21 maio, 2012

Casa de Leitura da Reforma Agrária premiada no RS


Por Vanessa Ramos
Da Página do MST


Ainda que a passos lentos, a simples leitura de um livro ou de um conto tem transformado a vida de crianças do Assentamento Filhos de Sepé, no Rio Grande do Sul.

Por meio de um projeto “O Conto no Assentamento Filhos de Sepé”, desenvolvido pelo Instituto de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), crianças tem tido contato com obras literárias brasileiras e em espanhol em um meio, historicamente, com pouco acesso a informação, a área rural.

Segundo a coordenadora do projeto, professora Graciela Quijano, “O Conto no Assentamento de Sepé” é uma experiência concreta de desenvolvimento de uma relação cultural criadora e diversificada no meio rural, especificamente, em um assentamento do MST.

“O grande objetivo é fazer com que a leitura, a busca por novos aprendizados e um maior usufruto dos bens culturais, façam parte do cotidiano do assentamento”, disse Graciela.





O projeto, que existe há 14 anos, já rendeu reconhecimento profissional à Graciela Quijano. Ela recebeu o prêmio “Machado de Assis”, da Academia Brasileira de Letras; o “Viva Leitura”, dos ministérios da Educação e Cultura.

Em abril, o projeto recebeu o título “Amigos do Livro”, uma homenagem realizada pela Câmara Rio-Grandense do Livro.

Iniciado apenas com atividades de contação de histórias em português e espanhol com crianças, o trabalho foi se desdobrando no sentido de atender a toda a comunidade assentada e a todas as faixas etárias. Cerca de oito alunos do curso de extensão do Instituto de Letras da UFRGS participaram do projeto inicial.

De acordo com Graciela, as atividades do projeto começaram no Assentamento 13 de Maio, em Charqueadas, interior do Rio Grande do Sul. Mas a continuidade do trabalho foi dificultada pela distância. Entretanto, para não interrompê-lo, o trabalho foi redirecionado para o acampamento na estrada do Cocão, município de Viamão, no Rio Grande do Sul.

Literatura no acampamento

Na época, havia um grande número de crianças vivendo em um reduzido e insalubre espaço de terra, de topografia íngreme, sem água encanada nem luz elétrica. No entanto, no meio dos barracos de lona preta, havia um destinado à biblioteca, com a indicação do seu horário de funcionamento.

Além disso, em outros dois barracos funcionava uma sala de aula, a Escola Itinerante. “Foi nesse local de escassos recursos materiais, mas de importante preocupação com a educação, que o nosso grupo de alunos de graduação, leitores e contadores de histórias, se solidificou e se constituiu como projeto propriamente dito, dando frutos até hoje”, relembrou a coordenadora.



Em 1999, a poucos quilômetros da UFRGS, em Águas Claras, também município de Viamão, a 30 km de Porto Alegre, trabalhadores rurais conquistaram uma área de 9 mil hectares, que deu origem ao assentamento Filhos de Sepé, para onde o projeto migrou.

Durante três anos, as atividades do projeto de extensão foram desenvolvidas no próprio assentamento, onde moram, aproximadamente, 500 famílias, distribuídas em quatro setores. “Nós visitamos os diferentes setores e permanecemos em cada um deles com atividades de estímulo à leitura, junto às crianças, aproximadamente oito meses”, contou Graciela.

As atividades se desenvolveram aos sábados pela manhã, em galpões, capelas, barracos ou, simplesmente, embaixo das árvores, isto é, espaços não-formais convertidos em lugares da cultura associada ao lazer.

O comparecimento espontâneo das crianças e dos jovens, segundo Graciela, sempre favoreceu a criação de um ambiente de muito interesse e participação, o que possibilitou um relacionamento harmônico entre os contadores dehistórias, promotores da atividade lúdica e os filhos dos assentados.

Atualmente, o projeto deu origem a biblioteca Casa da Leitura, um espaço onde se desenvolve todos os tipos de atividades culturais possíveis e de interesse das famílias assentadas. Hoje, a Casa conta com mais de mil livros de todas as categorias e oferece várias oficinas, dentre elas: fotografia, culinária, teatro, reaproveitamento de sucatas, e capoeira.

Para Graciela, ainda hoje existem muitos outros latifúndios que precisam ser rompidos e redistribuídos, como o latifúndio do saber, da cultura e das artes. “Juntos, todos devem ajudar a continuar construindo esse espaço que é tão bonito, que foi construído com tanta dedicação e carinho e que certamente servirá de exemplo para outros assentamentos e acampamentos do Brasil”, desabafou.



Um comentário:

  1. Adorei o projeto, sou aluna de biblioteconomia e gostei da ideia, vou pensar meu TCC neste tema.

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