21 maio, 2012

Desafios à organização sindical

Patrícia Benvenuti 

Canteiro de obras do Maracanã, no Rio de Janeiro Foto: Rogério Santana/Gov RJ 

Mobilizações evidenciam descompasso entre base e sindicatos

As recentes mobilizações de operários em grandes projetos também trazem discussões a respeito da organização dos trabalhadores e sua relação com as entidades sindicais. O professor de Ciência Política da Universidade do Estado da Bahia, Milton Pinheiro, vê com otimismo esses movimentos. Ele lembra que, ao lado dos professores, os trabalhadores da indústria da construção têm protagonizado as maiores e mais importantes greves dos últimos anos no Brasil.

Para ele, a busca por melhores condições de trabalho, aliada a uma pauta especifica de reivindicações, tem contribuído para criar um ambiente de politização nos canteiros de obras.

“Isso demonstra um avanço das lutas coletivas. Com a força da paralisação, esses conselhos de obras estão avançando em um grau de politização e de enfrentamento também”, avalia.

No entanto, o professor alerta que, apesar dos avanços, esses movimentos ainda não conseguem sair do imediatismo.

“É uma luta muito importante, muito justa, mas que não está tendo a repercussão política do ponto de vista de classe”, afirma Pinheiro, que vai além: “Quem está dirigindo esse processo são forças atrasadas, corporativas, que não saem da luta imediata”.


Dificuldades

Para o integrante da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, Atnágoras Lopes, o principal problema hoje é o distanciamento das entidades sindicais em relação à base.

“Há um afastamento do cotidiano desses trabalhadores a tal ponto que, quando as lutas surgem, é por iniciativa própria, de maneira espontânea”, diz.

O vice-presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e da Madeira filiados à CUT (Conticom), Claudio da Silva Gomes, admite que há dificuldades na relação entre operários e sindicatos.

Um dos principais fatores, segundo ele, é a alta rotatividade dos profissionais, que não permanecem mais do que seis meses ou um ano em cada obra. Conhecidos como “trecheiros”, esses trabalhadores circulam por várias regiões do Brasil, sempre em busca de melhores salários e condições de trabalho. “Você não consegue construir, com eles, uma pauta passo a passo, gradativamente”, explica.

Já o integrante da Executiva da Federação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada (Fenatracop), ligada à Força Sindical, Bebeto Galvão reconhece que um dos problemas enfrentados é que muitos sindicatos ainda não conhecem a base e, com isso, as ações resultam de forma descoordenada.



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