06 maio, 2012

O bandido e a revista

Quem já trabalhou em jornal (tv ou rádio) sabe que vez por outra nos chegam às mãos denúncias. Nem sempre quem as faz é exemplo de ética, mas essas informações, não raro, servem como pontapé inicial para sair atrás e algumas vezes aquela conversa, ou papel, vira uma boa matéria, que traz a público o que muita gente nem gostaria ... Acontece e é ético. Mas saber do mau caráter de alguém, e dos interesses que essa pessoa tem com a publicação de algo,  e usar essa pessoa como fonte de capas e capas de um dos maiores - e até poucos anos atrás respeitado - veículo de comunicação do país, é o quê?

Assista reportagem apresentada pela Record, com gravações feitas pela PF, mostrando a relação promíscua entre o bandido e a revista.
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Do R7




O jornalístico da Record teve acesso às gravações de telefonemas entre o bicheiro Carlinhos Cachoeira, preso acusado por 15 crimes de contravenção, o diretor da revistaVeja em Brasília, Policarpo Júnior, e mostra o esquema em que o contraventor controlava o que seria publicado na principal revista da editora Abril.

Os documentos a que o Domingo Espetacular teve acesso com exclusividade trazem provas de que as informações trocadas entre Cachoeira e o diretor da Veja resultaram ao menos em cinco capas da revista de maior circulação do país.

As gravações registram ainda que a influência esbarra em outras esferas do poder, como na pressão para demissão da cúpula do Ministério dos Transportes, que havia se desentendido com um dos aliados do contraventor, a construtota Delta. Por meio do que Cachoeira passava para ser publicado na Veja, vários funcionários do ministério foram afastados.

Cachoeira se orgulha de “plantar” notícias na Veja em benefício próprio e sabe até quando determinadas matérias sairão.  

A revista ainda não se manifestou com clareza em relação ao caso. O diretor de redação da Veja, Eurípedes Alcântara, publicou na Internet artigo sem citar nomes em que afirma que “ter um corrupto como informante não nos corrompe”.

A reportagem do Domingo Espetacular ouviu especialistas, que registraram grave problema ético no tipo de jornalismo praticado pela Veja diante de tantas ligações criminosas.
O professor Laurindo Leal Filho, da USP, avalia que o controle da publicação não pode ser da fonte.
— O jornalista pode e deve falar com qualquer tipo de fonte desde que tenha o controle sobre a publicação e a matéria que ele está fazendo. Quando ele oferece à fonte o controle (...), ele rompe os limites éticos.
O presidente da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas), Celso Schroder, critica o envolvimento da Veja no escândalo do Cachoeira.
— Nesse caso, houve uma relação promíscua muito intensa, unilateral.
O deputado federal Fernando Ferro (PT-PE) acredita que a CPI do Cachoeira, que começou os trabalhos na semana passada em Brasília, deve convocar não apenas o jornalista Policarpo Júnior, mas também o responsável pela editora que publica Veja, Roberto Civita.
— Na minha opinião, ele é o principal responsável. Ele é o dono dessa revista, e ele operou com vontade.


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