de fato existia. Ele retrucou: “Não apenas existe, como está pronto”. Aí resolvemos editá-lo.
Carta Maior – O senhor imaginava esse sucesso todo?
Quando eu preparava o material, me deparei com uma quantidade incrível de documentos e percebi que estava diante de uma bomba maior que supunha. Era um best-seller instantâneo! O problema é que as livrarias procuradas pouco antes do lançamento não acreditaram. Eu queria lançar 50 mil exemplares, mas os livreiros não botaram fé. Então tirei 15 mil, que se esgotaram em 48 horas! Até sexta-feira, mais 30 mil chegam às lojas. Acho que é um livro para mais de 200 mil exemplares. Depois das acusações e calúnias contra ele, o Amaury está lavando a alma...
Carta Maior - Quais foram os mais vendidos de sua editora até agora?
Pela ordem, foram Honoráveis bandidos, do Palmério Dória, sobre o clã Sarney, que vendeu 120 mil, Memória das trevas, de João Carlos Teixeira Gomes, contando a vida de Antonio Carlos Magalhães, com 70 mil, e Operação Araguaia, de Taís Morais e Eumano Silva, sobre a guerrilha, com 60 mil. É importante frisar que o livro do Palmério vendeu isso tudo em um ano. É um fenômeno. Mas acho que Privataria vai ultrapassar esse número.
Carta Maior – A grande mídia até agora silenciou sobre o lançamento. Por que?
Acho que esse silêncio será rompido em breve. As redes sociais, os blogues e portais independentes deram ampla divulgação ao livro. Não se trata de um dossiê, mas de jornalismo investigativo sério. Tenho amigos do PSDB, que são amigos de José Serra. Devem estar decepcionados. Paciência. Quando foram revelados os crimes de Stalin, também houve muita decepção. É uma verdade incômoda, que enche de nódoa um político sério e um economista competente, como o Serra. Mas esta é uma situação constrangedora. Na verdade, ele não tem um envolvimento direto com os crimes, pois se trata disso, de crimes! É sempre a filha, o genro, um assessor, ou um companheiro de partido... Resta a ele vir a público dizer que não sabia de nada. Mas falar que não sabia das movimentações milionárias da filha é algo difícil de acreditar...
Carta Maior – O PT também sai chamuscado no livro...
Não vejo ninguém do PT fugindo do livro. O que há é uma conspiração de um grupo dentro da disputa interna de poder. Isso está na parte “PT contra PT”, porque o autor foi alvo de uma denúncia sórdida de que estaria produzindo dossiês de campanha. Ele agora está se defendendo. E esperou a campanha terminar para contar essa história.
Carta Maior – Jornalismo vende bem?
Eu trabalhei na grande imprensa até 1990 e tenho grande orgulho de ter publicado este livro. Amaury fez o que os jornais e revistas deveriam fazer: jornalismo investigativo. Isso é muito diferente de um repórter receber um dossiê na redação de um grupo que quer destruir outro, seja grupo político ou econômico. Isso não é jornalismo! São as máfias instrumentalizando a imprensa. O livro é investigação e apuração. Ele pode ter falhas. Aliás, quem descobrir algum equívoco ou erro nele, peço que entre em contato conosco, para que possamos corrigir em futuras edições.
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