28 junho, 2012

Social para quem? Democrático onde?

Por Denise Queiroz
Colaboração de Sergio Pecci
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Conheci São Paulo na década de 90. Leitora de Asterix, a primeira impressão foi “esses paulistas são uns loucos”, pois entrando na cidade, no limite da velocidade permitida na marginal, o povo que vinha atrás esquecia a mão na buzina, como se estivéssemos a 30 por hora. Com o mapa à mão, saímos no primeiro caminho - pois sempre os há - e andamos por vias menos rápidas para ir até o hotel. Lá chegando, no centro velho, a impressão foi mudando, e essa é a que carrego. Depois disso voltei algumas vezes e sempre a frase “da grana que ergue e destrói coisas belas” toma vida.

Chegando de avião a imagem é que toneladas e toneladas de concreto foram semeadas e brotam como erva ruim, sem respeito ao humano limite que a sobrevivência impõe. Mas andando pelos lugares onde ando, tudo parece arrumadinho e bem cuidado, as pessoas são gentis, embora sempre veja, como em qualquer cidade, ruas esburacadas, calçadas quebradas, lixo que não é recolhido, etc. Detalhes (e o diabo mora neles) que denunciam a imperfeição de que somos feitos...  E sim, também vejo moradores de rua, gente vendendo de poemas a flores nas portas dos bares, gente pedindo uma moeda para alguma necessidade. Nada muito diferente do qualquer cidade neste país, que sempre foi tão desigual e, por isso, não causa estranhamento.

Quando se vota em alguém para administrar, seja o prédio ou o conselho de pais da escola, queremos alguém que dê conta de, com nossa ajuda, resolver desde as situações mais comezinhas até apontar e tentar mudar estruturas que em sua base estejam minadas. Certo? Parece que em São Paulo não se pensa assim.

O prefeito atual é herdeiro indireto de Paulo Salim Maluf através de Celso Pitta, por mãos de quem entrou na administração, e depois, de José Serra, de quem diretamente herdou a prefeitura. O que presenciamos denuncia o que isso significa.

A política atual na administração de São Paulo é o higienismo. O que se aplica (e em algumas outras cidades) não é aquele que foi praticado no século XIX na Europa, quando o termo foi cunhado, contemporâneo à descoberta de que os microorganismos são os responsáveis por grande parte das doenças e, por isso os poderes públicos atentaram para a necessidade de saneamento, limpeza urbana, arejar as cidades, enfim, quando se descobriu que sujeira traz doenças.

Esse que se pratica numa das maiores cidades do mundo, e pior, com apoio de parte da população que elegeu o atual prefeito, é semelhante àquele que os regimes mais horrorizantes da história aplicaram. E coincidência ou não, os partidos que o sustentam sempre tiveram o termo 'social' em alguma parte. O Partido Nacional Socialista alemão, que levou Hitler ao poder e, cujo nome se aparenta ao recém nascido Partido Social Democrático, do prefeito Kassab, é um exemplo.

Social para quem? Democrático onde?

Ao ameaçar enquadrar administrativa e criminalmente entidades que atendem in loco à população de rua da região central de São Paulo, o prefeito e seus aspones descumprem a Constituição Federal, que prevê assistência social a quem necessite. Não, não está na Constituição que essa assistência deva ser prestada em locais pré-determinados, em endereços desconhecidos, onde as mazelas históricas possam estar ocultas. 



Quem necessita de assistência social é porque é a ponta mais longínqua nas políticas excludentes que tanto aprazem certa sociedade, que da necessidade mal conhece a palavra, mas que se beneficia da ignorância e da fome, nas urnas e para ascender ao poder, e ainda assim quer escondê-la, em nome de uma imagem “mais limpinha”, dos possíveis investidores ou turistas estrangeiros, que lêem na imprensa internacional “o bem que o Brasil está”. 

E sim, pelo que leio por aqui e por ali, esse é o caminho que alguns governantes estão tomando aceleradamente, um caminho mais rápido, certamente beneficiando a alguns amigos. 



Tal qual foi feito no Rio de Janeiro, onde um muro aparentemente transparente - mas onde estão jateadas as maravilhosas paisagens da cidade e que chamam mais a atenção do que está por trás - foi colocado acima dos guard-rails da linha vermelha, a via expressa que liga a zona sul ao aeroporto. Assim se escondem as favelas que historicamente “enfeiam” o caminho pavimentado pela imoralidade administrativa. Tal qual em São Paulo o ‘socialista’ Kassab tenta esconder a parte mais frágil da podridão política espelhada nos cristais da paulista... tal qual as cortinas de ferro escondem os espelhos, quando a noite cai.


Foto do blog Vocábulo Disperso






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Um comentário:

  1. Denise e Sergio,
    texto muito bom e vocês foram especialmente felizes na comparação com o Rio de Janeiro, pois é exatamente o que ocorre em São Paulo. Empurram o que incomoda para as periferias - no caso do Rio para os morros - colaborando com a desigualdade social e consequente violência. Aguardaremos UPPs?

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