02 fevereiro, 2012

Quanto vale a dignidade humana?

Foto: O Vale

Do Brasil de Fato
por Dora Martins*

Os gastos da Prefeitura por cada animal que foi retirado do Pinheirinho é quase o dobro do valor da bolsa aluguel paga às famílias 


Chega às raias do escárnio, ou da piada de mau gosto: Um cão de estimação deixado por seu dono, no terreno do Pinheirinho, vale R$ 900,00 por mês, para a prefeitura de São José dos Campos, enquanto cada família desalojada de seu lar, sem eira nem beira, é agraciada com míseros R$ 100,00, da mesma Prefeitura. É o que está no site do Uol, para quem quiser conferir.

Então, para o administrador público, o princípio da dignidade humana tem seu preço. Vejam lá: as famílias despejadas de suas casas no Pinheirinho, em São José dos Campos, estão em abrigos, perambulam pela cidade em busca de imóveis, cujo preço do aluguel não é inferior a R$ 800, na média. Não tem eira, nem beira, nem fiador, e, pois, não encontram quem os queiram como inquilino. Como ajuda humanitária começaram a receber do governo do Estado, a título de bolsa aluguel, o valor caprichado de R$ 400,00. A prefeitura de São José dos Campos, também tão solidária, contribui com R$ 100,00, para essa tal bolsa aluguel. E, assim, somando-se tudo, cada família receberá nos próximos seis meses R$ 500,00/mês, para pagar um aluguel. Sem esquecer que muitos terão que comprar seus bens móveis para substituir o que ficou sob as pás dos tratores que limparam o terreno.

Ao mesmo tempo, o município de São José dos Campos, a fim de evitar propagação de doenças, abrigou os 240 animais que foram deixados no Pinheirinho e, como não havia vagas suficientes no canil municipal, os cães estão muito bem alojados num canil particular, chamado Animalis, que cobra preço de mercado, em torno de míseros R$ 30,00 por dia, por animal, ou seja, coisa de R$ 900,00 por mês, por cada bichinho. Defensores dos animais podem ficar descansados: nota da prefeitura garante que "os animais estão recebendo cuidados veterinários, alimentação, vermífugo e vacinas". Já as crianças e idosos que foram arrancados de suas casas, por certo, não estão tão bem. Deve haver criança sem alimentação balanceada, sem cama confortável, sem escola e com verminose. E a Prefeitura, que usa dinheiro público de modo atabalhoado, para dizer o mínimo, ante o reclamo das famílias que sentem preconceito e rejeição na hora de alugar um imóvel, está oferecendo a quem quiser uma "carta de referência". Referência de quê?

De que são gente, de que, apesar dos pesares valem mais que um cão, de que dignidade, de que merecem morar e pagar um aluguel com os quinhentos reais?! Se a notícia é mesmo verdadeira, é escárnio e deboche que ferem ostensivamente a dignidade humana. Se assim for, o município de São José dos Campos e o Estado de São Paulo têm que responder por isso. 


*Dora Martins é integrante da Associação Juízes para a Democracia.

Leia também:
Abrigo de cães: R$ 7 mil por dia


3 comentários:

  1. Vocês estão reclamando de que?
    O ser humano as vezes se assusta quando olha no espelho...

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  2. As pessoas é vitima de uma ação criminosa de que governa e administra esse país.
    As pesquisas reiteram a cada rodada que as classes subalternas têm respondido com apoio e votos às políticas sociais do governo.Onde o governo LULA está mais presente é ali onde, proporcionalmente, tem crescido seu eleitorado. Desmentindo o argumento de que o governo falha em suas promessas de campanha.
    As oposições e os descontentes da esquerda também o acusam de trair sua base popular de origem.
    Alternativamente, conservadores e progressistas descobrem motivo de congraçamento entre si na crítica ao suposto paternalismo governamental, que seria a razão da aquiescência das massas antes que da promoção de sua consciência cívica e autonomia política. Como é natural, não se há de responder com imperfeições terrenas às exigências do mundo platônico das idéias.
    Equivalente ideal de pureza orienta os murmúrios de insatisfação quanto ao funcionamento das instituições legislativas, maculadas que estariam por operadores corruptos, por vícios simultâneos de origem e decrepitude, além de repetidas manifestações do insultuoso hábito de legislar em causa própria.
    O Brasil real é complexo, pleno de deficiências e de linhas de força, não está representado na rede para-ideológica de informação, tomada de assalto pelo brasilianismo.

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  3. Segundo Frei Betto, "Governo é que nem feijão: só funciona na panela de pressão."
    Forte abraço!
    sérgio

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